Semanas, dias, horas. Sem ele, sem o abraço dele. E mais uma vez, eu estava no meio da noite, acordada chorando, sentindo tudo sair, tudo ir embora por causa de uma pessoa que se sacrificou por mim.
Meu telefone tocou, eram três e meia da manhã, e era o Guilherme.
- alô. - pergunto meio mole.
- tava chorando? Surtou né? Abre a porta e vamos dormir. Você não dorme a três dias. Sem discussão, abre.
Ele desliga. Me levanto de vagar, eu estou fraca, faz três dias que não me alimento direito.
- você está horrível. - ele me olha surpreso. - vem, vamos deitar.
Inclusive esqueci de dizer, só consigo dormir com o Guilherme na cama, me fazendo carinho. Me culpo por isso. O ashtray não merece isso, não posso ficar com mais ninguém.
- tá tudo bem, eu tô aqui. Sempre vou estar. Respira, e se acalme.
Ele sabe que eu fico mal as vezes, crise de ansiedade. Eu comecei a ter desde quando eu estava com o Ash, mas eu nunca consegui contar a ele. Não é algo incomum, mas a gente era um casal.
- respira, você vai conseguir sair dessa. - ele tenta me acalmar. Oque funcionou, me acalmei e fiquei deitada no peito dele. Ouvindo sua respiração.
Talvez algum dia, o Ash volte para mim e isso passe, por que eu sinto, que eu preciso dele, só dele.
[...]
- ontem eu não estava no dormitório, ele foi lá? - Candice pergunta. - que pergunta idiota, é claro que ele foi. - ela se deita. - mas se ele veio.... - ela tentou raciocinar. - você teve outra crise?! Me desculpe por não estar aqui..
Ela veio e me abraçou.
- não se preocupe, eu estou bem, foi só uma recaída. - sorri simpática.
- se alguma coisa te incomodar, você me fala na hora. - ela diz. - anda, vamos comer. Você sempre fica sem comer quando isso acontece.
Odeio como ela me conhece tão bem, bem até demais.
[...]
- eu não quero parecer um disco arranhado, mas.... Esquece o Ash, ele deve ter seguido a vida dele, Katherina. - ela diz pegando uma colher do seu macarrão.
Suspiro.
- eu conheço essa tatica, falar dele até eu superar. - suspiro sarcástica. - não vai funcionar! Você sabe o porquê ele não tá comigo, não sabe?
- sei, pra você ter uma vida descente. Ele quer isso, então seja grata e aproveite. Ele não se sacrificou atoa, eu também devo muito a ele.
Estávamos no refeitório, comendo o delicioso macarrão.
- olha quanto garoto bonito, você vai continuar perdendo tempo? Olha, supera, se ele fosse voltar, ele já teria voltado a um tempinho não acha?
- olha quem fala, já superou o fato da rue ter deixado nós duas? Estar se afogando nas drogas e você tá aí, se preocupando com notas. Candice, você as vezes é meio controladora. Desistiu da rue tão fácil pra quem dizia ama-la.
Sai da mesa e fui pro banheiro. Tudo está uma bagunça, rue está se matando aos poucos, Ash nunca mais apareceu, Candice tenta esconder oque sente. Não tem mais nada para mim aqui. Minhas irmãs...
Mas estamos um pouco distantes, quase não vou pra minha vó, não esqueci até hoje de que ela iria deixar aquele mostro relar a mão em mim. Eca.
O Guilherme, ele é um ótimo amigo. Ele sempre está comigo quando eu surto, mas não era ele que eu queria que estivesse ao meu lado.
[...]
Já havia se passado um bom tempo. Me formei e agora, eu estou morando em um apartamento grande, sozinha. Eu não sabia que eu me sentiria assim. Fiz uma amizade boa com o Jakson, ele sempre vem aqui. O Guilherme assumiu o trabalho do Ashtray, que é vender as drogas dele. Candice se formou também, acho que ela e eu não estamos tão próximas assim.... Rue teve uma overdose das sérias. Fui vê - la. Porque mesmo que não estava tão próxima a ela, eu devia isso. Éramos melhores amigas.
- estou tão orgulhosa de você. - ela sorri. - está formada, trabalhando, tem sua própria casa. Você cresceu tanto.
Sorri com água nos olhos.
- eu estava morrendo de saudades. - abraço ela.
- você e a Candice tem se falado? - perguntou. - me desculpe se é meio chato eu perguntar isso.
- não, eu e ela nos afastamos, ela não tava conseguindo lidar comigo. Era muita falta do Ashtray. Fiquei mal, muito mal, e ela não foi uma boa amiga e me ajudou, ela se afastou.
- ela não era assim... Ela de antes teria te ajudado, feito mil e uma coisas para te deixar melhor, ela mudou. - rue diz.
Concordei.
[....]
Eu estava indo embora para casa, a lanchonete onde eu trabalhava de garçonete já tinha fechado. Sim, eu trabalho como garçonete. Eu estava indo a pé mesmo, mas avistei o carro do Guilherme
- quando tempo, princesa. - ele para o carro do meu lado.
Sorri ao ver ele, faz um tempinho que não nos vemos. Entrei no carro dele, tínhamos uma intimidade incrível.
- você tá mais calvo que o normal - olho pra ele.
- eii, isso não é calvice, é só que o meu cabelo é ralinho. - ele diz passando a mão na cabeça.
- vamos, me leva para casa, estou cansada. - digo colocando a mão sobre a cabeça.
- eu estou orgulhoso, sabia? O ashtray também estaria. - o jeito que ele falou parecia que o ashtray foi morto.
- nossa. - rimos. - isso nao é mesmo com você.
Ele deu de ombros.
- eu tentei. - ele riu.
[...]
Olhar pro teto e tentar dormir é um saco, cadê a porra do sono. Eu estava tentando dormir a quatro horas. Que merda.
Eu me revirei a cama toda, e nada. Eu não tinha pra quem ligar, pra quem chorar. Eu estava sozinha. Perdida.