Annya acordou tão cedo que ainda era noite. O quarto escuro, a luz que entrava pela janela, ainda sem cortinas, era a única claridade. Mas já era domingo. Ainda era domingo. Um domingo inteiro que ela teria sem água e sem energia. Todos os planos de limpeza e organização se desfazendo, muitos pensamentos e um checklist para o primeiro dia de casa nova, sendo completamente evaporado. A única coisa que ela ainda não conseguia evaporar era a lembrança e o constrangimento que passou no dia anterior na casa de seus novos vizinhos.
Ótima primeira impressão.
Era estranho, a princípio, a primeira vista, Annya teve uma impressão tão diferente de Joel. Um homem que aparentou ser tão gentil, tão atencioso, sem mencionar, é claro, na beleza e calor que ele exalava. Quase inebriante. Quase um homem que estava a um passo de aniquilar com todos os seus neurônios e te deixar burra.
Para um salto tão brusco, e se mostrar totalmente idiota. E se Annya realmente tivesse feito o que a mente poluída dele imaginou?! Qual o problema? As pessoas não fazem isso, o tempo todo? Ele não faz isso? Precisava julgar de forma tão grotesca? Como se ela se vendesse por um banho?! Tenha dó.
E por falar em banho. Annya se levantou balançando a cabeça tentando disseminar os pensamentos de Joel. Com raiva e revirando os olhos. Ela tentava se justificar, afinal imprevistos acontecerem, certo? Mas neste caso, pareciam sinais. Quando Annya teve coragem de assinar sua carta de demissão, todos pensaram que ela havia enlouquecido. Nova York causava isso nas pessoas, um surto de meia idade que a grande maioria seguia o carrossel e outros vendiam tudo que tinham compravam um motorhome e viveriam a vida viajando longe do monstro capitalista. Pensaram que esse ela estava nesse ponto de partida da vida.
Só alguém maluco ou em crise, pediria as contas de um emprego tão sonhado, com um salário tão bom quanto o esperado, em uma cidade onde nada é nem ninguém dorme, vivendo uma vida que muitos matariam e morreriam para ter, para jogar tudo para o alto, enfiar uma vida dentro de um caminhão de mudanças, atravessar quase cinco estados e se enfiar em uma cidade cheia de cowboys, cercada por um verde quase sufocante.
A crise até poderia ser verdade. Mas a maluquice não. Nova York engole você aos poucos, roendo pelas beiradas, e quando você vê, nada mais faz sentido. É estranho quando você quer tanto algo, e quando você consegue, quando você chega em seu objetivo, talvez nem fosse exatamente aquilo que você precisasse, ou o sentimento que você esperava ter, não é exatamente o que você pensava que sentiria.
A verdade é que, Annya sentia falta de casa. Annya queria um lar. E ela não se sentia em casa em Nova York, mesmo com tudo que ela poderia ter, mesmo com tudo que ela pudesse preencher os pequenos espaços vazios, nada realmente a deixava se sentir em casa.
Para começar o dia, Annya precisaria de café. Foi por isso que ela abriu desajeitadamente as caixas que estavam empilhadas no quarto - ela havia etiquetado as caixas, com "cozinha" coisas da cozinha, "banheiro" coisas do banheiro, "quarto" as roupas e quinquilharias, e assim por diante - apenas para que pudesse sair o mais apresentável possível, e caminhar até a primeira cafeteria, ou até as pernas falharem.
Também aproveitou para conhecer o bairro, e se orientar de onde tudo ficaria até conseguir um carro.
Fez a compra do básico, já havia pensado em falar com o vizinho em passar pelo muro uma mangueira - ela não ficaria sem banho, nem que fosse banho de gato - e depois dividir as despesas. Ela riu sozinha, enquanto caminhava, em Nova York ela nunca nem se quer conheceu o seu vizinho ou vizinha. Em seu segundo dia em Austin estava planejando dividir a conta de água com seu vizinho.
A região era boa, havia uma boa loja de conveniência, posto, mercado, comércios locais, e ao avistar a loja de materiais de construção, foi como um holofote divino tivesse sido ascendido, e guiado até o setor de tintas. Ela precisaria pintar e adequar o quarto onde ela usaria para trabalho. Paredes todas pretas, luzes vermelhas. Ela sorriu novamente para si mesma, em Nova York ninguém se importava com o que quer diabos você estivesse fazendo. Em Austin todos a olharam de cima em baixo, e provavelmente com essa compra de tinta preta e luzes florescentes vermelhas, pensariam que ela certamente trabalhava com seu corpo. O bairro todo faria suposições sobre sua fonte de renda.
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Before the Last - JOEL MILLER
FanfictionTudo tem um começo. As vezes pode ter um meio. E nem sempre tem um fim.