O corpo seco

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Fëanor e Elbereth haviam saido do castelo, era por volta de 7 da manhã quando eles foram andar pela capital, o cheiro de pão assando estava consumindo as ruas e se misturando a brisa de orvalho fresco da manhã, as ruas estavam quietas, sem os barulhos da feira que começava a montar suas barracas, Fëanor se lembrou do rio que havia perto das beiras da grande cidade. Ele e sua irmã foram ver o rio que há muitos anos encantava qualquer um do interior que ouvia sobre sua beleza pela cantoria dos bardos, mas quando chegaram ao tão "esbelto, abundante, brilhante, largo e cristalino" rio das tal histórias tiveram uma grande decepção.
" Não sabia que existia peixe de fezes" comentou Fëanor decepcionado. É verdade, outrora o rio que contornava capital até poderia ter sido
cristalino e calmo mas agora devido a falta de cuidados e abusos dos cidadões que gastavam sua água e jogavam lixo nele, ele tinha se tornado um fio de água suja e enlamaçada. Um grande esgoto a céu aberto. Não havia vida naquela água, o odor era pavoroso e quando os irmãos estavam prestes a ir embora Elbereth avistou algo que lhe chamou a atenção.
Ela correu ate um aparente "monte de lama" e Fëanor a seguiu, quando chegaram perto perceberam que nao se tratava de um monte de lama e sim de uma pessoa ja sem vida. Um corpo de um mendigo presumiram pelas vestes.
Não estava lá a mais que dois dias.

- olha não sei por que está tao surpresa irmã, sabe que pessoas que não tem uma casa sempre acabam assim, vemos isso a vida toda... As vezes a fome, a sede, o frio mata as pessoas. As pestes também, olha este lugar. É uma festa de doenças, há mais ratos aqui que população. - disse Fëanor tentando entender o porque de sua irmã estar tão interessada no mendigo.

- sim irmão eu concordo, nós mesmo ja vimos isto acontecer centenas de vezes mas desta vez é diferente, olhe... - disse ela fazendo seu irmão se aproximar do corpo.

- seco... Não há sangue em seu corpo. - disse Fëanor estupefato.

- como se alguma coisa houvesse sugado todo seu sangue - disse sua irmã continuando o pensamento de Fëanor.

- assim como a história do bardo, então suponho que realmente bardos contem a verdade...

- é... Vamos embora, temos que avisar o principe, existe alguma criatura aqui matando. - disse Elbereth e ambos sairam andando.

Ao chegarem no castelo notaram que os servos se afastavam deles na medida que iam passando, nada de novo. Qualquer humano faria isso, todos sabiam da reputação dos elfos, ou achavam que sabiam. O que eles sabiam era apenas o que as lendas contavam, o passar dos anos distorceu as histórias que um dia foram verdade. Sempre há uma história de terror para assustar as criancinhas, como as bruxas que as comiam se elas desobedecerem, os monstros de árvore que pegavam elas caso as mesmas fugissem de casa, cada criatura mística foi endemonizada pelos humanos e não era diferente com os elfos a mais conhecida era a do ", elfo demônio" que cortava a língua de crianças mentirosas e respondonas e depois as matavam.
Os irmãos chegaram no trono onde o príncipe se sentava e foram falar com ele mas antes de abrirem a boca o principe falou.

- eu achei que vocês ja tinham saido da cidade... Que bom que não partiram sem me dizer adeus.

- não partimos... - disse Elbereth. - precisamos conversar alteza, hoje estavamos andando pela cidade quando achamos um mendigo morto.

- um mendigo? Mais o que isso importa?? - queixou o principe com desdém.

- normalmente não importa é verdade, mas sabe... O homem foi atacado e o ataque me pareceu bem estranho, não havia sangue em seu corpo, o corpo estava seco. Eu ouvi uma história de um bardo antes de vir para cá, de que a cidade anda sofrendo muitos ataques assim, creio que a cidade pode estar em perigo... - antes de Fëanor continuar a falar Deimos o interrompeu.

- um bardo, acredita nas histórias de um bardo bebum? Além disso minha cidade não esta sobre perigo! Estamos muito bem armados e preparados, não ouvi nada sobre ataques deste tipo e pode ser que o mendigo tenha sangrado ate a morte e por isso não havia sangue em seu corpo, vocês estão se preocupando de mais com essas escórias, as pessoas andam felizes e alegres aqui, não há motivo para temer!

- será que não? Não vimos realmente nenhuma festança à noite... - rebateu Elbereth

Os olhos de Deimos "faiscaram," Elbereth podia até jurar que ficaram mais vermelhos, ele se levantou e foi até eles.

- entendam meus amigos, não há festas pois estamos poupando para o retorno de meus pais, eles estão fora e eu estou no comando, garanto que a cidade esta segura, temos guardas em todos os lugares. Não falem mais de corpos secos por ai, é difícil controlar fofocas neste castelo e não quero causar pânico coletivo em todos. É difícil fazer com que confiem em um principe tão jovem quanto eu, por favor não estraguem a confiança que meus súditos tem por mim.

- nós nunca... - começou Fëanor mas foi interrompido novamente.

- sei que não é vossa intenção. Bom, tenho presentes para vocês. - disse o principe desviando a conversa e chamando um criado que foi buscar os presentes enquanto Deimos volta a se sentar no trono.

- por que sempre sou interrompido?? - cochichou Fëanor bravo para Elbereth.

- não sei, mas sempre acontece, alguma maldição talvez? "Você nunca mais falará uma frase completa pelo resto da vida" isso soa familiar? - disse Elbereth cochichando de volta quando o criado voltou com dois sacos e deu para os irmãos. Os sacos estavam cheios de moedas de bronze, prata e ate mesmo ouro.

- considere minhas desculpas por terem que passar por esta vergonha em meu reino, é um presente para vossa partida, meu leal lacaio Cistor irá acompanhar vocês ate o portão para sua partida, adeus meus amigos - disse Deimos sorrindo e os abraçando.

Os irmãos se entre olharam, em momento nenhum falaram de partir, porem agora nao tinham mais motivos para ficar lá então agradecerem dizendo um "obrigado e ate logo", e seguiram Cistor ate o portão. Guardas ja estavam com as mochilas deles em mão quando deixaram a sala do trono e eles a pegaram agradecendo. Ao chegar no portão principal antes de ir embora Cistor contou algo suspeito.

- ate mais meus amigos! - disse o lacaio abraçando eles ao mesmo tempo e os puxando para baixo. - eu não voltaria aqui se fosse vocês, este lugar está doente. - cochichou o homem em seus ouvidos os soltando. Os elfos se entre olharam meio confusos e partiram, saindo da cidade por volta do meio dia.

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