Capítulo 15: Festas e Descobertas

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Draven

A casa que construímos para Seline, para nós, estava quase pronta. Imponente, sob o céu que começava a escurecer, cada tijolo, cada pedaço de madeira era um símbolo do nosso amor. Um amor que, agora, parecia ameaçado por uma sombra crescente. Seline, a mulher que eu amava, a luz da minha vida, estava diferente. Seu sorriso, antes tão fácil e espontâneo, capaz de iluminar o dia mais sombrio, agora parecia um eco distante, um fantasma do que costumava ser. Seus olhos azuis, antes tão vibrantes e cheios de vida, que me hipnotizavam com sua profundidade, agora estavam nublados por uma névoa de preocupação, como um céu de verão obscurecido por nuvens de tempestade.

E o cheiro dela... poha, o cheiro dela! Era uma melodia que eu conhecia de cor, uma sinfonia de notas florais e terrosas que me acalmava e me excitava ao mesmo tempo. Era o cheiro da minha companheira, da minha alma gêmea. Mas agora, tinha algo a mais. Dois novos cheiros, fortes e misteriosos, entrelaçados ao dela. Eram cheiros que me deixavam curioso e preocupado, cheiros que eu não entendia. Eram como notas dissonantes em uma música familiar, um aviso de que algo estava errado.

Gael, sentia o mesmo. A gente não era exatamente amigos, pra ser sincero, a gente se tolerava por causa dela. Mas nesse momento, a preocupação que a gente sentia era a mesma, um fio invisível que nos unia em nossa angústia. Trocávamos olhares silenciosos, carregados de perguntas sem resposta. Sabíamos que algo estava acontecendo com Seline, algo além dos nervos do casamento. Algo que nos assustava e nos intrigava ao mesmo tempo.

— Ela tá se afastando, Draven. — Gael falou uma noite, enquanto a gente olhava Seline no jardim da nossa nova casa. Ela tava sentada, perdida em pensamentos, alheia à nossa presença. A lua cheia iluminava seu rosto pálido, destacando a tensão em suas feições.

— Eu sei. — respondi, sentindo um aperto no peito. — E o cheiro dela... É como se tivesse... mudando.

Gael balançou a cabeça, sério. — A gente precisa descobrir o que tá acontecendo. E rápido.

Gael

A inquietação de Draven era um espelho da minha própria. Seline, a mulher que eu amava com a mesma intensidade que ele, estava se transformando diante dos nossos olhos, e nós não tínhamos a menor ideia do porquê.

No dia seguinte, procuramos o ancião da minha alcateia, um lobo sábio e experiente, guardião do conhecimento ancestral. Ele nos ouviu com atenção, seus olhos penetrantes fixos em nós enquanto relatávamos as mudanças em Seline.

— O cheiro dela, ancião... — comecei, hesitante. — É como se houvesse algo novo, algo poderoso...

— E ela está distante, — Draven acrescentou, — como se estivesse carregando um fardo que não quer compartilhar.

O ancião permaneceu em silêncio por um longo momento, seus dedos tamborilando na mesa de madeira. Finalmente, ele falou:

— O que vocês descrevem é incomum, mas não inédito. Há histórias antigas, lendas que falam de mudanças assim em lobas...

— Lendas? — perguntei, esperançoso. — Que tipo de lendas?

— Lendas que falam de destinos entrelaçados, de profecias ancestrais. — O ancião se levantou e caminhou até uma estante repleta de livros antigos. — Talvez a resposta para o mistério de Seline esteja em algum desses volumes.

Draven e eu trocamos um olhar de surpresa e apreensão. Profecias? Destinos? Seria possível que a mudança em Seline estivesse ligada a algo tão grandioso e misterioso?

O ancião nos entregou um livro empoeirado, com a capa de couro rachada e as páginas amareladas pelo tempo.

— Este livro contém as profecias da nossa alcateia, passadas de geração em geração. Talvez vocês encontrem algo que os ajude a entender o que está acontecendo com Seline.

Entre Uivos e DesejosOnde histórias criam vida. Descubra agora