Toc-Toc
-Entre.
Toc-toc
-Entre.
Toc-toc
-QUAL O PROBLEMA ENTRE DE UMA VEZ?! -Gritei, furioso.
Nunca acordava de bom humor. Principalmente tão cedo.
A porta abriu timidamente.
-Sr. Linut?
Gelei. Ninguém me chamava pelo sobrenome. Pelo menos ninguém da academia.
Me endireitei na cama e falei formalmente:
-Pode entrar.
Entre a escuridão do corredor um senhor de cabelos brancos entrou. Eu o conhecia.
-Malcon?
-Alteza, perdão por incomoda-lo tão cedo.
-Tudo bem. O que houve?
Malcon era o mordomo da família há anos. Me conhecia desde criança.
-Já está na hora de voltar à academia.
Ah sim, eu havia esquecido que voltei no fim de semana para casa.
-Tudo bem. Vou me arrumar.
Malcon pediu licença e saiu do quarto.
Minha mala não estava desfeita então colequei nela o restante das roupas. Vesti meu uniforme depressa. O uniforme masculino da academia era composto de uma calça azul social e uma blusa branca de manga média. Uma gravata azul escuro e sapatos pretos completavam o uniforme. É claro que havia aqueles que não obedeciam as regras. Alguns não usavam gravata, deixavam a blusa aberta. Como príncipe eu tinha que obedecer às regras. Por mais chato que fosse.
Peguei minha mala e desci as escadas rumo à carruagem que já me aguardava.
-Bom dia Alteza. -Escutei alguém dizer.
Virei-me e vi minha mãe na porta de seu quarto.
-Bom dia mãe.
Ver todos me chamando de Alteza me dava certa raiva.
Ruan, meu irmão com dois anos de diferença, passou por mim sem dizer nada. Ele não suportava a idéia de ter que cuidar de guerras enquanto eu ficava com o trono.
-Ruan... - Mamãe quis segui-lo.
-Deixe mamãe, deixe. -A impedi segurando em seu ombro.
Nossa... Ali, tão perto de mamãe reparei o quanto ela estava ficando menor, mais frágil.
Há quanto tempo eu não reparava nela? Há quanto tempo não vinha para casa?
Mesmo sendo príncipe cuidava de minhas responsabilidades na academia. Por que eu tinha que fazer isso?
-Estou indo mãe. -Eu disse antes que ela notasse a confusão estampada em meu rosto.
Desci as escadas e entrei na carruagem. Meus irmãos já estavam lá.
Ruan, 15 anos, era o segundo na "Fila do trono". Assim como papai, tinha cabelos loiros, mas seus olhos castanhos vieram de mamãe.
Justin, 14 anos. Era o mais normal da família. Se comportava como uma pessoa normal, não ligava se era ou não da realeza. Era a cópia de mamãe. Olhos castanhos e cabelos negros com sardas em suas bochechas.
-Ramon. -Justin chamou. Ele era um dos poucos que não se comportava formalmente e me chamava pelo nome. -Amanhã é a sua Cerimônia Servidora certo?
Assenti com a cabeça. Todos estavam ansiosos.
-Vai me ver? -Perguntei, sorrindo. Esperava esse dia desde que entrei na academia.
-Claro. Todos vão!
A Cerimônia Servidora era um rito de passagem para os alunos do último ano. Nessa cerimônia cada futuro mago invocava um servo que passaria o resto da vida ao seu lado.
Todos estavam ansiosos para conhecer seus futuros parceiros.
Eu também. Meu servo seria real e me ajudaria no meu reinado. Embora eu não quisesse muito ser Rei...
-Que animal será que vai pegar? Será que vai ser uma coruja como mamãe ou um leão como papai?
Papai tinha um servo ótimo. Digno de sua posição no reino. A coruja de mamãe era calma e inteligente como ela. Os servos são muito parecidos com seus mestres. Eu estava louco para conhecer o meu.
Por o outro lado... Um bom servo digno de respeito só apareceria se o mago em questão fosse bom e soubesse lidar com seu poder. Eu tinha medo de não estar preparado e invocar algo vergonhoso.
-Eu não sei.... Mas se o pudesse escolher, queria um servo feroz e forte.
-Quando for minha vez, quero um bem fofo. - Disse Agnes.
Agnes, 14 anos. Justin e ela eram gêmeos. Minha pequena irmã era menor que ele mas igualmente inteligente e com os mesmos olhos castanhos e cabelos negros.
-Meninas. -Ruan revirou os olhos.
-Qual você escolheria então príncipe rabugento? -Retrucou Agnes, arrancando risos meus e de Justin.
-Um dragão. Invencível. -Ele sorriu, convencido.
Rimos alto.
Dragões só eram invocados por grandes magos. E contava - se nos dedos o número de dragões no país.
-Boa sorte então, caro irmão.
Ficamos em silêncio até chegarmos a Academia Mágica Diond.
Nossa carruagem parou na entrada da Academia. Agradeci ao descer por último.
Estava lotada de gente, como sempre. Magos de todos os cantos estudavam aqui. Na melhor academia do país.
Ruan logo foi embora com seus amigos do segundo ano.
Agnes e Justin se dispediram e logo foram para sua aula.
Enquanto eu caminhava até a sala, olhares femininos me acompanhavam. Eu já havia acostumado mas hoje estava pior.
Vi Ethan, um amigo no corredor e ao passar por ele o puxei pela gravata.
-Ai, ai, ai.... Assim vai me matar enforcado Ramon.
Coloquei meu braço em seu ombro e me aproximei de seu rosto.
-Diga-me, caro Ethan Bessa. Por que o fluxo de olhares em mim esta maior que o normal?
-Hã? Você não sabe?
Parei de andar e tirei o braço de seu ombro.
-O quê não sei?
-Elas estão agitadas por causa de amanhã. Você é a grande aposta delas. Por ser o futuro Rei todos contam com você para invocar o melhor servo. Vai chover mulher para você, caro amigo.
Bufe. Eu odiava atenção.
-Me diga que não pode piorar...
-Ramon!! - Alguém gritou e pulou em meus braços.
Quando o alguém levantou a cabeça o reconheci pelos lindos olhos rubi.
-Eliza. Bom dia. -Sorri.
-Já soube? O diretor liberou todas as turmas amanhã para nos ver! -Ela dava pulinhos. Eliza adorava atenção.
Assim como todas as meninas, Eliza usava uma saia azul escuro e uma blusa branca de manga comprida, embora sua saia esteja mais curta e sua blusa mais aberta do que o normal.
Suspirei.
-Eu mereço.
Sentei no mesmo lugar de sempre, ao lado da janela.
Fiquei imaginando se meu servo poderia me compreender como ninguém compreendia. E se seria como o "eu" que ninguém conhece...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Amor entre mundos (Readaptação)
DiversosEnquanto ele vive num mundo de magia, ela vive no mundo real. Eles não se conhecem. Mas por coincidência ou não, suas vidas se cruzarão.