Perdida, Nunca Encontrada

Capítulo 23

DENNA

 — O que?! — A voz dela saiu estridente. Seu semblante permanecia franzido e não conseguia desfazer suas feições de choque nem que tentasse.

 — Sim, garota, eu escrevi aquele livro e eu quero ele de volta. É meu e eu preciso dele! — Ela deu alguns passos em sua direção, intimidando-a — AGORA!

 A voz da mulher ecoou por toda a extensão da floresta e, em seguida, se desfez em um completo silêncio desconfortante. A garota tomou coragem e respondeu:

 — Eu não estou com ele — Conseguiu dizer com voz firme.

 — Ah, mas não pode ser possível — Indignada, a mulher virou de costas e caminhou para dentro do chalé, sumindo de vista.

 Bhereth continuava no mesmo lugar de antes e direcionou seus olhos para onde a mulher estava indo.

 A gargalhada dela começou baixa e aumentou lentamente, preenchendo o ar fantasmagoricamente. O som ressonante trouxe uma pontada de dor no tímpano de Denna. Ela colocou rapidamente as mãos em seus ouvidos, tampando-os, tentando se proteger.

 — O que você fez com o meu livro, garota!? — Indagou incrédula.

 — Eu... Eu deixei ele guardado na última cidade que fiquei instalada.

 — Maldição! — Praguejou a mulher.

 Ela perambulava de um lado para o outro, impaciente e irritada.

 — Bhereth, me diga como você se apaixonou por essa garota estúpida... — Falou retoricamente.

 Denna desviou os olhos ao chão, disfarçando o embaraço. Bhereth continuou calado e parado.

 — Se apaixonou e ainda deixou que o matasse! — Cuspia as palavras, enraivecida.

 Denna queria sumir. Queria gritar por Nabarium e fugir dali naquele mesmo instante. "Não posso colocar ele em perigo, se eu chamar por ele... Essa mulher pode querer fazer alguma coisa, e-"

 — Bhereth — A voz da mulher tirou Denna de seus devaneios — Pegue essa garota e a traga para dentro. Vamos conversar.

 O rapaz caminhou em sua direção, com o olhar firme no semblante preocupado e amedrontado da garota. Ele estendeu a mão até o braço de Denna e a segurou firmemente.

 — Venha, vamos entrar — Ele murmurou, trincando os dentes.

 Ela encarou os olhos castanhos do garoto e, derrotada, seguiu os passos dele.

***

 Denna e Bhereth sentaram-se um ao lado do outro na cama dele enquanto a mulher se sentou na cadeira de madeira com as pernas cruzadas. Atrás dela, sobre a mesa, várias velas estavam acesas, deixando o ambiente parcialmente claro. Mas, ainda assim, macabro. O rosto dela permanecia nas sombras e Denna não conseguia distinguir as feições dela.

 — Certo, vamos por partes — A mulher tomou um longo fôlego, se acalmando. Respirou profundamente e soltou o ar pela boca — Quero que me conte tudo, garota. Com calma.

 Os olhos esverdeados da garota se ergueram e fixaram-se na mulher.

 — Me dando os detalhes certos, não farei nada de mal para você — Denna se encolheu diante daquelas palavras, mas tentou permanecer firme — Você estava com o meu livro e deixou ele para trás, isso?

 — Bem, sim.

 — E? — A mulher revirou os olhos, impaciente — Desembucha, garota.

 — Bom, eu... — Ela fechou os olhos. Criou coragem e começou a falar — Eu saí de Ferdierbben com o seu livro, sim. Eu fiquei por um período hospedada em um bar em Erlhösunngh e deixei o livro trancado em uma cômoda enquanto eu fiquei por lá — Ela puxou o cordão do pescoço que continha a chave, deixando-o por cima de suas vestes — Eu... Eu não queria ver ele depois de tudo o que aconteceu — Ela olhou de esguelha para Bhereth que a encarava de cara fechada. Ela engoliu em seco e prosseguiu — Então, quando eu decidi sair da cidade, eu o deixei lá, trancado. Eu só trouxe comigo a chave da cômoda — Ela apanhou o objeto e o ergueu a fim de mostrá-lo