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Apreciava o silêncio na maioria das vezes quando estava dirigindo, mas naquele momento, a preocupação com a garota no banco do passageiro era maior. Era como se algo invisível levasse minha atenção a ela.

Desde que deixamos a vizinhança pacata de Montclair, Lilith se fechou, não que eu e ela fossemos muito comunicativas uma com a outra, não eramos. Na verdade, nossa pequena dinâmica era a implicância, e nem mesmo aquilo estava acontecendo.

E o pior, Williams no banco de trás me jogava olhares pelo retrovisor, indicando com a cabeça para que eu tentasse algum assunto com a garota. O primo sempre tinha atitudes que o confundiam com um adulto, mas aquela atitude dele lembrou a tia.

Com toda certeza, tia Enid também me cutucaria e pediria de uma maneira terna para puxar assunto com Lilith. O seu pedido para mim foi claro "Confio em você para cuidar deles".

Amava a tia com todo coração, e se ela me confiou uma tarefa daquelas, era porque sabia da minha capacidade para exercê-la. Tia Enid nunca foi como os pais, que sempre apontavam o dedo para minhas atitudes ou me dava bronca por qualquer coisa, não, ela entendia.

Ela analisava e via ambos os lados antes de dar conselhos, poderia dizer que é o lance de ser psicologa, mas não. Porque desde que era pequena, desde que tinha cinco anos, ela sempre foi uma pessoa boa.

E por pensar na sua bondade, a raiva pelo complô alienado da família trazia raiva. Ter visto as condições da tia naquele banheiro, foi dilacerante. Segurar seu corpo enquanto ela era queimada viva, me causou dor física também.

Mas mesmo com todos os problemas que ela estava enfrentando, a bondade jamais deixou de estar com ela. Tia Enid podia ter feito muita coisa, ter muitos defeitos na qual todos apontavam, mas ela era a pessoa mais bondosa que conhecia.

Pensava mais em nós do que nela, nunca deixando transparecer a guerra que ela lutava. Mas agora sabia qual era aquela guerra, sabia que ela era um soldado ferido em meio a grandes ditadores, mas mesmo assim, ainda estava de pé.

Se orgulhava dela, se orgulhava dos ensinamentos que a mesma sempre havia dado. E se uma tarefa havia sido designada por ela, iria cumprir até o fim.

— Então — Tentou puxar assunto com a adolescente quando parou no farol — Onde fica a casa da tal Celline?

Lilith suspirou e se encostou mais na janela, por breves segundos achou que estaria falando com o vento, mas sua voz retumbou no meu tímpano. Sem ânimo, preocupada, mas ao menos estava falando.

— Vire a esquerda e segue reto até a ciclovia, depois vire a direita e segunda esquerda — Analisou o trânsito, aquela cidade não tinha movimento e nem vida — O prédio dela é o segundo.

O farol se tornou verde, e algo no meu íntimo odiou o silêncio novamente, poderia ser xingada por estar puxando assunto, mas ao menos estaria fazendo a garota falar.

— Essa moça, a Celline — Viu pela visão periférica ela me olhando — O que ela é sua?

— Ela era minha babá quando pequena, é como minha segunda mãe.

— Achei que ela fosse sua madrinha.

Ela deu uma leve risada e negou, Williams estava atento a nossa conversa, mas como foi lhe ensinado, ele permaneceu quieto e não se meteu.

— Celline sempre disse que está velha de mais para ser minha madrinha, ela não quer morrer e me deixar solene — Ela deu de ombros — E também nunca liguei para esse lance de madrinha.

— É uma escolha interessante, sabia?— Batuquei meus dedos no volante — E precisa ser uma decisão bem pensada, sempre é bom tomar essa atitude quando já somos adolescentes, porque a escolha é nossa e não dos nossos pais.

My Big Sister - Spin-offOnde histórias criam vida. Descubra agora