07 - Presságio - Parte III

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Calum despertou abruptamente com a água gelada. Um balde cheio lançado sobre sua pele nua enquanto ele tentava, em vão, manter-se nos domínios do sono. Seu corpo inteiro doía. Fora violado sem misericórdia, como se uma lâmina estivesse cravada em suas entranhas, e o sangue escorresse quente como se fosse forjado em fogo. Ele despertou violentamente.

— Acorde, rato! — um guarda bateu a espada nas barras de ferro, o som agudo reverberando pelos túneis. — Roupas novas e comida. Tenho inveja de você — ele disse, arremessando roupas leves e colocando a comida por uma pequena porta.

Calum tentou se virar, mas seu corpo parecia estar em frangalhos.

— Ele precisa de cuidados na enfermaria — sugeriu Rasmus do canto da cela.

— Eu não pedi sua opinião, verme. Quando um rato como você for útil, eu aviso.

O soldado embainhou a espada, dobrou levemente o corpo e desapareceu nos túneis escuros. Rasmus se ergueu da pedra, caminhou até as barras de ferro que separavam sua cela da de Calum e observou o corpo lutando para sobreviver.

— Ei, garoto? Levante-se.

Calum não movia um único músculo, mas seu peito ainda subia e descia lentamente, ainda estava vivo. Suas mãos abraçavam o corpo, sua pele tremia ao contato com o frio, já que as masmorras ficavam próximas ao mar, e o cheiro salgado impregnava o ar, misturando-se com o odor de peixes e esperma que permeava todos os cantos daquela prisão. Tenebrosa e violenta, era assim que Rowan I Ablasak se orgulhava do imponente cárcere erguido pelos anões, uma construção escura como um casulo, cheia de dor, onde as mágoas, não por acaso, haviam se infiltrado nas paredes, onde musgos cresciam. Sempre escura, com névoa e frio; era um lugar onde a lei do rei não se fazia presente, onde o machista era violado, o traidor morto sem cerimônia, onde o ladrão era destruído e os monstros parcialmente enjaulados, como se as grossas barras de ferro pudessem imobilizá-los psicologicamente. Piratas se amontoavam, homens valiosos escondidos, soldados traidores petrificados. Rasmus esquecera-se de como era a cidade, as ruas, e notou, através daquele rapaz, que não havia mudado muito, que continuava sendo a mesma cidade onde homens não tinham voz. Ele chutou as barras de ferro, sem sucesso. Os pés descalços nas poças de água, os olhos azulados quase sem brilho, as mãos firmes na grade, os cabelos longos e dourados, duros. A pele permanecia a mesma.

— Calum, acorde — pediu mais uma vez.

O rapaz se moveu sobre o chão duro, sujo e fedorento, tentando ficar de pé. Conseguiu sustentar o peso de seu corpo por alguns segundos, mas voltou a encontrar o chão frio e sem vida, desmaiando novamente.


Brent, o príncipe dos homens do Norte, dominava a sala do trono com sua presença imponente. Seu corpo robusto, esculpido por anos de intenso treinamento, destacava-se sob a luz trêmula das tochas que projetavam sombras em sua pele. Seu cabelo, cortado rente ao couro cabeludo, acentuava a severidade de seu rosto, com traços marcantes e olhos penetrantes que pareciam desvendar almas. Envolto em um manto de pele de lobo, ele encarnava a nobreza feroz do Norte, implacável e indomável. O pesado manto caía de seus ombros, revelando seu peito nu, que refletia a força e a resistência de um verdadeiro guerreiro. Com passos firmes e decididos, Brent caminhou até o centro da sala do trono, onde parou para observar cada detalhe ao seu redor com uma calma calculada.

A sala do trono, adornada com tapeçarias e símbolos das casas aliadas de seu povo, contrastava fortemente com a figura austera de Brent. Ele emanava uma presença autoritária, como se a própria essência do inverno fluísse em suas veias. Os súditos, sentados em bancos de madeira escura, inclinavam-se respeitosamente à sua passagem, temerosos e reverentes.

Ladar - Sangue & Sacrifício - CONCLUÍDOOnde histórias criam vida. Descubra agora