Olha|chico moedas (em pausa)

17.

Isabella

Flashback
06 anos atrás

O som suave da minha respiração sincroniza com o movimento fluido das minhas poses de yoga. É assim que gosto de começar meus dias, em completa harmonia, conectada com meu corpo e mente. Aqui em São Paulo, longe das praias do Rio, criei esse refúgio matinal. Sinto a luz do sol filtrando pelas janelas do apartamento que divido com Rita, aquecendo meu corpo e minha alma.

Após o último alongamento, deito-me no tapete e deixo minha mente vagar por alguns instantes. Sinto uma paz serena, uma calmaria que só o início do dia proporciona. Levanto-me devagar, enrolando meu tapete de yoga, e me dirijo até a cozinha para preparar meu café da manhã. Enquanto corto as frutas e os vegetais, vejo Rita saindo do quarto, com os olhos ligeiramente inchados e uma expressão abatida.

— Bom dia, amiga — digo suavemente, oferecendo-lhe um sorriso acolhedor.

— Bom dia, Isa — ela responde, a voz carregada de cansaço.

— Você não dormiu bem de novo, não é?

Ela balança a cabeça, passando a mão pelo cabelo de forma nervosa.

— O Arthur... Ele está estranho, Isa. Tem se afastado de mim nos últimos dias. Eu não sei o que fazer, não sei o que pensar. Sinto como se algo estivesse errado, mas ele não fala nada. — A angústia na voz de Rita é palpável.

Rita nos últimos meses tem se preocupado tanto com sua relação com Arthur que está deixando de lado uma das coisas mais importantes da sua vida, a sua carreira. Ele tem a distraído, fazendo com que não seja mais a menina confiante que conheci tempos atrás.

Paro de cortar os vegetais e me aproximo dela, pegando suas mãos nas minhas.

— Você falou com ele sobre isso? Perguntou o que está acontecendo? — Apesar de eu odiar Arthur e já ter alertado Rita, ele se tornou muito importante para ela.

— Tentei, mas ele sempre desvia o assunto, diz que está ocupado, que é coisa da minha cabeça. Mas eu sei que não é. — Seus olhos começam a se encher de lágrimas.

— Ei, calma — digo, abraçando-a. — Nós vamos descobrir o que está acontecendo. Eu estou aqui para você, sempre estive. Você não está sozinha nessa.

Ela me abraça de volta, um abraço carregado de medo e incerteza. Sinto meu coração apertar por ela, e uma raiva silenciosa começa a se formar dentro de mim.

O dia passa de forma estranhamente lenta. Rita saiu para o trabalho, e eu tento me concentrar nas minhas leituras e pesquisas do mestrado em literatura brasileira, mas minha mente continua voltando para minha amiga. A preocupação me consome. O que Arthur está escondendo?

Como geralmente faço na parte da tarde, vou até uma cafeteria perto da USP. O aroma de café fresco e o som suave de conversas ao fundo me ajudam a pensar. Escolho uma mesa no canto, abro meu laptop e começo a revisar alguns artigos. Perco a noção do tempo até que meu celular vibra. É uma mensagem de Luiza, minha prima que mora no Rio.

Luiza
Oiiii querida sumida! Você acha que a Rita vai mesmo conseguir vir pro Rio no mês que vem? Tô ansiosa dms pra conhecer essa menina que você fala tanto.

Sorrio ao ler a mensagem, e decido ligar para ela. A voz alegre de Luiza atende do outro lado.

— Oi, prima! Como você tá?

— Tudo bem. E você? Como estão as coisas por aí?

— Bem, tirando alguns problemas aqui e ali a vida continua maravilhosa, a yoga tem me ajudado tanto. E sim, acho que ela vai conseguir ir pro Rio. Ela está precisando de uma pausa, de qualquer forma.

— Que bom! Vamos andar por todo esse Rio de Janeiro com ela. E a semana que vocês vão estar aqui vai ser meu aniversário de 1 ano de namoro com o Gui, ai saímos todos juntos para comemorar.

— Porra como assim já faz 1 ano que vocês estão juntos e eu não conheço essa figura.

— É né Isabella, ninguém mandou ir fazer mestrado em SP e esquecer a família — fala com uma raiva falsa.

— Ahh vir me ver ninguém quer né? — Rebato também fingindo estar brava.

Nós damos risada e nos despedimos, ansiosas para nos encontrar.

Conversar com Luiza é sempre uma alegria,
mas a preocupação com Rita ainda persiste. Passo o restante da tarde na cafeteria, imersa em meus estudos.

Quando a noite finalmente chega, volto para o apartamento, sentindo uma inquietação crescente. Abro a porta e encontro Rita sentada no sofá, chorando descontroladamente. O cenário que encontro é devastador. Seus olhos estão vermelhos e inchados, o rosto molhado de lágrimas.

— Rita, meu Deus, o que aconteceu? — corro até ela, sentando ao seu lado e a abraçando com força.

— Ele... Ele roubou minha dissertação, Isa. Arthur apresentou minhas ideias como se fossem dele. — As palavras saem em soluços entrecortados.

A notícia cai como uma bomba, e sinto minha raiva crescer exponencialmente. Como ele pôde fazer isso com ela? Como alguém que frequentou diariamente esse apartamento poderia ser tão traiçoeiro?

— Aquele desgraçado... — murmuro, sentindo a fúria queimando dentro de mim. — Rita, isso é inaceitável. Nós vamos dar um jeito nisso, você vai ver. Não vamos deixar ele sair impune.

Antes que possa continuar, ouvimos algumas batidas forte na porta. Meu coração acelera, e sinto Rita encolher ao meu lado. Levanto-me e vou até a porta, preparada para enfrentar o que vier. Ao abrir, encontro Arthur, com o rosto distorcido pela raiva.

— Onde ela está? — ele grita, tentando empurrar a porta.

— O que você quer, Arthur? — pergunto, minha voz firme, mas carregada de desprezo.

— Eu preciso falar com ela. Ela vai acabar com minha carreira se continuar falando merdas como as que falou para o Dr. Luis Fernando!

— Caralho, você roubou a dissertação dela, seu idiota! Você não tem nada a dizer aqui. Saia antes que eu chame a polícia.

— Vocês duas nunca vão conseguir descredibilizar o meu trabalho. Eu sou o melhor, e todo mundo sabe disso. Rita pensou que eu estava com ela por quê? Porque ela é especial? — Ele ri, cruel. — Ela era apenas um trampolim, nada mais.

— Trampolim é a puta que te pariu, Arthur! Você não tem ideia do que é fazer um trabalho de verdade. Você só sabe usar os outros pra se dar bem. Mas isso vai acabar, seu filho da puta!

Ele tenta entrar empurrando a porta, mas não dou espaço. Fecho a porta com força, bloqueando-o. Ouço Rita soluçar no sofá, e meu coração se parte por ela. Ela não merece isso. Ela merece todo o sucesso e reconhecimento pelo trabalho árduo que fez.

Volto para o lado dela, abraçando-a novamente.

— Ele não vai nos incomodar mais. Eu prometo, Rita. Vamos encontrar uma maneira de corrigir isso. Eu estou aqui para você, sempre estarei.

Sinto o peso da responsabilidade sobre meus ombros, mas também sinto uma determinação feroz. Vou proteger Rita para sempre, não importa o que aconteça.
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O lado da história da diva incompreendida, Isabella!!
Espero que vocês tenham gostado desse flashback, a raiva de Arthur só aumenta.
⭐️