√ fourteen.

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Wonwoo concluiu sua rotina noturna numa espécie de entorpecimento enevoado. Só quando deitou a cabeça no travesseiro começou a chorar. Estava tudo acabado. Mingyu pedira para Wonwoo ser legal com a família dele, e ele fizera sua mãe chorar. Era impossível desfazer uma situação como aquela.

Seus instintos imploravam para que abrisse o jogo e contasse a verdade. Apesar de não saber a verdadeira extensão do problema, Mingyu já conhecia algumas de suas dificuldades: hipersensibilidade a cheiros, ruídos e toques; obsessão pelo trabalho; necessidade de estabelecer rotinas; a falta de traquejo social. O que não sabia era que havia rótulos para aquilo, diagnósticos médicos.

A compaixão era mesmo melhor que a raiva? No momento, ele o considerava grosseiro e insensível, mas ainda o via como uma pessoa normal, ainda que levemente excêntrica. Com os devidos rótulos, poderia ser mais compreensivo, porém deixaria de vê-lo como o econometrista desajeitado que adorava seus beijos. Aos olhos de Mingyu, seria apenas uma pessoa que sofria de autismo. Seria... menos.

Não lhe importava o que as outras pessoas pensavam.

Já da aceitação de Mingyu, no entanto, sentia uma necessidade desesperadora. Ele tinha uma síndrome, mas a síndrome não era aquilo que o definia. Ele era Wonwoo. Um indivíduo único.

Não havia como remediar a situação. Não havia como continuar com ele. Wonwoo ainda precisava se desculpar com Yeon. Nunca tinha feito ninguém chorar antes, e aquilo o fizera sentir muita raiva de si mesmo. As respostas evasivas faziam sentido agora que a verdade sobre o pai viera à tona. Wonwoo queria ter entendido a situação antes de estragar tudo chateando Yeon, mas só tinha como mudar o que faria dali para a frente, não o passado. À medida que a noite se arrastava, ele foi criando e recriando um pedido de desculpas, recitando-o várias vezes em sua cabeça. Quando o sol se ergueu, Wonwoo saiu a custo da cama e se preparou para encarar o dia. Ele dirigiu até a mesma galeria comercial aonde fora no dia anterior e parou diante da Lavanderia e Alfaiataria Paris.

Assim que o estabelecimento abrisse, pediria desculpas e iria embora.

A noite de insônia deixara sua cabeça enevoada. Seu coração doía por causa da pressão incessante provocada pela ansiedade. Seus dedos agarravam o volante com tanta força que suas juntas pareciam travadas. Ele se sentia exausto. Queria resolver logo aquilo para poder ir ao escritório e mergulhar no trabalho.

Cinco minutos antes do horário, a placa de FECHADO foi virada para ABERTO. Respirando fundo, Wonwoo pegou uma segunda caixa de chocolates e um buquê de rosas cor de pêssego e saiu do carro. Era Minseo quem estava atrás do balcão naquele dia.

Ela ergueu os olhos do livro apoiado no colo e piscou algumas vezes, surpresa por vê-lo. Pela tensão nos lábios dela, não de um jeito bom. "Oi, Wonwoo... Mingyu não trabalha aos sábados..."

"Não foi com ele que vim falar." De que adiantaria? Estava tudo acabado entre os dois. Wonwoo mostrou as rosas e os chocolates. "Trouxe para sua mãe. Ela está?"

A expressão de Minseo se amenizou. "Está, sim."

"Posso falar com ela, por favor?"

"Mamãe está trabalhando lá nos fundos. Levo você lá."

Wonwoo seguiu Minseo, parando diante de uma máquina de costura industrial verde onde Yeon, com os óculos pendurados na ponta do nariz, passava um tecido sob a agulha com eficiência e rapidez.

Os músculos de Wonwoo se enrijeceram. Seu coração retumbava com força. Estava na hora. Ele só esperava não estragar tudo. Precisava dizer a coisa certa.

Minseo murmurou alguma coisa que Wonwoo não ouviu, e a mãe ergueu os olhos. Seu olhar passou da filha para Wonwoo.

Ele engoliu em seco e deu um passo à frente. "Vim me desculpar por ontem à noite. Sei que fui grosseiro. Eu não... tenho muito jeito com as pessoas. Queria agradecer por ter sido convidada para jantar na sua casa." Ele estendeu as flores e os chocolates. "Trouxe para você. Espero que goste de chocolate."

the kiss quotient | meanie.Onde histórias criam vida. Descubra agora