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Entrou, cumprimentou todos, mas na minha vez, seus olhos se arregalaram suavemente e suas sobrancelhas foram erguidas.

Nesse tempo ele mudou bastante, ele parecia mais profissional, e não sei porque, mas também parecia mais alto do que da última vez, mas sua pele e olhos continuavam da mesma maneira, só que agora ele havia tirado alguns dos piercings, mas mesmo assim, havia um deles ainda em sua orelha e outro no canto do lábio, com algumas pequenas tatuagens nos dedos.

Nunca pensei que ele seria o cara de fazer tatuagens.

Os pequenos furos em suas orelhas, onde antes estavam seus piercings, ainda estavam ali, visíveis, mas possivelmente foram tirados por conta de seu novo trabalho como advogado, talvez para passar um ar mais profissional.

Eu não consegui pensar em mais nada no jantar todo, apenas prestei atenção nele, em como ele pareceu mais calado.

Em comparação a ele, eu me sinto uma criança.

Minha altura é baixa pra alguém da minha idade, emagreci também e ainda pinto o cabelo e uso laços; que droga!

O que ele vai pensar de mim se me ver com um laço?

Não que seja algo ilegal para um adulto, mas me faz, agora, me sentir uma criancinha.

E se ele não tiver me reconhecido?
E se ele achar que eu parecia infantil?
E se ele tiver me achado estranha por ter olhado pro piercing — justamente — no lábio dele?

Eu vou me matar...

Bebi o meu copo do suco, podia sentir meu olho esquerdo tendo tiques enquanto olhava para qualquer lugar.

Seria melhor fingir que não o reconheço também...

— Tia...— Senti alguém puxando a barra da minha camisa suavemente, me virando e vendo algumas das crianças.

— Ah, sim?— me viro para encarar o garotinho, parecia ter menos de dez anos.

Giyuu Tomioka.

Ela parecia ansiosa.

Sua taça estava vazia, mesmo já tendo se servido mais de três vezes.

— Ah, sim?— Shinobu e o pequeno se olharam, pareciam ter um entendimento tácito.  O pequeno logo a fez se inclinar para ouvi-lo, dizendo algo para ela que a fez rir suavemente, assentindo.

O som da cadeira, das botas de Shinobu batendo no chão enquanto ela saia do cômodo junto com Rokuta.

As vozes em volta de mim se misturaram, se tornaram uma confusão.

— Ah, não! Giyuu, você não vai concordar com isso, não é?!— Nezuko se levanta, com as mãos na mesa, suas bochechas coradas enquanto um coro de risadas enchiam meus tímpanos.

— Uh? Talvez?— Respondi, não prestando atenção, Nezuko choramingando ao fundo.

Estava curioso, com certeza.

Shinobu estava diferente, com certeza, parecia mais madura, observadora e silenciosa.

Me ergui, a cadeira sendo afastada em um ranger enquanto me levantei.

— Já tá indo embora?— Nezuko pergunta, os olhos se voltando a mim.

— Banheiro— digo por último, pondo a cadeira de volta no lugar e andando até o corredor.

— A senhora é uma médica de verdade?! Uau...— as crianças na sala, sentadas em volta de Shinobu pareciam entusiasmadas, observando-a... Costurar?

— O braço do senhor Jujuba vai melhorar, né?— Rokuta pergunta, fungando suavemente.

— Sim.— Shinobu solta uma risadinha ao ver como as crianças eram inocentes, se impressionando em apenas vê-la consertar o braço de um elefante cor de rosa. — Ele vai poder pular nos arco-íris ou sabe se lá onde já, já, okay?— ela diz, terminando de costurar a pata do elefante, pondo-o deitado em cima do sofá. — Talvez seja bom que ele descanse um pouco para se recuperar. É bom que sejam pacientes!— As crianças riem, fazendo Shinobu sorrir orgulhosa.

Ela olha para mim, parecia sentir a minha presença, dando um pequeno sorriso tranquilizador.

— Então você virou advogado...— Shinobu murmurou enquanto observamos Tanjiro e Kanao à nossa frente, a alguns metros na calçada, andando de mãos dadas e tagarelando sobre algo, dando risadas.

— Sim... E você conseguiu concluir a faculdade— ele também diz, as palavras sem muito destino servem apenas para amenizar o silêncio entre nós. — Eu havia pensado que iria voltar no ano passado ou iria continuar lá. Por que voltou?

— Não sei exatamente... Apenas pensei que seria o melhor pra mim, e agora vejo que não estive errada.

— Hum.— A conversa morreu novamente.

O silêncio pesou, e mesmo assim foi mantido, nenhum de nós se atreveu a quebra-lo.

A porta se fechou, tirei meus sapatos e os deixei de lado, sentindo o cansaço em meus ossos.

Ele sorriu, como sempre, se levantando de seu assento e indo ao centro do tribunal, defender o seu cliente; no qual não tínhamos chance de vencer, afinal, quem é a lei perto do dinheiro, não é? Do que adianta ter belas palavras quando ele pode apenas comprar esse caso?
Isso é exaustivo, esse cara era exaustivo.

Não tem chances de ganhar uma corrida contra o dinheiro. Qualquer coisa poderia ser comprada, trocada por um pouco de dinheiro; vidas, cargos, vagas, corações e sonhos. O dinheiro é a base de tudo nesse mundo, e é completamente irritante.

— Vai a merda, seu filho da puta dos infernos!— um dos familiares de meu cliente gritou, parecia irritado e seus olhos brilhavam com mágoa.

— Senhor, será que poderia se acalmar, por favor?— O segurança pede, com as mãos nos ombros do homem, e o receptor dos xingamentos apenas não esboçava emoção ou empatia, parecia simplesmente não ligar.

— Eu te mato, seu demônio sem coração!— o homem grita novamente, e eu só pude assistir, passando a mão pelos cabelos.

— Por favor, senhor, se acalme!

Ponho a mão no ombro do familiar, acenando com a cabeça, um apelo silencioso para que pare.

Tirei um maço de cigarro da caixa, pondo-o entre os lábios e o acendendo.

A noite estava bonita, o céu estava decorado com estrelas e a lua crescente,  a cidade iluminada e os carros passando com presa pelas estradas e avenidas. A nicotina passa pelo meu corpo, me ajudando a lidar com a pressão do trabalho, ajudando-me a relaxar, pelo menos por enquanto.

A mesa bagunçada com papéis e outros documentos refletia a bagunça que sentia dentro de mim.


Shinobu Kocho.

Ponho meus pijamas, o sono batendo enquanto eu caminhava até minha cama, deitando, não tendo nem ao menos tempo de desligar a luminária, apenas adormecendo confortavelmente em seus lençóis e edredons.

Eu nem ao menos havia reparado o quão cansada estava.

Era tão bom se deitar em sua cama, sem preocupações, sem pressões, apenas o conforto de poder fazer e controlar minha rotina noturna da forma como quiser, e isso era com certeza maravilhoso.

MOONLIGHT. (Giyushinho)Onde histórias criam vida. Descubra agora