Capítulo 15: Meu Papai Noel

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O caminho estava um pouco nublado, ventando friamente, com certeza iria começar a nevar brevemente.

Neve sempre foi reconfortante para mim, de certa forma, assim como a chuva. Na chuva eu poderia chorar e não iriam perceber, pois minhas lágrimas iriam se misturar com as gotas geladas. Na neve eu poderia enterrar meu rosto na macia neve ou colher flocos para fingir estar bem.

_Oliver Versão_

4 de Dezembro de 2000.

Enquanto eu caminhava, percebia as pessoas ao meu redor, o que sempre evitei perceber. Não por talvez ser social, mas por só não querer absorver mais estresse e problemas.

Porém dessa vez eu reparei... O cachorro salsicha da senhorita Rose, os gêmeos queridos do casal Berlin's.

Sorri, olhando para a saia do meu vestido branco com flores bordadas coloridas. Minha vida seria assim quando? Como? Era possível?

{9 anos atrás}

— Gosto mais de você do que da mamãe... — Comentei baixinho, quase em um resmungo, enquanto caminhava ao lado da minha avó.

— Por que? — Saturn, minha avó respondeu erguendo sua sobrancelha grisalha. Eu amava o nome dela. Foi o que me levou a querer estudar os planetas até um certo tempo. — Será porque ela não faz biscoitos como eu? — Ela beliscou minha bochecha e riu, me fazendo rir.

— Para, vovó! — Tirei a mão dela do meu rosto e ri, beijando em seguida a bochecha dela. — A senhora sabe o motivo mas finge não saber.

Ela sabia, ela sabia de tudo... Ela sempre soube. Mas não a culpo por sempre fingir que não. Prefiro pensar que somente fingia que eu ainda era inocente, então decidi fingir que nunca vi aquilo.

Papai descobriu as traições, após uma certa noite chegar cedo. Field havia ganhado um aumento e uma semana de folga com a família. Então foi para casa mais cedo, queria ter uma noite de pizza, como sempre fazíamos antes.

— Que porra é essa, Amerlia?!!! — Seus olhos transmitiam ódio, rancor, nojo... principalmente tristeza.

E se eu sempre tentar ter a certeza que nunca sentirei uma dor no coração igual a ele? E se eu tentar ter outro destino? E se eu evitar a traição?

Foi o que comecei a pensar a partir daquele dia, do dia que meu pai viu a minha mãe transando com o colega de trabalho dele, na cama deles. Na porra da cama em que eles se amaram, em que dormiam juntos!

— Por que ele está doente? — Perguntei do lado de fora do quarto de hospital do papai. Saturn segurava minha mão reconfortante. — Eu errei aonde?... — Encostei minha testa na parede, soltando a mão enrugada dela, desistindo de segurar as malditas lágrimas. Desejando o máximo que chovesse para fingir estar bem.

Me senti tão egoísta por chorar ali, no hospital onde havia pessoas mais tristes que eu, mais sofridas e necessitadas. Talvez eu só estivesse piorando tudo à essas pessoas que só queriam ver alguém sorrir para sorrir também.

Nunca seria capaz de descrever aquele aperto no peito, o tanto que senti minha garganta se fechar, me sufocando de amargura...culpa.

Comecei a soluçar alto, de dor... doía tão fisicamente, como uma adaga bem no meio do meu peito. Acho que se realmente fosse uma adaga me cortando seria menos doloroso.

Ele estava doente, de tão triste que ficou acabou adoecendo, uma coisa que não é rara. Foi difícil ouvir dos médicos que muitos já morreram de tristeza.

Foi difícil também vê-lo definhar a cada dia.

Depois do divórcio, o papai ficou com a minha guarda e ele decidiu morar com a vovó. Pensei que ali iria começar uma história boa para ele, que iria ser feliz, de verdade.

Toxic Home/ BR {Dark Dome} +15Onde histórias criam vida. Descubra agora