Mesma dor

214 21 0
                                    

—Eles morreram. — Foi a última coisa que ela disse antes de sair correndo, aos prantos.

— Morgana.

A serpente me olhou e rapidamente entendeu meu pedido.

— Benito, me ajude.

O guepardo não entendeu, mas assentiu.

Saí correndo atrás de Cecília, não era à única mas Morgana e Benito cuidariam dos outros.

Olhando para trás ainda pude ver Tristan e Fanindra  em posição de ataque, impedindo que Ramon, Ethan, e para minha surpresa, Ruan, me seguissem.

Eu precisava achá-la.Corri pelo campo com Marie me ajudando. Onde ela estaria? 

Procurei pelas salas, pelos quartos, cozinha e jardim. Nada se encontrá-la.

Droga.

Eu estava voltando pro saguão quando escutei uma melodia. 

A sala do piano!! Como não pensei?!

Dei meia volta e fui pro bloco antigo. A melodia aumentava a cada passo. Eu corria, meu coração palpitava.  Parei na porta da sala; a música inundava o ambiente, mas seu choro abafado era perceptível. 

As notas dançavam em seus dedos. Me encostei na soleira da porta, sem ela me ver, e deixei a música entrar em mim.

Entrei sem ela perceber, como da última vez, mas ao invés de dar - lhe um tapa, a abracei pelas costas. Ela parou subitamente.

— Minha mãe... Tocava essa música pra mim, antes de morrer. — Confessei. — Quando eu ouvi você tocando, achei que fosse ela... Ninguém aqui sabe tocar. Mas quando vi que era você... Fiquei decepcionada e irritada. 

Ela não disse nada, apenas chorava.

— Desculpe-me se eu fiz esse sofrimento aumentar quando disse aquelas coisas... — Continuei. — Eu não sabia que sofria tanto quanto eu.

Cecília pôs as mãos no rosto e chorava como uma criança. Eu apenas a abraçava pelas costas.

Depois de minutos de silêncio ela enfim o quebrou:

— Sinto... Muito... — Disse em soluços.  — Não sabia de você também.

Quando ela se virou para mim, não pude conter as lágrimas. Ela parecia comigo quando minha mãe morreu. 

Balancei a cabeça.

— Sua dor é maior que a minha...

— Não há dor maior, nem menor. Se há sofrimento, então não há comparação.

Assenti. Ela tinha razão. 

— Acho que agora algo nos liga. — Falei. 

Ela sorriu.

— Sim.

Marie estava inquieta ao meu lado, cheirando o ar.

— O que foi garota?

Cecília também começou a cheirar.

— Fumaça? — Ela disse,  espantada.

— Eu não sinto nada...

E não sentia mesmo. Será que por ser um servo,  Cecília tinha instintos mais apurados?

— Alguma coisa definitivamente está bem pegando fogo!

Cecília correu pelo corredor e e eu a segui, Marie atrás de mim.

Não foi preciso nem correr muito, assim que saímos do Bloco pudemos ver. 

O bloco Norte pegava fogo. O saguão que há alguns minutos estava elegante e intacto estava coberto de chamas. 

Cecília olhava tudo, atônita, como se aquilo trouxesse muita dor. Vi Morgana sair do saguão, toda suja e tossindo.

— Môh!  — Corri na sua direção.  — O que aconteceu?

— O Rei... Ele acabou se descontrolando e sem querer derrubou velas nas cortinas.

— Onde está o Rei? — Perguntei, preocupada. 

— Ele é Ramon ainda estão lá dentro.

Droga!

Tirei os sapatos vermelhos e corri para o salão. Mas antes que eu pudesse entrar, uma explosão me jogou pra longe.

Senti meu corpo voar mas alguém o pegou.

— Eliza. — Michael disse. Ao seu lado estava Benito, com Morgana no colo. Os gêmeos estavam logo atrás. 

— Cadê o Ramon? — Ouvi a voz de Cecília.

— Ele está lá dentro. — Foi Simon que respondeu. 

Sua expressão foi de pânico à raiva. Então ela correu.

— Cecília! — Gritamos. 

Ela não ouviu. Desviou de detritos e pulou para o parapeito da janela. Seu pulo foi grande, um humano não pularia assim, normalmente. Nem um mago conseguiria sem magia.

Olhei para os lados, onde estava Ethan?

Amor entre mundos (Readaptação)Onde histórias criam vida. Descubra agora