Quando estamos em terra firme, ando de um lado para o outro, furiosa. Não há nada aqui, apenas alguns metros de faixa de areia onde estamos, muitos galhos e o que me parece destroços de algum barco de madeira, pedras imensas, coqueiros altos e muita mata que nos impede ver além deles.
Nenhum sinal de civilização. É uma pequena — não, minúscula — ilha.— Sabe onde estamos? — Volto para perto de Ravi. Ele está mexendo em algo no jet-ski, mas levanta os olhos para mim e nega com a cabeça. — Faz alguma coisa, não podemos ficar aqui!
— O que você quer que eu faça, sinal de fumaça?
Ele se levanta e tira o colete.
Minha respiração fica descompassada e começo a sentir leves tremores e, não sei se é por conta do vento forte batendo contra meu rosto ou se é porque estou prestes a passar por uma das piores sensações da minha vida. Não gosto de me lembrar dessa sensação. Temos que sair urgente daqui.
— Argh! — Levo a mão à cabeça, tentando segurar o choro, mas já sentindo o pânico tomando conta de mim. — Liga pro Matteo!
Ravi parece finalmente lembrar do seu celular. Ele vasculha o colete e pega o aparelho que está em um saquinho plástico.
Ele sobe em uma pedra, erguendo o braço para deixar o celular mais alto possíveis, depois sobe em outra e em outra.
— Sem sinal — diz, após apontar o aparelho para todos os lados possível, sem sucesso algum.
A sua respiração também está ofegante, visto que ele fez a maior parte do trabalho em conseguir arrastar o jet-ski até a areia. A água, que estava calma, se agitou do nada, dificultando nosso trabalho, nos balançando de um lado para o outro.
— Tenta no seu. — Meus ombros murcham e ele me encara. — O que foi?
— Ficou na lancha — murmuro, arrependida, e ele ri sem humor, como se a culpa fosse minha. — Como eu ia saber que você seria tão idiota a ponto de seguir por outra direção?
— Ótimo, vamos ficar aqui pra sempre!
Ele me dá as costas e anda até uma faixa de areia mais alta. Vou atrás.
— Não! Ravi, dá um jeito, volta nadando, sei lá! — grito, desesperada, o pânico tomando sua forma e as lágrimas transbordando em meus olhos. Um calor sobe pelo meu corpo, minhas mãos suam frio e eu começo a sentir uma ligeira palpitação. — Eu não quero ficar aqui, faz alguma coisa!
Ravi parece perceber meu estado de pânico e se levanta.
— Malu, calma. — Ele tenta me segurar e eu começo a me debater contra ele, culpando-o. — Calma! — Ele me sacode pelos ombros. — Cacete, você ainda tem medo de ficar perdida?
Vejo um vislumbre de reconhecimento em seus olhos.
— Cala a boca! — grito, tapando o rosto.
— Me desculpa, eu não me lembrava.
Ele me puxa para si e eu pressiono o rosto em seu peito, soluçando e tremendo.
Tenho pavor só de sentir que estou perdida, tenho pavor de ficar em lugares desconhecidos sozinha e tenho pavor de sentir que perdi o controle da situação e que não há nada que eu possa fazer para resolver. Me perdi dos meus pais quando tinha oito anos. Estávamos em uma viagem de férias em Punta Cana; o avião havia acabado de pousar, já tínhamos pegado nossas bagagens para partirmos para o hotel, mas eu precisava muito ir ao banheiro porque eu morria de medo de usar o do avião enquanto ele estava lá em cima. Matteo e meu pai ficaram com as bagagens e minha mãe me levou ao banheiro. Quando saí, ela não estava mais lá. Esperei um pouco para ver se ela aparecia, mas como não aconteceu, procurei ela ao redor. Também não a encontrei, então decidi ir até onde Matteo e meu pai estavam, mas quando cheguei, eles também não estavam lá. Me desesperei, comecei a chorar e a correr para todos os lados, parando as pessoas para perguntar se viram minha mãe. Eles não pareciam entender o que eu estava falando, mesmo que o idioma fosse um pouco parecido. Entrei em pânico, meu corpo todo começou a tremer, meu coração acelerou e a única reação que tive foi sentar em um banco abraçando meus próprios joelhos e chorar silenciosamente. Estava perdida em um país que não era o meu, com pessoas que não entendiam o que eu falava e tudo que eu pensava é que nunca mais veria meus pais. Depois, anunciaram meu nome no alto-falante, um segurança me pegou pelo braço e me levou até onde meus pais estavam. Eu estava tremendo quando minha mãe me abraçou, me pedindo desculpas. Ela só havia entrado em uma cabine para usar o banheiro também, mas acabei primeiro. Tudo durou menos de dez minutos, mas foi o suficiente para me causar um trauma para a vida toda.
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Apenas dez dias
RomanceMalu tem uma quedinha por Ravi desde a infância. Ravi foi seu primeiro beijo em um jogo bobo de girar a garrafa, depois disso, tudo desandou. Agora prestes a completar dezoito anos, Malu irá dividir a casa de praia com ele e Ravi não está disposto a...