Quando cheguei no Grande Carvalho ela não estava lá. Esperei por horas incontáveis... E nada dela.
- Suzuki vamos procurá - lá.
Meu dragão seguiu na minha frente.
A Academia estava silenciosa e quieta. Nada de gritos e risadas. Eu não sabia onde era o quarto dela, nem se ela tinha quarto. Será que dormia com o... príncipe?
Bani esses pensamentos rapidamente ao subir as escadas de um dos inúmeros corredores.
E agora? Direita ou esquerda?
Segui a pela direita e Suzuki pela esquerda. Cheguei ao final do meu lado e vi que era sem saída. Voltei por onde tinha vindo.
Ao longo do corredor, percebi que cada porta tinha o nome do seu inquilino. Encontrei vários, menos de Cecília, ou o príncipe.
Avistei uma sombra. Não era Suzuki, parecia uma pessoa. Notei que a pessoa estava petrificada, provavelmente de medo. Me aproximei sem que ela percebesse e reconheci aqueles longos cabelos mesmo no escuro.
Cecília...
Ela estava realmente petrificada. Com certeza iria gritar se eu a chamasse de repente, então pus minha mão sobre sua boca para que não gritasse.
- Xiu.
Ela tremia. Sua respiração estava irregular.
Do que ela estava com medo?
Olhei para a direção que ela olhava e vi um pequeno réptil de olhos castanhos e pele lilás: Suzuki.
- Calma, pequena. - Sussurrei em seu ouvido.
Ela relaxou um pouco ao ouvir minha voz, senti sua respiração voltar a normal. Delicadamente tirei minha mão de sua boca.
Cecília levou a mão no coração, acelerado.
- Você... Quase me matou. - Ela disse, baixinho.
- Sinto muito. - Pedi, puxando-a para perto de mim. - Não quis assustá-la.
- Tudo bem. É que vi um bicho...
- Fala de Suzuki?
- Suzuki?!
Chamei meu pequeno servo que subiu até meu ombro.
- Co-como ficou tão pequeno?!
- Ora, eu tinha que me ocupar essa semana que estive longe... É um feitiço chamado "enganação". O servo fica no tamanho de bolso, deixando o inimigo confiante da vitória, quando na verdade não sabe de nada. - Expliquei. - O ponto negativo é que ele não pode voar neste tamanho.
- Entendi... - Ela disse, acariciando a cabeça de Suzuki. - Eu estava indo te encontrar no Carvalho. Mas estava perdida...
Corei sem perceber. Agradeci ela não ter visto por causa da escuridão.
- Então vamos. Dessa vez não vai se perder.
Peguei sua mão como desculpa para ela não se perder, mas na verdade só queria segurá-la. Era delicada e macia.
Descemos as escadas até o corredor principal, perto do Bloco Norte. Depois do incêndio ele foi completamente reformado. Estava novinho em folha.
- Então... Como o Príncipe tem agido ultimamente? - Perguntei, quebrando o silêncio enquanto andávamos pelo jardim escuro.
Ela pareceu tensa.
- Bom... Ele tá normal.
- Mesmo? - Não acreditei. - Ele desistiu do noivado?
Ela soltou uma risada seca.
- Não.
- Ah sim...
Eu sabia que ainda havia sentimentos entre os dois. Me incomodava saber disso, mas não reclamei ou aprofundei o assunto.
Continuamos andando em silêncio. A noite estava linda, fria e cheia de estrelas.
- Jhon...
- Sim?
- Como é sua família?
Minha família...
- Eu não sei. Nunca a conheci.
- Nunca? - Ela parou de andar e me encarou.
- Não. Eu fui encontrado na porta da Academia Garth. O pai do Capitão Benjamin me achou e me criou. - Expliquei. - Eu não o chamo de pai, mas é como se o General Mauricie fosse.
- Sinto muito.
Ela estava triste por mim. A carreguei no colo que nem criança.
- Jhon! Me solta! - Ela riu.
- Não fica triste, pequena. Eu fui criado com amor e carinho. Não trocaria minha família por nada.
E não trocaria mesmo. Benjamin era como um irmão pra mim e Sr. Mauricie e Dona Maria eram mais que pais. Eu os amava.
- Fico mais tranquila então. - Ceci sorriu e encostou a cabeça em meu peito. Será que conseguia ouvir meu coração acelerado??
Tentei mudar sua atenção.
- E a sua? Deve estar com saudades...
- Ah não, eu também não tenho família.
Como não?
- Eles morreram quando eu era criança. Desde então sou sozinha.
Ela conseguia dizer isso com uma droga de sorriso no rosto. Como tinha ficado tão forte?
- Tenho certeza que teriam orgulho de você. - Eu disse, colocando a no chão. Já estávamos no Carvalho.
Ela sorriu. Mais pra mim do que pra ela.
Sentamos na grama e olhamos as estrelas. Já passavam da meia noite, logo iria amanhecer.
- Por que toda vez que estou com você o dia e a noite ficam mais bonitos? - Ela perguntou encostando a cabeça em meu ombro. Seu comentário me fez corar.
- Engraçado... Ia te perguntar a mesma coisa.
Ela riu de leve e num movimento brusco deu um beijo na minha bochecha.
- Obrigada... Por deixar meus dias mais divertidos. Você sempre sabe quando tem que aparecer e o que tem que fazer.
Toquei seu rosto com a palma da mão e me aproximei devagar. Minha respiração estava irregular, nossos corações acelerados, nossos lábios a centímetros um do outro.
Cecília, eu te...
- Posso saber o quê significa isso?
Droga. Droga. Droga! Ele não podia aparecer depois?!
Ramon estava a alguns metros de distância, sem camisa e descalço.
- Ramon... O que faz aqui? - Ela perguntou, visivelmente envergonhada.
Levantamos e ela ficou na minha frente.
- O que eu faço aqui? Ora cara Cecília, esta amanhecendo e você não está na cama. É óbvio que vim procurá-la... É perigoso ficar fora quando pode ser sequestrada por um Rei velho e maluco.
Hugh?
- Estou com Jhonatan. Ele pode me proteger. - Sua mão procurou a minha e eu a peguei.
- Ceci, sei que esta irritada comigo desde que te bati, mas você...
- Você... o quê?!
Soltei a mão de Ceci e agarrei o príncipe pelo pescoço.
- Você... BATEU NELA?! Como um futuro Rei bate no seu servo? Principalmente em uma garota!
Como ele podia ser tão covarde a ponto de bater nela?
Eu amava Ceci, e tudo que eu menos queria era vê-la machucada.
Vou matar você... nem que me prendam, nem que me matem... e vou matar você.
Eu ia acabar com isso. E seria naquele momento.
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Amor entre mundos (Readaptação)
RandomEnquanto ele vive num mundo de magia, ela vive no mundo real. Eles não se conhecem. Mas por coincidência ou não, suas vidas se cruzarão.