Espirro por conta do frio e sinto meu corpo todo tremer, quando me dou por mim, estava de frente a lápide de Jisung.
O que estava acontecendo comigo?
Desvio meu olhar pelo lugar e vejo o relógio em meu pulso agora sem a rachadura. Já estava escuro, no meu celular indicava ser nove da noite, dez ligações perdidas de Ryujin e vinte mensagens de texto dela. Levanto do chão com cuidado para não escorregar na neve e vou até meu carro, entrando e me aquecendo antes de acelerar o veículo.
Durante todo o trajeto penso no surto que minha mente criou, eu estava a ponto de acreditar que tudo aquilo era real. Talvez eu realmente quisesse que fosse, porque isso significaria que eu poderia de alguma forma salvar Jisung.
Respiro fundo após estacionar o carro e batuco o volante, meus únicos e poucos neurônios pareciam ter sido fritos. Encosto a cabeça no apoio do banco e encaro o volante, passando meu olhar por todo canto até chegar em minha mão.
Ergo as sobrancelhas ao notar duas pequenas marcas de tom marrom e a cicatriz de um corte no meu dedo que antes nunca existiram. Saio do carro com pressa e entro no prédio, saindo do elevador e entrando direto em casa.
— Aonde você tava, Heeji?! - Ryujin pergunta brava, sem nem esperar que eu entrasse completamente. — Eu te liguei, te mandei mensagens! Sabe quantos graus tá lá fora? Oito graus negativos! Você queria morrer congelada?!
— Desculpa - peço enquanto ela pega o cobertor do sofá, me cobrindo e me puxando para sentar. —, eu perdi a noção do tempo.
— O importante é que você tá bem.
Eu sabia que ela estava irritada apesar de ter dito isso, mas resolvo ignorar também. Entrar nesse assunto significaria entrar no outro assunto: a minha — não — superação do luto e em minha história passada com Jisung. Essa seria a última coisa que gostaria de falar, ainda mais com Ryujin que tem uma preocupação em excesso comigo desde que aquilo aconteceu.
— Fiz chocolate quente, vou pegar pra você.
— Obrigada. - murmuro me encolhendo na coberta e pergunto elevando minha voz para que ela me ouvisse: — Ei Ryujin, você lembra quando eu machuquei minha mão?
— Sua mão? - ela exclama da cozinha e a vejo voltando, entregando a xícara para mim. — Ah, sim! Foi daquela vez que o professor quase me pegou fumando, você escondeu o cigarro e se queimou… nunca entendi porque fez aquilo, a gente nem se gostava.
— E essa cicatriz?
— Numa daquelas aulas chatas de culinária. - a outra responde. — Que foi, Heeji? Tá com perda de memória?
Tudo o que não tinha acontecido antes passou a acontecer no momento em que eu havia voltado de certa forma pro passado. Não consigo entender, não consigo sequer raciocinar direito.
— Ryujin, que tal assistirmos alguns filmes?
— Vou fazer pipoca!
[...]
— Eu não aguento maaaais. - a garota reclama me encarando irritadiça. — Quando me chamou pra ver filmes eu imaginei gêneros diferentes… não TRÊS filmes de viagem no tempo em um único dia.
— O que você achou? - pergunto curiosa.
— Que loops temporais são chatos demais. - ela faz uma careta e eu rio. — Fala sério, a pessoa volta pro passado e faz tudo até chegar no futuro de novo… mas já parou pra pensar que essa pessoa não tem sossego? Ela vai ficar indo e voltando, fazendo novamente todas as suas escolhas infinitamente porque afinal, isso é um loop infinito!
É verdade, não tinha pensado nisso… espero que isso não seja um loop temporal, seria horrível saber que eu perco o Han infinitas vezes. Quantos modos de viagem no tempo existem? Quantas vezes podemos hipoteticamente voltar? Por quanto tempo é possível ficar no passado? E quais as probabilidades de arruinarmos todo o futuro por causa do passado mudado? São muitas perguntas sem respostas, alguns filmes não seriam capazes de me dar as respostas que preciso agora.
— Queria saber mais sobre isso.
— O quê? Sobre viagens no tempo? - concordo enquanto coloco a xícara vazia na mesinha de centro. — Sabe quem era fissurado por isso e hoje em dia é cientista?
— Quem?
— Kim Seungmin, lembra dele, né? Era um nerd que sempre andava com o Hyunjin.
— Sabe onde ele trabalha?
— Um nerd bem bonitinho por sinal… - ela murmura e eu a belisco tentando manter o foco. — Quer apanhar?!
— Você falava muito isso pra mim. Agora responde, por favor.
— Hyunjin comentou que ele tá na Universidade Nacional de Seul.
— Ótimo.
Me levanto indo diretamente ao banheiro para tomar um banho quente antes de sair, debaixo do chuveiro escuto Ryujin gritando do lado de fora:
— Sabe que ele é ocupado, né? Não vai conseguir falar com ele tão facilmente. E já é mais de meia noite!
— Nem que eu precise acampar lá - respondo no mesmo tom passando shampoo no cabelo. —, mas eu vou falar com ele.
[...]
Certo, eu não imaginava que poderia ser tão difícil assim falar com uma única pessoa. Há pelo menos uma semana eu vinha até a universidade de Seul tentar encontrar Seungmin, mas não tive sucesso algum.
Parece que no mundo nerd ele é uma pessoa bem importante, vi alguns folhetos de palestras passadas que foram dadas por ele, todas inclusive lotadas. Suspiro derrotada me sentando num banco no meio do campus, seria realmente impossível vê-lo? Eu me iludi achando que poderia chegar aqui e ao vê-lo dizer: "Olá Seungmin, lembra de mim? Sou a prima do seu amigo, sei que nunca nos falamos mas… preciso da sua ajuda pois acabei de viajar no tempo. Louco isso, né?". Ele ia achar que no mínimo estou drogada ou algo ainda pior, quem sabe até me mandasse para um hospício? Nunca se sabe.
Eu já não era muito chegada de Felix e Seungmin na época da escola, muito menos depois que Jisung morreu. Pesquisei sobre Kim no google e vi o quão importante ele era, com muitas teses aprovadas e muitos alunos que o admiravam.
Escuto meu celular tocar e franzo o cenho ao ver o nome do meu primo no visor, arrumo meu cachecol quando o vento gelado passa por mim e atendo a ligação:
— Oi Heeji, tudo bem?
— Oi… tô bem - murmuro cansada. —, e você?
— Bem. Ryujin me ligou e disse que queria falar com o Seungmin.
— Queria sim - sorrio fechado. —, mas não consigo encontrar ele de jeito nenhum.
— Deve ser importante já que nunca o procurou antes.
— É muito importante, não atrapalharia Seungmin se não fosse.
— Você tá na faculdade? - respondo um 'sim' preguiçoso. — Tem como vir até Seocho-gu?
— Por quê? Eu preciso ficar aqui, não posso perder a chance de encontrá-lo.
— Você tem uma hora pra chegar aqui, marquei com meus amigos um jantar que sempre fazemos pelo menos uma vez a cada mês… isso inclui Seungmin também.
— Seungmin vai estar aí?! - exclamo me levantando imediatamente do banco. — De verdade?!
— De verdade, vou te mandar o endereço por mensagem. Te espero lá.
— Obrigada!
Vou correndo até meu carro adentrando, no mesmo minuto o telefone apita novamente indicando a mensagem de Hyunjin no meu visor. Coloco o endereço no GPS e acelero o veículo na esperança de que Seungmin pudesse ser minha luz no meio dessa escuridão.
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❤️ Até o próximo capítulo ❤️
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Volcano | Han Jisung |
FanfictionNão são todas as pessoas que têm a chance de viver um amor inesquecível, aquele amor que dói e que te faz suspirar; que te mostra um outro lado da vida e que te deixa de pernas bambas. Mas isso aconteceu para Song Heeji. E doeu. Doeu mais que tudo...