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— Isso… faz sentido.

— Então você só poderia voltar mais duas vezes… - Ryujin se levanta, andando ansiosamente pela sala. — Isso se essa teoria estiver certa.

— Heeji, quanto tempo falta até aquele dia chegar?

Por “aquele dia chegar” Seungmin se referia ao dia em que Han morreu, apenas pensar nisso me deixa sem ar.

— A gente tava perto de ir pro acampamento - engulo seco brincando nervosamente com meus dedos. —, o baile já tava começando a ser discutido.

— Não tem algum jeito de cancelar o baile?

— Eu já perguntei pra Eunchae. - respondo minha prima. — Tá fora do meu alcance isso.

— E tentar fazer Han não ir?

— Não, ele tava doido pra ir no baile. - Kim diz ao suspirar. — Heeji, o que aconteceu naquele dia antes dele morrer?

— Nós ficamos juntos praticamente o baile todo - tento respirar corretamente, nunca me acostumaria com esse assunto. —, mais pro final da noite acabamos nos perdendo um do outro no meio da multidão.

— Eu lembro! Você veio me perguntar se eu tinha visto ele. - concordo aos poucos, minha memória daquele dia quase não existe por conta do choque. — Então é simples, não é? Basta não desgrudar dele por nenhum segundo.

— Acho que não é tão simples assim. - Seungmin discorda. — A vida é imprevisível, como Heeji mesma disse, numa hora estavam juntos e em questão de segundos se separaram.

— São duas passagens que dão pro terraço da escola. - me levanto indo até meu quarto colocando um cachecol e continuo falando alto para que me escutassem: — Uma é trancada e só os professores têm acesso, a outra também fica fechada, mas alguns alunos conseguem a chave. - volto para a sala calçando o tênis e os encaro. — Basta eu vigiar a entrada que nós podemos acessar.

— É uma boa opção.

— Vai pra onde, Heeji?

— Encontrar Eunchae. - respondo-a pegando minha bolsa e a chave do carro. — Não acredito que ela continua refém daquela família horrível e opressora, tenho que ver isso com meus próprios olhos.

— Eu já fui ver a Eunchae, Heeji. - paro quando estava prestes a abrir a porta e fito minha prima que sorri fechado. — Há alguns meses a encontrei na rua.

— E o que ela disse?

— Nada. - Ryujin se aproxima de mim colocando sua mão no meu ombro. — Eunchae me viu e apenas seguiu seu caminho… ela não quer saber da gente, melhor nem insistir nisso.

— Ela não é assim. - nego me desvencilhando dela. — E mesmo se for, terá que explicar na minha cara o porquê de tudo isso.

— Você que sabe.

Por fim Hwang desiste e eu me despeço descendo de elevador até o estacionamento. Se Eunchae continua presa à sua família por tanto tempo, não consigo deixar de pensar no quão sufocante deve estar sendo sua vida. Meu celular apita e vejo a mensagem de Ryujin me mandando o endereço que eu havia pedido mais cedo, por sorte não era tão longe daqui, o centro de Seul estava há pelo menos meia hora e o trânsito também estava bom, não perderia muito tempo nas ruas.

[...]

— Deve estar havendo algum engano - me apoio no balcão da recepcionista. —, diga que é Song Heeji, éramos amigas na escola!

— Sinto muito. - a mulher me encara mais uma vez. — Eu já expliquei como pediu, mas a senhorita Hong diz não te conhecer.

— Como ela pode me ignorar desse jeito?! Nós costumávamos ficar juntas o tempo todo.

— Posso ajudá-la em mais alguma coisa?

— Que se dane. - murmuro comigo mesma e encaro a funcionária: — Avise sua chefe que eu não saio daqui até encontrar com ela.

Dito isso vou até as poltronas e me sento irritada, pegando uma revista qualquer e começo a folheá-la mesmo que não fosse nada interessante, passando por fotografias e entrevistas com celebridades que sequer conhecia.

Eu me lembrava muito bem da grande empresa que os pais de Hong tinham e pelo que parece, agora ela é uma das que comanda por aqui. A garota não sabia quais eram seus sonhos ou o que gostava, apenas vivia pelo que seus pais queriam e agora eu via que tudo o que menos lhe agradava acabou virando realidade.

O presente muda a cada volta no tempo e eu não tenho controle sobre isso, não posso mais interferir na vida de outros que não seja Jisung… mas com certeza não deixarei minha amiga ter um futuro como esse, obedecendo aqueles que só a colocaram para baixo, que só a comparava com o primo “perfeito”. Uma família não deve agir assim, não deve tratar a filha como um objeto de conquistas e usá-la para se gabar, garantindo que sejam melhores do que os outros; obrigando-a a estudar um dia inteiro sem ter tempo para si mesma, para se encontrar com amigos e se divertir.

Checo meu relógio no pulso que novamente estava consertado, toda a vez que volto para o passado o mesmo se quebra, é como se ele me mostrasse que não posso ir para o futuro por conta própria.

Ou voltar ao passado.

Suspiro notando que já estava aqui há um pouco mais de três horas, resolvo levantar pois meu corpo doía de ficar na mesma posição quando vejo saindo pelas catracas três homens de terno e na frente deles a pessoa que eu mais esperava.

Seus passos eram rápidos e enquanto eu tentava acompanhá-la comecei a reparar em seus cabelos agora tingidos de loiro, as roupas caríssimas e o óculos escuro que deve custar bem mais do que todas as roupas que estou usando. O barulho do seu salto ecoava pelo prédio e após passar pela porta giratória, um carro a aguardava na saída.

Antes que ela entrasse seguro seu pulso, fazendo-a se virar para mim. Ao mesmo tempo um dos homens agarra meu braço fortemente e ela fala:

— Solte.

Espero que ele tire a mão, mas o mesmo continua me apertando sem obedecer.

— Mandei você me soltar. - abro a boca surpresa, ela não falava com seu segurança, mas sim comigo? — Não me faça repetir.

Aos poucos faço o que manda e sinto meu braço ser livre do aperto, engulo seco vendo-o vermelho e encaro-a reprovatoriamente.

— Ainda vai fingir não me conhecer, Eunchae?

— Vocês deixam qualquer um se aproximar de mim agora?

Rio soprado ao ouvi-la enquanto seus seguranças me afastavam ainda mais dela, estava inconformada com isso. Como pode me tratar assim como se fosse uma estranha qualquer?

Eunchae, o que fizeram pra você ter ficado assim?

Meu coração amoleceu ao notar suas mãos trêmulas e seu peito subindo e descendo numa respiração quase ofegante, mostrando que por detrás dessa máscara arrogante ainda havia uma garotinha sozinha e sem confiança. A mesma Eunchae que costumava ver na sala de aula, a mesma pessoa que se fechava quando se sentia ameaçada por outros, que costumava ficar solitária e com medo de julgamentos.

Ela ainda estava ali, camuflada por uma personalidade que não pertence a mesma.

Vendo-a se escondendo me mostra ainda mais que não foi nada fácil se afastar de todos que costumavam estar ao seu redor. Provavelmente afastando-se obrigadamente, pois não tinha forças para lutar contra aqueles que sempre tinham um futuro planejado para a filha.

E então enquanto a garota entra no carro, me aproximo novamente dizendo antes que ele desse partida:

— Estou te esperando, Euchae. Venha me ver quando quiser.

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❤️ Até o próximo capítulo ❤️

Volcano | Han Jisung |Onde histórias criam vida. Descubra agora