√ twenty.

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Ao longo da semana seguinte, Mingyu foi aprendendo o ritmo de Wonwoo.

Na cama, reagia melhor quando ele ia devagar e murmurava safadezas no ouvido dele. Se quisesse algo mais intenso — fosse o que fosse —, ele se mostrava disposto e ansioso para agradar. Mingyu não podia querer um amante melhor. A ironia da situação não passava despercebida.

Fora da cama, Jeon se dava bem com a rotina. Acordava todos os dias no mesmo horário, tomava um banho para se livrar dos resíduos do sexo matinal — Mingyu adorava começar o dia com o pé direito —, tomava um iogurte e ficava no trabalho até as seis da tarde. As noites eram de Mingyu. Mas não ficavam se pegando como dois adolescentes cheios de hormônios — eles preenchiam o tempo com jantares, conversas e silêncios cúmplices que Mingyu nunca havia experimentado.

No sábado à noite, depois de passar o dia em um museu em Incheon se revezando em comentários absurdos sobre arte, viram mais um episódio de Chicago Fire. Na verdade, Wonwoo viu. Mingyu ficou olhando para ele, penteando seus cabelos com os dedos. Wonwoo apoiou a cabeça no ombro dele, com os olhos voltados para a TV de tela grande pendurada na parede do quarto. De tempos em tempos, suspirava ou ficava tenso, reagindo à história, e suas pernas descobertas se mexiam sob a bainha da mesma camiseta comprida que usava na primeira noite que haviam passado juntos.

Mingyu não sabia descrever como se sentia ao vê-lo com as roupas dele, ou ao tomar conhecimento de que ele guardara a camiseta e sempre a usava para dormir, mas era uma sensação boa. Ele vinha se sentindo bem nos últimos tempos — toda vez que Wonwoo sorria, pedia um beijo ou chegava perto dele, mas também quando nem estavam juntos. Ele passara a semana inteira num estado de euforia, sorrindo ao pensar no mais velho.

Não havia dúvida.

Estava perdidamente apaixonado.

Ele sabia que era só uma coisa temporária, que não era de verdade, que não havia como terminar bem, mas tinha feito algo proibido para um acompanhante profissional: ficara caidinho por um cliente.

"Então ela passou anos da vida dela afim dele, mas agora está indo embora para Costa Rica. Ele vai ver a cara dela em algum momento?", Wonwoo perguntou, atraindo a atenção dele. "Ela não vai voltar?"

"Quer mesmo que eu conte?"

Wonwoo ficou pensativo por alguns instantes, então fez que sim com a cabeça. "Quero. Me conta."

Ele deu risada e o puxou para mais perto, beijando sua testa. Ele era sério e pensativo, mas também cheio de caprichos. Mingyu adorava aquilo. "Não. Você vai ter que ver para descobrir." Sem conseguir se segurar, ele beijou seu queixo e mordeu sua orelha. Era muito bom tê-lo tão perto. Ele tinha sido feito para amá-lo.

Wonwoo cruzou os braços. "Por que ela não fica? Está na cara que ama ele demais."

"Porque ela sabe que os dois nunca vão poder ficar juntos."

"Por que não?"

"A mãe e o pai dela se separaram quando ele ficou doente."

Aquilo fez Mingyu pensar em si mesmo e em seu pai, o que o destroçou por dentro.

"Mas eles não são os pais dela", Wonwoo insistiu. "Eles podem dar um jeito."

Mingyu não disse nada. A paramédica da série não era má pessoa, mas Mingyu ainda estava sub judice. Procurava andar na linha, mas quando as coisas ficavam feias e ele sentia que a vida o sufocava, pensamentos ruins passavam por sua cabeça. Um atalho, uma forma mais fácil de se libertar, uma trapaça. Ele conhecia as pessoas. Seria fácil aproveitar-se delas. Não havia muita coisa que o impedisse de fazer aquilo além de um código de ética um tanto vacilante e o desejo de não seguir o mesmo caminho do pai.

the kiss quotient | meanie.Onde histórias criam vida. Descubra agora