Capítulo 20

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Depois do beijo, Ravi volta a ficar estranho, se fecha e se afasta. Ele não fala nada todo o caminho de volta e, dessa vez, não tento puxar assunto. O silêncio entre nós é tão denso que nem o som das ondas se quebrando consegue rompê-lo. Tento encontrar alguma coisa, qualquer coisa, para dizer, mas as palavras morrem na minha garganta, sufocadas pelo peso do que acabou de acontecer. Só o barulho em meu cérebro é suficiente para me deixar maluca.

O celular vibra no bolso do meu short molhado, mas estou atônita, minhas mãos trêmulas e minha mente em caos demais para que eu consiga sequer alcançá-lo. Sei que é Maju ou Matteo, mas já estamos tão perto que nem me preocupo com a bronca que irei levar.

Nos aproximamos do pessoal e os olhares pairam sobre nós dois. Sinto meu rosto queimar sob o olhar fixo de Samuel, que parece despir minha alma e descobrir todos os meus segredos. Desvio o olhar, mordendo o lábio para evitar que a culpa transpareça. Como vou dizer ou esconder isso dele? Logo agora que finalmente assumimos o que sentimos.

Não sei o que é pior: trair a confiança de alguém logo após finalmente abrir meu coração, ou beijar alguém movida pela compaixão, quando meu coração já pertence a outro.

Ravi contorna a mesa, se jogando em uma cadeira, de cabeça baixa.

— Finalmente — Matteo ralha. — Onde vocês estavam? Te liguei várias vezes!

— Desculpa, meu celular estava no silencioso. — Eu me encolho com a raiva exposta em sua voz. Despejo as conchas em minhas mãos sobre a mesa. — Estávamos catando conchas.

Pegamos várias conchas, mas nenhuma muito bonita o suficiente para minha coleção; a maioria com alguma parte quebrada. Ainda assim, quando chegar em casa, vou ver se consigo salvar alguma.

— Você não vai feder meu carro com isso! — Matteo faz cara de nojo.

— Cala a boca, elas estão limpas!

— Hum — Ele resmunga, passando os olhos de mim para Ravi, desconfiado. Mantenho o olhar firme no dele, mesmo sabendo que todos os outros também estão me observando. No momento, não sou capaz de lidar com eles. — Já temos que ir.

Ele se levanta, catando suas coisas, e eu apenas concordo com a cabeça, pegando minhas conchas. Todos seguem em silêncio para o carro.

— O que aconteceu? — Maju sussurra para mim antes de entrarmos no veículo. Apenas balanço a cabeça, incapaz de responder.

O caminho até em casa é marcado por um silêncio ensurdecedor. É como se todos soubessem do beijo, e a culpa me consome. Sentada no meio, entre Maju e Samuel, sinto cada centímetro do espaço que nos separa. Ele olha fixamente para a janela, se espremendo contra a porta, como se não quisesse encostar em mim. Ele sabe, ele sabe. Engulo em seco, seguido de um suspiro alto, e depois de quase vinte minutos pelo trânsito, Matteo finalmente estaciona em frente à nossa casa. A moto de Ravi, já estacionada, indica que ele chegou antes de nós.

Todos entram em casa em silêncio. Vou direto para a ducha no canto externo da piscina, esperando que algum dos banheiros fique disponível. Tiro o short e me enfio debaixo do chuveiro ainda de biquíni.

O jato de água cai forte sobre minha cabeça, misturando-se com as lágrimas que escorrem silenciosamente pelo meu rosto. Minha mente gira, tentando entender o que aconteceu naquela praia, o porquê de Ravi estar daquele jeito, e o porquê daquele beijo parecer tão importante para ele. Mas, como sempre, sou incapaz de compreendê-lo. Suspiro alto, de olhos fechados, deixando a água lavar não só meu corpo, mas a confusão que domina minha mente.

Depois do beijo, sei que deixei tudo mais difícil. Contar ao Ravi o que preciso dizer vai doer ainda mais agora. Escolhi Samuel, não ele. Não sei exatamente quando meu coração tomou essa decisão, mas sinto que ele sempre foi o escolhido, desde a primeira vez que nos vimos. Venho reprimindo isso por tanto tempo, temendo as consequências, mas não posso viver com medo de sempre magoar as pessoas. Preciso tomar decisões pensando em mim, e, por mais que saiba o quanto isso vai doer em Ravi, preciso contar a ele.

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