um novo mundo

a bruxa não vai queimar

Sidonia não sabia dizer se era muita sorte ou muito azar cair no meio de uma vila abandonada, abandonada não. Pois lá estava infestado de vampiros. Eles conseguiram sair de lá quase sem nenhum dano, mas agora estavam atrás de Calisto, onde a dríade podia ter se metido? o farfalhar das folhas na noite fria e úmida era assustador, pelo menos não estava chovendo, mas os dias de chuva consecutivos deixavam seus rastros, a lama lhe grudava os pés, ela não estava acostumada a andar tanto então usava apenas saltos e um dos pares tinham se perdido na vila enquanto o outro acabava de afundar na lama. Ela praguejou silenciosamente e simplesmente abandonou ele lá, cravado na lama e começou a andar descalça. Fazia tempo que ela não fazia isso,  lembrou que costumava passar horas com os pés no chão e quando chovia passava mais horas ainda na lama para ter uma devida conexão com a natureza. Isso claro, quando era muito novinha, ela começou a estudar bruxaria com 15 anos, amassando algumas folhas e ervas para saber o que daria no final, era curiosa e com o tempo inventou muitas receitas,  percebeu que levava jeito e acabou pegando gosto.
Foi então que começou a ir furtivamente ao lago e entrar nele para tomar banhos de lua, passava a madrugada adentro sempre buscando novas ervas e tomando banhos.
Os elementos cediam as suas vontades facilmente, ela encontrava facilmente tudo que queria em relação às frutas e plantas, sabia exatamente os ventos da virada de tempo e solstícios, sempre que precisava a água ficava mais que cristalina e calma para pegar peixes, seu único problema era com o fogo. Aquele elemento era difícil de se controlar, sempre que tentava algo com ele se queimava, as velas que ascendia não ficavam muito tempo acesas e suas chamas não acalmavam, até mesmo para ascender a lareira era difícil.

A bruxa não entendia o porquê e não desistia de tentar e claro que isso atraiu olhares dos moradores de sua vila, ela já não era muito comum, era muito esperta e tinha facilidade na escola, para completar sua aparência não era das melhores, graças aos seus cabelos armados, sua tonalidade de pele e suas espinhas ninguém falava muito com ela.

Com o tempo ela foi se tornando mais habilidosa, obvio que tinha que esconder da sua mãe, seu pai estava lutando em uma guerra, um grande general da vila e isso fazia com que ela tivesse uma boa vida e muitos empregados, ela tinha que driblar todos eles, era mais difícil fugir deles do que de sua própria mãe, até que um dia um livro foi lhe entregue por uma empregada velha que ela jamais havia visto, achou que era uma cozinheira nova mas não conseguiu encontrá-la.
O livro era velho e cheirava mofo, mas por dentro estava bem conservado, algumas coisas a pequena Sidonia entendia, misturas de ervas que ela mesma havia feito, sem saber sua utilidade, agora estavam ali, cada coisa que ela tinha feito estava o significado nos livros desde chás para curar gripes e rituais para a lua e o sol.
Após dois dias que tinha ganhado o livro toda a cidade foi convocada em praça pública com a anunciação de que haviam pegado uma bruxa, ao chegar com sua mãe tamanha surpresa foi a dela ao ver que a pessoa amarrada naquela grande fogueira era a senhora que lhe deu o livro. Ela estava com os olhos roxos, com vários cortes e sinal de espancamento, mesmo com seus olhos quase fechados de tão inchado ela olhava fixamente para Sidonia que entendeu o que estava acontecendo, aquela mulher sabia que morreria e tinha que passar os conhecimentos para frente, ela havia revelado em segredo o que era e mostrados para Sidonia o que ela mesma era, uma bruxa. Ninguém mais notou aquela interação e quando a fogueira ardeu queimando aquela senhora que aparentava ter 100 anos os ventos sopravam e ela viu uma aura branca ser carregada com ele. Ela tinha vontade de chorar, mas não podia, seria muito suspeito. Ela sabia  que notariam e aquilo servira de lição, era assim que o mundo via pessoas como ela, precisava tomar cuidado ou também morreria na fogueira.

Sidonia chegou em casa correndo e foi direto para o quarto, ao trancar a porta pegou o livro que havia ganhado, era pequeno e feitos a mão, com poucos detalhes que só agora ela tinha dado importância, pegou algumas folhas e criou uma nova escrita, precisava transcrever aquilo de uma forma que jamais ninguém entenderia, os escritos da senhora não podiam se perder, mas se fossem achados com ela, seria seu fim.