04• EGO SOLIS HERES

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"Tempos ruins podem vencer
Enquanto coisas boas podem morrer
Eu era o herói mas você fica com a glória
Agora sou o vilão dentro da sua história"

- Hero, David Kushner.

•••

     A princípio era tudo escuro.

     Os pequenos detalhes tomavam forma conforme meus olhos se adaptavam ao novo ambiente. Não era exatamente escuro, quando consegui observar com mais cuidado, pude ter certeza de que estava dentro dos pensamentos da bruxa. O local tinha muitas divisões com mais subdivisões se entendendo por todo o ambiente, como se fosse algum tipo de linha do tempo, vislumbrei um quadrado mais ao fundo distante de todos os outros, uma porta, a única sem cor enquanto todas as outras eram de uma imensa variedade cada uma simbolizando uma época de sua vida. Aquela em preto e branco era chamativa de tal modo que fiquei tentada a girar sua maçaneta e dar uma olhada lá dentro. Como se ali fosse o início de tudo, onde eu encontraria a chave da vida de Isra, sua mais pura essência numa forma original.

     Uma força maior me impediu de seguir tal caminho, onde aquele pequeno quadrado piscava em luzes cintilantes clamando por ser aberta, me chamando para sua libertação, ainda assim não pude seguir para o início. Tudo me levava a uma porta de um amarelo vivo, quase dourado de tanto brilho e reluzencia. Eu soube que a era a escolhida dessa vez. Antes de dar o primeiro passo até ela, desviei os olhos mais uma vez até o passado sombrio, com uma tremenda vontade de abri-la.

     Eu sentia uma respiração em meu pescoço, como se ela estivesse em meu encalço, mas ao virar a cabeça não via ninguém além da minha própria sombra. A bruxa não estava ali como eu achava, devia preferir ver tudo de fora, ou talvez fosse para impedir que mais alguém decidisse entrar no espelho e invadir seus pensamentos mais profundos. Não mentirei. Eu mesma estava tentada a isso, para meu desprazer, o que vim fazer aqui hoje ainda é mais importante que saber sobre o passado tenebroso e cinza de uma bruxa, por mais tentador que fosse, eu deveria me segurar e seguir o caminho indicado.

     O som aqui se propagava de uma forma diferente, como se escutasse tudo dentro da minha mente, mas não pela audição, o barulho era como se eu estivesse numa caverna, o eco provocado pelos meus passos ia além de um som audível. A porta amarela piscava convidativa, era lá que havia o tal conhecimento de que preciso.

     Ando com o imã que me puxa a ela, cada vez mais perto de abri-la, cada vez mais perto de saber o que será a salvação de Penumbra, seja lá o que devo fazer, será feito se assim for necessário.

     Com a mão direita giro a maçaneta fria como gelo, ouço o clique da tranca e a porta se abre mostrando um local quente e úmido, o ambiente pulsava em frente a mim, clamando por ser descoberto, um segredo que queria ser revelado assim como uma bela história é contada. Dou o primeiro passo e logo sinto o clima esquentar minha pele, um calor revigorante de eu sentia falta. O pouco da água que restava nos meus cabelos úmidos começou a secar naturalmente, minhas roupas se tornaram refrescantes ao invés de frias e duras como antes.

     Meus pés se afundaram na grama fofa e verde da floresta que havia dentro da porta amarela, assim que passei por ela foi fechada atrás de mim, ficando inteiramente dentro da lembrança. O clima era exatamente como o da ilha Caladian, me lembro de senti-lo roçar minha pele com uma energia profunda e muito bem-vinda aos meus poderes, ali eu poderia me recarregar, conseguir repor um pouco do que havia gasto tentando derrubar o Origante. O sol alto no céu, o ar era puro e tinha um aroma de pinho e madeira recém cortada, as pontas dos pinheiros salpicavam minhas bochechas, foi só assim que percebi quando já não estava mais com os pés no chão, estava flutuando sobre as árvores. No início era como um sonho, eu voava para onde tinha vontade, se fechasse os olhos poderia pensar que tinha asas e estava voando sem rumo floresta a dentro. Mas não senti essa alegria quando os solavancos começaram.

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