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Rita
Olha, poucas coisas me estressam mais do que acordar 10 minutos antes que o despertador. Pego meu celular para checar as horas e são 6:50, fiquei acordada até às 4 horas da manhã refazendo e finalizando detalhes da minha apresentação de hoje a noite. Acho que é normal você esperar que no doutorado as pessoas sejam mais responsáveis, mas não, são exatamente iguais. Arthur, meu colega de sala enviou sua parte do trabalho era meia noite e pediu para conferirmos e ajustar o que achássemos necessário, os outros membros do grupo apenas ignoraram, eu não consegui. Resultado, tive apenas 3 horas de sono, o lado bom é que hoje é sexta, não só isso, mas também o última dia de aula, a partir de amanhã terei férias não somente das aulas, mas também do meu emprego.
Esqueci de falar, mas trabalho em um escritório de advocacia, na parte criminal. Inclusive acordei cedo apesar de trabalhar de home office, porque vou fazer visita a um dos meus clientes que foi preso recentemente.
Decido sair do quarto após aceitar que não vou conseguir voltar a dormir por 10 minutos. Logo dou de cara com Isabella, minha amiga que divide o apartamento comigo desde o mestrado, em uma posição super estranha de yoga. Ao perceber minha presença abre os olhos.
- Se não te conhecesse poderia dizer que essas olheiras são por causa de uma noite de bebidas e festas- da um sorriso torto e volta a se concentrar em suas posições.

- Quem dera minha diva, adivinha quem não fez sua parte direito para a apresentação de novo?- falo indo em direção ao banheiro para escovar os dentes.

- Porra, não sei como esse muleque conseguiu chegar aonde chegou, porque sinceramente nunca vi ninguém tão incompetente, - Isa desabafa com seu típico sotaque carioca-  mas mudando de assunto, animada para nossa viagem ao grandioso, belíssimo e único Rio de Janeiro??

Faz mais de 7 anos que somos amigas e essa vai ser a primeira vez que vou para passar bastante tempo, minhas férias toda.
- Estou contando os segundos pode acreditar.

O Rio fez eu me apaixonar por ele ainda no avião, apenas de ver a paisagem, em minha primeira visita anos atrás.

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Bem- me- quer da Rita Lee está estourando nos meus fones de ouvido enquanto vou até minha sala de aula para fazer minha última apresentação do semestre.
Chego na sala, tiro meus fones e cumprimentos todos meus colegas e a professora que já chegou e organiza a ordem de apresentação dos grupos. E é agora que
tudo começa a ficar mais real. Meu coração acelera enquanto observo os nomes dos grupos sendo chamados um a um. Minhas mãos começam a suar e sinto um nó se formando no estômago. Respiro fundo, tentando controlar a ansiedade que ameaça tomar conta de mim. Os minutos passam como horas enquanto aguardo minha vez. Observo os colegas à minha volta, todos parecem tão confiantes e preparados, até mesmo Arthur que sempre deixa para fazer as coisas de última hora.
Eu estudei bastante, preparei cada detalhe da apresentação, mas por dentro, uma voz insistente sussurra que talvez não seja o suficiente. O medo de falhar, de não corresponder às expectativas, cresce dentro de mim. Porém, minha primeira orientadora me ensinou que não posso deixar transparecer essas minhas inseguranças, pois o mundo acadêmico é uma máquina de roer gente, cada falha é usada contra você para desistir ou ser humilhada por pessoas que se acham mais inteligentes. Por isso, tento usar todas técnicas que minha querida terapeuta me ensinou. Começo a contar quantos pisos tem na sala e a me concentrar na minha respiração, enquanto estou fazendo isso o nome do meu grupo é chamado.
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No fim da apresentação de todos os grupos me despeço de cada um e já sigo para meu carro, ansiosa para arrumar minhas malas e seguir para o saudoso RJ, mas sou interrompida no meio do caminho com uma mão segurando meu pulso.
- Rita, espera.

Olho para trás e vejo os cabelos loiros com o sorriso mais falso que já vi em toda a minha vida e continuo calada.
- Que isso não precisa ficar com essa cara não.

- Arthur, por favor fala logo que estou com pressa.

- Só queria agradecer por ter refeito algumas partes minhas, a professora estava agora na sala elogiando, tive que desenrolar né, porque nem tinha visto os ajustes que você fez.

- De nada, mais alguma coisa?- falo ríspida para ver se ele percebe o quão ridículo e presunçosa é essa fala dele.

- Parabéns pela sua parte do trabalho, sei que as vezes você fica ansiosinha- diz em um tom de deboche.

- Obrigada pela preocupação Arthur, boas férias- digo em tom irônico e já saio andando para o carro.

Olha|chico moedas (em pausa)Onde histórias criam vida. Descubra agora