Capítulo 14

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Quando chego no quarto de Samuel, bato na porta com o pé. Minha boca seca e as mãos suando frio em ansiedade. Aperto a bandeja ao lembrar a forma que Samuel me olhou mais cedo — os olhos cheios de mágoa e talvez decepção. Dou um passo hesitante para trás, com medo de encará-lo, mas lembro de todas às vezes que ele preparou refeições para mim. Cada gesto de cuidado e carinho me fazendo sentir vergonha por querer hesitar agora. Isso é o mínimo se comparado a todas às vezes que ele me fez sentir especial.

— Matteo, já falei que é só um resfriado, cara — grita ele lá de dentro.

— Sou eu — digo, hesitante. — Posso entrar?

Há um silêncio do outro lado da porta por alguns segundos.

— Entre.

Empurro a porta com o quadril e, ao entrar, quase tropeço nos meus próprios pés com a visão que vejo.
Samuel está no meio da cama, sem camisa, emaranhado em lençóis branquinhos. Ele está com um braço atrás da cabeça, destacando os músculos definidos do seu braço e abdômen, o deixando extremamente sexy. Há um lençol em volta da sua cintura deixando aquela entrada em V extremamente provocante à mostra, e, não sei se ele está usando algo por baixo, mas a minha mente começa a trabalhar de forma rápida, fazendo meu coração acelerar.

Lambo os lábios secos e chacoalho a cabeça, tentando afastar os pensamentos impuros. Aproximo-me da cama, sentindo um calor incomum para o clima de hoje.

— Trouxe seu almoço. Você não desceu pra comer.

Coloco a bandeja na mesa de cabeceira e me sento na ponta da cama, mesmo sem sua permissão.

— É, não estou com fome, mas obrigado.

Ele nem olha para mim. Sua atenção está toda na televisão em frente a cama. Viro-me para ver o que há de tão interessante — um vídeo da Fórmula 1.
Chato. Prefiro o que estou vendo na cama. Volto minha atenção para ele que, apesar da cara fechada, sobrancelhas retas e mandíbula trincada, não parece nada doente.

— Resfriado, é? — puxo conversa. — Mais cedo você não estava com resfriado.

— Agora estou — diz, seco.

Sua frieza dissipa todo o calor dentro de mim. Solto o ar pela boca e aperto os olhos por dois segundos, sentindo sua indiferença em todos os cantos. Ele nunca foi tão frio comigo antes. Isso me causa um aperto no peito.

— Samuel, me desculpe. Eu não queria te magoar. Só... aconteceu. Eu não planejei isso.

— Malu, já disse, você não tem que me explicar nada. — Ele continua olhando para a TV, mas sinto sua mão inquieta, tamborilando o controle em sua perna. — Mas sim, você planejou isso. Era isso o que você queria desde o momento que chegou aqui, então não tente me fazer de idiota — acusa. — Não sou criança.

— Não é bem assim — digo, num sussurro sôfrego, esfregando a testa. — Talvez fosse no começo, mas as coisas mudaram. A gente se aproximou mais, e eu passei a gostar cada dia mais de você, Samuel.

Ele finalmente me olha.

— Por favor, eu não quero que as coisas entre a gente mude.

Samuel solta uma risada sem humor pelo nariz, balançando a cabeça de um lado paro o outro.

— Se essa é sua preocupação, pode relaxar, nada mudou. — Os seus olhos estão completamente frios de um jeito que nunca os vi. Toda leveza e calmaria que sempre me atraíram desapareceram em instantes. — Pode me dar licença agora? — pede, desviando o olhar de mim, de volta a Tv. — Queria ficar sozinho um pouco.

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