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Skadi Andersen

Escócia, 1576:

Meus dedos afastaram a cortina da carruagem e sorri vendo a bela paisagem das montanhas Escocesas, papai não estava mentindo nas suas cartas, aquele local era lindo, certamente seria bom recomeçar naquele local. Mamãe bateu os meus dedos e uma carranca formou-se no seu rosto.

— Seu pai deve ter enlouquecido. – Rosnou ela. — Esse lugar inóspito e cheio de selvagens. Como iremos conseguir sobreviver em um local como esse? Esse país está para entrar em guerra com a Inglaterra, iremos ser mortas por esse povinho.

— Papai disse que nossa família será protegida pelo senhor da cidade. – Lembrei-a e ela revirou os seus olhos. — Não irá ser ruim mamãe, pelo menos não teremos mais que passar por aquelas humilhações.

— Humilhações podem ser facilmente engolidas, pelo menos estávamos na corte, cercada por pessoas de boa índole e não nesse fim do mundo. – Bradou ela. — Não quero você se misturando com essas pessoas, ainda tenho a esperança de que seu pai irá lhe encontrar um bom marido, um marido rico e influente que viva bem longe dessa terra.

Calei-me sabendo que não adiantava discutir com ela sobre aquele assunto, já que mamãe não era alguém que aceitava argumentos, tudo que ela queria saber era de influência e dinheiro. Ela era uma lady da corte francesa que tinha se casado com um prospero e rico comerciante inglês, porém ela queria mais e mais, segundo ela deveríamos fazer parte da corte, já que sua filha deveria ter um bom casamento. Um casamento com um membro da corte.

Foram anos de humilhações, rastejando-se atrás de membros da corte, eu me sentia envergonhada de me comportar daquela maneira, porém se eu negasse seria pior. Conflitos na corte fizeram com que papai perdesse muito dinheiro e prestígio, além de ser acusado por diversos crimes e nossa família teve que fugir para não ser morta e papai conseguiu a proteção de um duque escocês que comandava uma prospera cidade nas montanhas. Mamãe estava furiosa com essa mudança, mas desde que ele pudesse proteger as nossas vidas até provarmos a inocência de meu pai e reaviássemos os nossos bens, ela aceitou se mudar para as terras altas escocesas.

Encarei a paisagem pela fresta da janela tentando a ignorar completamente, pois assim a nossa convivência dentro da carruagem seria pacífica e nós iriamos conseguir conviver até a chegada na nossa nova residência. Eu conseguia ouvir os burburinhos dos empregados do lado de fora, pareciam que eles estavam tão surpresos com o local e eu me sentia ainda mais curiosa para dar uma olhada e ter um pouco de liberdade. Na corte eu não podia ter a mínima liberdade, havia muitos protocolos para se seguir e para não envergonhar o nome da minha família eu me mantinha calada e indiferente a qualquer coisa que acontecia a minha volta, assim eu iria conseguir sobreviver aquele inferno e não causar problemas que papai não pudesse resolver, pois ele já tinha que cuidar dos ataques de fúria de mamãe e a sua ganância por dinheiro e poder, já que para ela isso era tudo que importava.

A carruagem parou abruptamente, o solavanco fez com que o meu corpo chocasse-se contra o piso e mamãe revirou os seus olhos afastando o tecido e encarando o serviçal que estava do lado de fora.

— Temos um problema em uma das carruagem, madame. – Avisou ele. — Uma das rodas quebrou e teremos que a trocar antes de seguir viagem.

— Isso só pode ser um castigo divino. – Rosnou ela. — Façam isso rapidamente, não quero perder todo o meu dia nessa estrada e nem passar a noite presa em um deserto e no meio desses selvagens.

— Mamãe posso sair? – Perguntei e ela apenas revirou os seus olhos mantendo-se calada. — Preciso esticar as minhas pernas, elas estão travadas por conta das horas sentadas.

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