Capítulo 20: A Hora do 'Push'

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6 de Dezembro de 2000.

— Eu te odeio mais do que tudo. — Resmunguei em um rosnado irritado. Juro que quando tudo isso terminar eu vou acabar com esse professorzinho.

Cá estávamos, em frente a uma casa de madeira, estilo americana, em um bairro amigável e vazio. Os pássaros estavam cantando suavemente enquanto voavam no céu cinza e nublado, que estava difícil de ver o Sol.

Também estava uma MARAVILHA estar usando calcinha entrando no meu- Enfim, nada chega aos pés do vestido que estou usando que chega até a metade das minhas coxas, o que me fez ter que raspar os pelos das minhas pernas. Olhando de canto para Kyle, reparei no vestido que ele estava usando, até os joelhos, mangas longas até o cotovelo.

Minha peruca era loira até os ombros e Kyle era ruiva até o queixo em chanel. Ele estendeu o dedo e tocou a campainha. Estamos fazendo papéis de mães que querem que John dê aula particular para nossos "filhos".

— Relaxa, tudo isso vai acabar em breve. — Sussurra ele em resposta ao meu resmungo anterior.

Não fazia ideia de como ele estava mantendo a calma naquele figurino, talvez ele estivesse disposto a tudo pela Oliver. Com esse pensamento fecho minhas mãos bem cerradas na bolsa de couro marrom que eu estava segurando.

Após longos segundos a porta foi aberta, revelando um cara de estatura média, óculos, cabelo ligeiramente comprido e liso. Era John. Virei ligeiramente o rosto para zombar baixinho do cara ridículo a minha frente, que não seria problema lidar com ele.

— Como posso ajudar? — O mesmo esquisito perguntou erguendo uma de suas sobrancelhas grossas e arrepiada.

— Somos mães e ouvimos falar de nossas amigas sobre você, professor. — Kyle forçou um tom agudo e fino, o que foi extremamente vergonhoso. Senti seu cotovelo cutucar minha lateral, lembrando-me da minha vez.

Sorri gentilmente e inclinei a cabeça ligeiramente para o lado. — Podemos entrar para conversar melhor? — Terminei pigarreando. Imitar voz feminina era horrível, além de machucar minha garganta.

O homem abriu um leve sorriso, afastando-se para mais dentro, dando espaço para entrarmos, que logo fizemos. Meus olhos percorreram o interior da casa. Me lembrava de coisas vintage, um pouco desorganizada.

Caminhamos até a sala de estar, tendo um sofá e duas poltronas com as mesmas estampas de flores vermelhas e aspecto de encardido. Enruguei ligeiramente o nariz ao sentir um cheiro de mofo e de coisa suja.

— Sobre o que querem falar? — Disse enquanto se sentava em uma das poltronas em frente ao sofá onde Kyle e eu tomamos assento. Colocando na mesinha de centro dois copos com água gelada. Franzi a testa ao perceber os gelos no fundo do copo e não boiando.

O moreno ao meu lado pigarreou antes de então falar. — Como eu disse, conhecemos você pelas nossas amigas que têm filhos na escola em que você trabalha. — Tomando uma postura ereta, continuou. — Você foi muito bem elogiado e ficamos interessadAS em fazer um acordo. — Olhou para mim de soslaio.

— Exato... — Pressionei meus lábios em linha reta.

— Que tipo de acordo? Em que posso ser útil? — John franziu ligeiramente o cenho, ficando ligeiramente curioso.

— Queremos que você dê aulas particulares para nossas filhas. — Falei com um sorriso sonhador.

— Filhas? — Indagou o substantivo feminino, um pouco animado demais.

Após muitas conversas, algumas quais Kyle tomou por reger as fofocas, dei uma desculpa, dizendo que precisava usar o banheiro. Montares me orientou para o banheiro de cima, explicando o percurso.

Subi as escadas, chegando ao segundo andar. Não, eu não iria usar o banheiro, eu iria investigar. Abri umas das 3 portas que havia no corredor, dando de cara com um quarto, parecendo então ser o dele. Percorri minha visão pelo local, absorvendo suas características, procurando anomalias.

Em cima de uma cômoda havia várias coisas aleatórias, até um cortador de unha. Parei quando vi uma câmera fotográfica digital, uma das coisas que Oliver me implora para comprar pra ela, já que está ficando bem famosa essas câmeras pequenas e úteis.

Peguei a câmera com cuidado e a liguei sem hesitar. Eu confiava em que Kyle continuaria o trabalho dele de distrair do boiola lá embaixo. Assim que a câmera ligou, apertei os pequenos botões, querendo abrir a galeria do cartão de memória, mas para a minha surpresa não havia nada, estava vazio.

Havia duas opções; era de decoração ou... – Meus olhos então focaram em um notebook simples em cima da escrivaninha e um pendrive. Ou então ele passou para o computador.

{2 anos atrás}

— Bem... Já que tivemos um passado quente juntos... — A mulher morena puxou um pouco a bainha da saia para cima, revelando a metade das coxas para mim. Engoli em seco, sentindo minha garganta se fechar.

— Esquece isso, Amerlia. Me fala por que está me dando isso. — Franzi a testa e olhei para os pertences que ela havia me entregado, que pertenciam antes a Saturn, avó de Oliver.

Um bufo saiu como resposta do momento. — Tem coisas que descobri e me deixaram em pânico. — Falou então por fim. Em seguida ajeitando a franja ondulada que teimava cair sobre seu olho.

Era intrigante e deveria ser preocupante, ainda mais porque estava sendo tratado como uma caixa de pandora.

— Oliver tem problemas demais e por mais que eu... — Parou, encarando o chão e fazendo uma expressão de enjoo. — Que eu seja quem eu sou, ainda sou a mãe dela.

— Acha que esconder uma notícia ruim te faz a mãe do ano? — Zombei, soltando um estalo com a língua no céu da boca. Eu sabia sobre seus erros, suas traições e pecados, era de se fazer queixar de como meu anjo conseguiu aguentar isso.

A velha em minha frente é só um objeto e nada mais. Não suporto a ideia em pensar que minha mulher sofreu por causa dela, o único que pode causar dor nela sou eu. Porém isso não me limita em querer afogar minhas necessidades em sua mãe.

— Pense o que quiser de mim. — Se levantou e ajeitou a saia para voltar para baixo. — Só faça de tudo para Oliver não encontrar isso, entendeu?

{6 de Dezembro de 2000}

Mandei uma mensagem direta para Kyle, avisando para tentar de tudo para distrair John Montares, enquanto eu tentava adivinhar a senha do notebook dele, que estava me fazendo quase tacar isso na parede.

— E se...? — Sussurrei comigo mesmo e lembrei da idade das crianças que estudavam naquela escola.

Digitei; 91011

Foi desbloqueado. Suspirei de alívio, mas ao mesmo tempo de irritação crescente. Não poderia apenas ser uma coincidência, poderia?

Peguei o pendrive da mesa e conectei, abri os arquivos internos do mesmo mas não encontrei nada, estava vazio. Provavelmente ele já passou as fotos para alguma pasta no computador. Comecei a navegar, abrindo pasta por pasta, mas ao mesmo tempo deixando meus ouvidos e olhos ligados na porta que deixei aberta para ter mais acesso ao som exterior, caso alguém subisse a escada.

Encontrei então uma pasta, mas estava trancada, precisando de senha. Bufei aborrecido, mas então senti algo gelado em minha nuca, que logo enviou arrepios esquisitos pelo meu corpo.

Ah, não.

— Não sou tão idiota, Jake. — Murmurou com um tom arrastado. John Montares, segurando uma pistola contra minha nuca. 

Toxic Home/ BR {Dark Dome} +15Onde histórias criam vida. Descubra agora