Nada dura para sempre.

3 0 0
                                    

Estava chovendo.

Fëanor observava o estranho círculo, Calisto estava com a cara enfiada em um livro, Elbereth estava fazendo a comida na cozinha em silêncio. Ele observou a irmã da sala, ela não falava mais com ele, não sorria e tinha uma aparência de continua tristeza, ele não via a de dreads assim desde a infância. Distante e silenciosa. Mas focada. Determinada. Isso assustava o Albino que decidiu desviar o foco para outra coisa antes que se perdesse tentando imaginar o que se passa na cabeça de sua irmã.
Ao seu lado estava Sidônia, ele a olhou, seus labios estavam entreabertos, a respiração calma, um pouco do cabelo caído em seu rosto, um fio grudava em sua bochecha, seu cheiro era de mel e rosas, um cheiro doce e marcante, ninguem tinha esse cheiro apenas ela, ele olhou para a adaga que ela brincava tao focada, então olhou para as mãos dela finas, delicadas e com as pontas um pouco amareladas, as maos de quem amassava ervas para feitiços e chás, ele tentou voltar a si, não podia ficar tão perto dela porque ele se perdia pensando em seus detalhes.

Ele subiu os olhos ate o rosto dela e  percebeu que ela o olhava, rapidamente ele ajeitou a postura e desviou o olhar para uma pulseira em seu braço que automaticamente pareceu muito interessante.

Sidônia riu

- por que não olha para mim Nor? - disse ela  virando o rosto dele fazendo-o encara-la - Eu não mordo.

Ele a encarou, ela sabia que ele cederia a ela, sabia como fazer ele ceder, elfo ou humano todos os homens são iguais e Sidônia definitivamente era uma mulher que sabia controlar homens.
Fëanor era mais facil ainda, embora temperamental, carrancudo, insuportável e mulherengo ele precisava de afeto, todo mundo precisa.
Era facil saber o que ele queria, eles estavam ha 60 dias de buscas e nenhuma pista, Cian estava brincando com eles, fazia também 60 dias que Sidônia mal falava com Fëanor,  nos primeiros dias ele a procurava mas ela se negava, isso obviamente feriu o ego do elfo que passou a ignorar ela, mas agora ele estava cansado da busca, irritado por ser feito de otario por um sanguessuga e cansado de fingir que não se importava com ela. Era isso que ela queria, castigar ele por sempre sumir, sentir o que ela sentia cada vez que ele com a irmã iam embora de sua casa como se ela não significasse nada, como se as noites juntos não significasse nada.

E agora ela também ja estava cansada de castiga-lo.

Eles estavam cansados de fingir que não se importavam, naquela noite ambos deixariam o orgulho de lado pelo menos até o amanhecer frio e nebuloso que se seguiria.

Elbereth fez a comida, estava desolada por mais que não admitisse, ela se sentia morta, algo morreu com Demétrio, morreu ao ver que não poderia salvá-lo assim como não salvou seus pais, jurou nunca amar justamente para não sofrer com uma perda e mesmo assim ignorando seus instintos ela se entregou e isso os levou ao caos.

Ela via Feannor e Sidonia juntos, não era cega, sabia que ele a amava, mas seu irmão era mais inteligente que ela, mais focado e centrado, mais forte.

Ele mesmo quando percebia certa proximidade excessiva com Sidonia dava um jeito de foder com a relação.

O que substituía o amor por ódio momentâneo dando tempo para não se intensificar o suficiente, porém a relação deles era diferente, eles jamais tinham fingido ser o que não eram, Sidonia já tinha presenciado Feannor ser um monstro letal quando queria e ele também já tinha visto Sidonia destruir casas inteiras com pessoas dentro, eles sabiam suas sombras, suas curiosidades e não se importavam. foi Elbereth que tentou algo baseado em mentira e enganação. Achou que não passaria de sexo, que não sentiria nada por um humano.

Mas estava enganada, ela se apaixonou por cada mínimo detalhe dele, e o medo de ele descobrir quem e o que ela era a apavorou de tal forma que lhe forçou a se esconder, no final, foi isso que o matou.

Era culpa dela, somente dela. Tudo lembrava ele, ela não perdeu uma paixão, ela matou um amor, enterrou uma pessoa inocente e tirou um filho de seus pais e agora ela iria ter que conviver com isso para sempre. As lágrimas escorriam soltas pelo seu rosto enquanto ela estava perdida em pensamentos que ela nem reparou a dríade a abraçando por trás das costas, era estranho seu toque, meio áspero e duro, como abraçar uma arvore, mas essa lhe retribuía o abraço, por mais esquisito que fosse era reconfortante.

Calisto ficou ali sem dizer uma palavra, a afastou da sopa no fogão só para ela não chorar no alimento, ela a confortou em seus braços, aquela foi a garota que a tirou do inferno, que a aceitou, não deixaria ela sofrer sozinha, aquela que não chorava desde a morte do humano. Calisto ficou aliviada ao vê-la o fazer, sabia que depois disso teria sua amiga de volta pois esses dias todos estavam ao lado de uma desconhecida que agia em modo automático.

Elbereth chorou a abraçando e se aconchegou em seus braços em silêncio, não queria perturbar os outros e Calisto notou isso pois se certificou de que Feannor e Sidonia não a vissem.

Quando finalmente se recompôs, não teve vergonha de olhar para a dríade e sussurrar um ´ obrigada ´ e ir lavar o rosto. Calisto a esperou sair e chamou a todos para comer, ela não era boba passou avida em cativeiro em um bordel, sabia o que era tensão sexual e honestamente a bruxa e o albino dariam para cortar com a faca.

esperava que a noite eles resolvessem isso, não era nada confortável ficar em um campo minado como esse. Tudo naquele estranho grupo era esquisito, parecia que o clima sempre pesava e estranhas sombras pairavam deles, Elbereth e Feannor a maior parte do tempo não se falavam embora ficassem praticamente o dia todo treinando juntos, para ela o silencio era incomodo, mas para eles era comum, Sidonia e Feannor não podiam ficar juntos muito tempo que já discutiam e Sidonia e Elbereth ficavam lendo o dia todos. Ela se sentia uma intrusa apesar de ser a única que conseguia conversar com as meninas sempre que se deparava com Feannor ele mal lhe dirigia a palavra. Ela observava as atitudes de todos e pelo jeito sempre foi assim. O silêncio e o caos eram parceiros na empreitada.

Talvez estivesse louca pois sentia até mesmo falta do barulho e irmandade das mulheres no bordel. Elas conservam, em meio a toda violência que eram expostas, a única forma de manter a sanidade era conversar e se apoiarem.

Isso não acontecia no estranho grupo, eles se apoiavam de forma silenciosa, não falavam só demonstravam com pequenas atitudes, parada ali sentada na mesa ao redor do grupo ela sentiu vontade de rir. Não sabia que tinha essa forma de amar. Tudo que conhecia era o amor momentâneo, o sexo, o amar o ato do prazer e não um sentimento de proteção ´pois mesmo que conversasse não tinha esse tipo de proteção de onde viera.

em muito tempo sentiu que estava tudo bem e tudo iria ficar bem. mas nada dura para sempre, sentimentos e pensamentos são voláteis.

Em meio aquela refeição, o caos explodiu pela porta principal quando ela foi jogada longe.

um novo mundoOnde histórias criam vida. Descubra agora