Prisioneira

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Sangue...

Suor...

Aquele cheiro estava me enojado.
Não sei quantos dias se passaram desde que o Rei maluco e asqueroso me pegou.

Depois que apaguei na estrada fui trazida para algum castelo, não sei ao certo qual. Fui colocada em um calabouço pequeno e imundo.

Todos os dias o rei vinha acompanhado de seus dois capangas: O cabelo de fogo, Malcon; e o de cabelo verde, que descobri se chamar Augusto. Eles tentavam a qualquer custo tirar alguma informação de mim, alguma coisa valiosa para eles.

É claro que eu não dizia nada. Até porque eu realmente não sabia, era apenas uma serva. Mas eles não sabiam disso.

E como eu não dizia, era torturada. Me batiam e ameaçavam; eu ficava a maior parte do tempo presa em correntes, pendurada no meio da sala. Meus pulsos já estavam machucados pelo esforço e atrito com as algemas enferrujadas. Quase não comia também; água nem se fala... Eu já estava desejando que me matassem.

John... eu queria tanto te pedir desculpas, mas não consegui. Sinto muito.

Mesmo obedecendo as ordens de seu Rei, Augusto era o único que se importava um pouco comigo. Com o passar dos dias começou a me trazer uma dose dupla de comida e água; me soltava das correntes e me cobria com um cobertor limpo.

-Você não deve mesmo saber de nada. -Ele disse quando entrou na minha sela. -Mas ele nunca vai acreditar.

Ele nunca havia falado comigo desde que fui trazida. Comecei a achar que era ilusão.

É de madrugada, eu não consigo dormir. Não estou presa nas correntes, estou no chão. Encolhida, agarrada ao cobertor.

A solidão não me assusta, a escuridão sim. E aquela cela estava completamente escura.

O que vou fazer...? Quero ir pra casa.

Casa... Sim. Eu estava com saudade de acordar e só escutar os passarinhos cantando; dormir ao som de cigarras ou ouvindo minha playlist preferida; sair com Vick e seus amigos... Eu sentia muito falta disso.

Escutei passos no corredor, também vi a luz de uma tocha.

A porta rangeu quando Augusto entrou.

-Imaginei que estivesse acordada.

Não disse nada, apenas desviei o olhar.

Augusto entrou, fechando a porta atrás de si. Caminhou e sentou perto de mim.

-Também não consigo dormir. -Falou, como se eu tivesse perguntado alguma coisa.

Sentado ao meu lado pude ver o quanto ele era bonito. O cabelo verde dava um toque exótico, e seus olhos eram raros de se ver.

Por trás da imagem marrenta e torturante, ele parecia um cara bem legal.

-Qual seu nome?

Sua pergunta me pegou de surpresa. Ele estava tentando me conhecer?

Minutos se passaram até que eu respondesse.

-Cecília.

Ele me olhou satisfeito.

-Prazer, Augusto.

Ele estendeu a mão e eu a segurei. Era grossa e grande, ele parecia ser mais velho.

- Desculpe-me por tudo que está passando. -Ele disse, sem olhar pra mim.

-Tudo bem.

Tirando a dor, os hematomas e o sangue seco eu estava bem.

- Queria não ter que fazer isso.

Seu rosto parecia confuso. Como se não quisesse mesmo fazer aquilo.

- Então, por quê...? - Perguntei.

- Minha família. Está presa em algum lugar aqui... Vão matá - los se eu não obedecer.

Fiquei em silêncio. Então era por isso que ele me ajudava: era obrigado a estar aqui.

Me aproximei mais dele. Seu corpo emanava calor, tudo o que eu mais queria naquela fria madrugada.

- Me conta sobre sua família. - Pedi.

Ele me olhou com olhos fofos e gentis.

- Está bem. - Ele disse. - Eu nasci no Castelo de Maiden. Tenho dois irmãos, Ash e Mel. São crianças ainda. Para que não virassem escravos eu me juntei ao Rei Hugh e...

- Rei Hugh?! - Me espantei. - Então sou prisioneira dele?
- E de quem mais seria? Você é uma maga muito mal informada.

- Eu... Não sou uma maga. - Sussurrei.

- Como não? - Ele riu e analisou minhas palavras. Conforme ia pensando seu sorriso ia sumindo e ele se afastando. Até que levantou, me encarando. - Você é... humana!?

Fiquei calada. Apenas assenti.

Por algum motivo aquilo incomodou Augusto mais do que o esperado.

- Você não pode ficar aqui! Se Hugh descobrir que você é humana vai te matar, ou pior!

-Pior?

Fiquei imaginando o que seria pior que morrer.

Os primeiros raios de sol começaram a entrar pelas únicas duas grades do calabouço.

- Tenho que te tirar daqui. - Ele sussurrou, alto o bastante para que eu pudesse ouvir.

Tentei levantar, mas minhas pernas doíam. Os hematomas estavam expostos e os cortes pareciam ter sido abertos. Mas como?

-É um feitiço... - Ouvi Augusto dizer. - Ele quer que fique impossibilitada de fugir... Alguma coisa deve ter acontecido.

No momento em que disse isso, o castelo tremeu. Caí de rosto no chão.

- O que foi isso?!

Augusto tentou levantar mas caiu com um segundo tremor. Urros invadiram o calabouço, me assustando. Pareciam...

- Dragões...

- Mas só há um dragão em Wang!! - Ele gritou.

- Mas não há só um dragão...

Seus olhos arregalaram.

- Fique aí! - Como se eu pudesse me mover.

Augusto saiu do calabouço, trancando-o. Então correu escada a cima.

Os urros continuavam lá fora. Com muito esforço consegui me levantar, usando a parede de apoio.

Me aproximei da janela e vi: um dragão de lindas escamas lilases, e acredite ou não, Ramon estava montado nele.

Amor entre mundos (Readaptação)Onde histórias criam vida. Descubra agora