Já se passaram dois dias que estávamos escondidos em um apartamento alugado. É, dividindo apartamento. O ashtray está distante, eu preciso dele comigo, mas é como se ele tivesse fazendo castigo do silêncio comigo.
- ele não volta nunca! - digo espiando pelo olho mágico da porta do apartamento. - ele saiu era de manhã!
O ashtray tinha saído pra falar com uns amigos dele pra ficar de olho no prédio. Achei melhor.
- ele deve tá matando alguém por aí. É o ashtray afinal das contas. - rue da de ombros. - se acalma tá bom? Uma hora isso acaba.
Tá tudo uma merda, Candice está envolvida em algo que ela nem faz parte.
- o final disso tudo é eu ou o ashtray morto! Meu pai ou o meu tio, na verdade os dois querem o ashtray morto. - digo chorando.
A porta do apartamento é aberta, e a silhueta que aparece era do Ashtray.
- graças a Deus - digo correndo abraçando ele. - você demorou por que?!
Ele me olhou sério.
- o Guilherme vai me ajudar, ele ainda.... Ainda ama você. - ele solta.
Quem tá falando de Guilherme? Ele tá fugindo do assunto. O ashtray tem uma mania ridícula que é a de se afastar, achar que vai resolver alguma merda. Mas na verdade isso só me prejudica, ele não sabe disso?
- não foge do assunto, Ash! - respiro fundo. - fugir do assunto não vai ajudar porra!
Ele suspirou.
- vamos sair dessa, mas preciso que você pare de se preocupar comigo, karalho. - ele diz olhando sério pra mim. - eu tinha que ter terminado com você desde quando o seu pai me ameaçou. Coloquei você na frente de todos os meus problemas, virou a minha prioridade! Mas agora... Agora eu corro risco de perder o amor da minha vida. - ele saiu do apartamento.
Ele parecia exausto, todos pareciam. A minha vida nunca mais vai ser a mesma. Começando com o ashtray, achando que tudo é culpa dele. Mas não, eu encontrei a pessoa que me faz bem, que me ama e que eu amo. Que faria de tudo por mim, por nós. Eu realmente não sei oque fazer, ele não quer desistir de nós, muito menos eu, mas não a outra saída.
- você quer desistir de nós? - vou atrás dele. - desistir de tudo?! Tudo oque vivemos? Ashtray eu te amo. Preciso de você. Não pra me proteger, mas para ficar comigo do meu lado! Por que sem você... Eu não tenho vida.
Ele estava de costas, mas depois que eu terminei de falar ele se virou e veio rápido na minha direção, depositou um beijo calmo, mas ao mesmo tempo desesperado por aquilo. O ashtray é a melhor coisa que me aconteceu.
- você não vê como está difícil viver com essa culpa? - ele choraminga. - a Candice, a rue, você! Estão sendo ameaçadas por culpa que me apaixonei pela pessoa errada. - ele se afasta.
Eu o olhei seria.
- tá dizendo que eu fui um erro? - pergunto.
Ele disparou em mim. Me abraçando.
- não, nunca. Mas não devíamos ter nos apaixonados. Olha essa confusão. O seu pai é louco, o seu tio é quase pior. - ele segura o meu rosto com as duas mãos. - eu vou me entregar.
OQUE? Não, isso não, não pode acontecer.
- não, ashtray. - comecei a me desesperar. - você não vai me deixar, não vai. Você é meu Ash. E eu não vou perder você, nem que eu tenha que fugir pra sempre. Nós amamos né? Então lute por isso.
Ele sorriu de canto.
- está sendo egoísta. Suas amigas estão nisso também, Katherina. - ele diz. Que estranho, eu que sempre sou a racional do relacionamento e ele o impulsivo.
- você quer desistir de tudo mesmo? - pergunto com os olhos cheios d'água. Estamos bem pertinho, dava pra sentir a respiração dele em mim.
- eu te amo, você foi e será q única garota que me terá. - ele aponta pro meu coração e pra minha cabeça. - aqui e aqui.
Ele me beija, como se aquele fosse o nosso último beijo.
- não, não, não. Ashtray - o abraço forte. - você não pode me deixar, eu preciso de você. Não me deixe, por favor. - eu pedia suspirando.
Ele saiu do corredor indo direto pro elevador. E foi assim, que eu vi o amor da minha vida, me deixando.
[...]
Duas semanas já tinha se passado, e nada do Ashtray. Eu fiquei procurando ele pela cidade inteira, mais nada. Candice e rue não falaram muito comigo, mas foi por causa dessa situação. Optei por ficar afastada. O Guilherme fica em casa às vezes me fazendo companhia, por causa dos meus sustos noturnos.
- você está bem? - Guilherme pergunta me entregando um copo d'água. - fiquei preocupado, você surtou e eu não estava aqui...
- não se preocupe, eu estou bem. - sorri simpática. - mas fica, eu não quero ficar sozinha, não hoje....
Hoje é aniversário do Ashtray. Eu odeio tanto que ele se sacrificou por mim, pra eu ter uma vida, pra eu viver como uma adolescente normal.
- hoje é o aniversário dele... Como você está?
Fiquei em silêncio, oque eu poderia dizer? Que estava morrendo de dor e que eu só precisava do Ashtray ao meu lado. De poder desejar um ótimo aniversário e encher ele de beijos. De poder fazer um bolo pra ele, de poder senti-lo comigo.
- bem, na medida do possível.
Eu suspirei e senti tudo vazio, tudo calmo, mas agitado por dentro. Sentindo falta da onda de choque sempre que eu via e tocava nele.
Eu vou sentir falta dele pra sempre, talvez um dia, nós nos encontre, se o universo estiver conspirando para que isso de certo, um dia, eu irei ve-lo novamente e poder me sentir completa, me sentir cheia. Porque sem ele, eu me sinto vazia.
Eu te amo, Ash. Eu te esperarei mil anos, se for preciso.