Golden State. (Revised)

Capítulo 7: Você fez tudo o que eu queria que fizesse

Sabe quando uma merda muito grande está prestes a acontecer em um filme, mas os protagonistas dão um jeito de escapar com um plano mirabolante?

— Isso vai ficar como um aviso dessa vez, ouviram bem, crianças? — O oficial de polícia girou o pulso, apontando o feixe de luz da sua lanterna em direção ao rosto de cada adolescente inconsequente que tentava parecer sóbrio. — Tenho certeza de que os seus pais não ficariam contentes caso algo ilícito estivesse acontecendo por aqui, certo?

Bela forma de terminar um luau.

Foi uma guerra esconder as latas de cerveja e as garrafas de vidro vazias quando as luzes brilhantes da viatura se aproximaram da praia. Nós corremos como loucos, jogando tudo no lixo ou até mesmo em alto mar; crime ambiental, eu sei, mas eram as nossas bundas em jogo. Não que a gente tenha colocado plástico na água, mas, sim, algumas "ervas impróprias" que, com certeza, nos arranjariam mais problemas do que o álcool. E, sei lá, só vão deixar as tartarugas chapadonas.

— Eu sei, Blanche... — A Cabello murmurava ao telefone. Óbvio, foi ela quem conseguiu nos livrar dessa. Ou melhor: livrou a si mesma e, de quebra, o resto do pessoal também. — Uhum... — Fechou os olhos com força, soltando um suspiro. — Obrigada, nos vemos amanhã.

A influência da família Cabello nessa cidade era estupidamente grande. Ainda mais a de Blanche Cabello, ex-prefeita de Grand Water e avó paterna de Camila. Bastou apenas uma ligação para que a mulher mais admirada de Grand Water mexesse os seus pauzinhos e fizesse com que os dois oficiais mudassem completamente as suas posturas, esquecendo-se daquela coisa do "vamos ligar para os seus pais" e chegando à conclusão de que "um aviso" estava de bom tamanho. Eles pararam de vasculhar a praia, não fizeram mais perguntas ou testaram a nossa sobriedade — só falaram aquilo e foram embora.

Engraçado que, se nós estivéssemos em Winston City, mal existiria uma conversa antes de todo mundo estar algemado no chão.

— Srta. Cabello, como vai a sua avó? — Foi o que um deles perguntou antes de entrar na viatura, aproximando-se de Camila com as mãos segurando o seu cinto.

Lembro-me de alguns boatos sobre o estado de saúde de Blanche, porém, ninguém nunca confirmou se eram problemas graves ou se ela ficaria bem. Mas a ex-prefeita seguiu aparecendo nos grandes eventos da cidade e virou presidente do Clube de Grand Water, então, todos imaginavam que era só fofoca mesmo. Ela seguia sendo uma das pessoas mais influentes daqui.

— Blanche vai bem. — Abriu um sorriso fraco, encolhendo os ombros dentro da minha jaqueta. Era tão estranho vê-la nela. — Obrigada por perguntar.

Depois da batida policial, ninguém mais estava no clima para festa. Os pais ricaços desses adolescentes os matariam caso eles sujassem os nomes das suas respectivas famílias sendo presos por posse de maconha e cocaína na praia. Por isso, todos eles sumiram em um estalar de dedos quando os oficiais nos liberaram. E, claro, Veronica foi uma das primeiras a anunciar que meteria o pé e quem não viesse junto, ficaria para trás.

Fui deixada em casa uma da manhã, tomei um banho e deitei na cama, encarando o teto como se ele fosse a coisa mais legal do planeta Terra. Queria não pensar muito nos acontecimentos do luau, porém, sempre que fechava os olhos, a imagem de Camila surgia, perturbando a minha mente.

"Mas me beija com vontade. Me beija para todo mundo ver. Você quer?"

No fundo, eu estava com raiva da novata. Não deveria ter me irritado daquele jeito por conta do selinho em Deer Bay, mas me irritei e foda-se. Foi a segunda vez em que Cabello usou e abusou das suas artimanhas apenas para ter o prazer de me frustrar e sair por cima. Não que ela fosse obrigada a ficar comigo, longe disso; não estava puta pela rejeição. Estava puta porque passei a tarde inteira pensando no quão idiota seria acabar nas garras dela outra vez, e, no final do dia, fiz o quê? Caí no papinho da doida varrida.