05• A VOLTA DO FOFOCA EXPRESSA

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"Como pode ser tão bom e tão ruim?
Sou incompreendido e não posso voltar atrás agora
Assim como eu sabia que você faria, você vira as costas
E agora estamos aqui, e tudo escurece
Me diga que estou certo, me diga que estou errado
Mas você sabe que estive aqui o tempo todo
No seu canto"

- In your corner, Imagine Dragons.

•••

     17 de outubro, minutos antes da fuga.

     Três, dois, um.

     Me encolho quando o punho me acerta bem no nariz, mesmo sabendo que viria não pude deixar de ter uma certa surpresa quando me atingiu em cheio, fazendo o sangue quente escorrer numa bela cascata vermelho escarlate. Não suporto mais, deixo que meu corpo caia perdendo o equilíbrio por um instante, me encontro agora encostado na parede daquele buraco escuro na qual tanto temia, eu odeio escuro e ambientes apertados, por isso ele sempre insistia em me mandar para uma cela como forma de punição, só que desta vez foi muito pior. A dor era alucinante, meus olhos me traíram e não pude enxergar a verdade bem na minha cara, literalmente como um soco pesado.

     O próximo veio num chute direto nas minhas costelas, a dor tomou conta de mim, pontos pretos aparecendo na minha visão que já estava turva pelo inchaço nos olhos, eu não conseguia abrir o olho direito, e o esquerdo está deplorável. Meu pai já havia despejado uma torrente de sermões antes de partir para a agressão, estava tudo sob controle, a anos ele não me tratava desse modo, mas bastou uma palavra fora de seu agrado para acontecer mais um vez, é sempre pior porque em todas as vezes acho que ele vai me ouvir, que vai ser diferente, mas nunca é. Nicodemus revirava os olhos em descrença após eu ter dito apenas uma palavra contra ele, o primeiro tapa ardeu mais que suas desculpas de "era apenas um ensino para meu filhinho aprender a se portar", eu estava farto disso, estava farto de tanto escutar essa frase momentos antes de ser educado violentamente, sempre ficava imaginando como seria se ele não fosse esse monstro dos meus piores pesadelos, se ele fosse um bom pai as coisas seriam diferentes? Eu seria diferente?

     De uma coisa tenho certeza, não quero ser como ele.

     Nicodemus pode até ser meu pai, mas não é um exemplo de conduta, assim como eu não sou um exemplo de filho perfeito, mas qual é? Custava ele ser menos bruto? Eu sei que ele sente amor por mim, ou então não teria me confiado a um de seus planos mais importantes, só que seu jeito de demonstrar não era o mais comum dentre os pais.

     Eu sentia sim uma raiva profunda quando ele me usava como saco de pancadas, eu queria poder revidar, a e como eu queria. Mas eu sempre continha esse desejo, eu sei que iria piorar a minha situação, será que meu pai seria capaz de me destituir? De me mandar embora?

     A resposta viria a seguir, quando seu quinto chute me fez arfar em desespero, por não suportar mais a dor provocada, acho que quebrei uma costela.

     - Não podia deixá-lo vivo? Não podia deixá-lo vivo? - Ele repetia minhas palavras enquanto limpava seus sapatos numa toalha velha, ele não queria se sujar com o meu sangue, então porque sempre o arrancava de mim?

     Nicodemus socou a parede me fazendo tremer diante de sua fúria incontrolável, aquele teria terminado seus serviços, só mais um e eu desmaiaria em seus braços, para depois despertar com o mesmo rosto só que com um olhar de culpa, um olhar de pesar por quase ter matado o filho com pancadas, aquele olhar me enojava, porque eu sabia que mesmo sentindo uma ponta de remorso, ele tornaria a fazer a mesma coisa se precisasse, bastava eu sair um dedinho da linha, ou dar alguma resposta que ele considerava um insulto.

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