Capítulo 03 - Quer o meu bonde?!

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Fazendo exatamente o que Elisabeth mandou, Dália gastou pouco mais de meia hora no caminho reto, ela desejou ter vindo com sua bicicleta, seria muito mais fácil. Quanto mais se aproximava do centro, mais ela notava a diversidade da população, que incluía elfos, seres com escamas no rosto, harpias e centauros, ao chegar no centro ela também viu goblins fazendo-a ter um pequeno estremecimento, as lembranças daquelas criaturinhas eram um pouco desagradáveis.

Quando chegou no centro, percebeu que a quantidade de cidadãos aumentou, viu grandes lojas com entradas chamativas e o que deveria se assemelhar a um pequeno parque com chafariz. Dália achou tudo incrível, mas uma dúvida surgiu, onde ela pegaria o bondinho?

Não tinha nenhuma sinalização ou qualquer coisa do tipo que ela poderia identificar, poderia talvez ir pelo aglomerado de pessoas paradas, mas havia muitos grupos parados para que ela pudesse saber qual deles esperava o bondinho. Ela precisaria perguntar a alguém. Vendo três moças ao longe, decidiu ir até elas.

- Com licença, senhoritas, poderiam me dar uma informação?

- Mas é claro. - Respondeu sorrindo uma de cabelos cacheados e longos.

- As senhoras poderiam me dizer onde posso pegar o bondinho para as favelas?

- "Senhora"? Ela me chamou de "senhora"? Pareço assim tão velha? - Reclamou a do meio.

- Acalme-se, Matilda, ela não fez por mal. - Defendeu a terceira mulher.

‐ É o que eu espero! - Cruzou os braços. Dália pensou que ela só estava sendo dramática.

- Você pode esperar pelo bondinho ali, querida. - Respondeu a terceira apontando discretamente com o dedo.

- Certo. Obrigada. E desculpe se ofendi vocês. - Saiu dali antes que a segunda mulher arranjasse mais confusão.

No ponto indicado, Dália ouviu uma conversa entre dois homens que estavam ali, ambos olhavam para cima e a menina fez o mesmo, percebendo um zepelin passar por sobre suas cabeças.

- Parece que a senhora Cadme conseguiu outro. - Comentou um com escamas no rosto.

- Não entendo por que ela precisa de tantos, acho que um dia eles vão acabar caindo em nossas cabeças.

A garota engoliu em seco, lembrava-se de histórias contadas por seu avô sobre zepelins caindo dos céus a todo o momento, nunca pesquisou para saber se o caos que ele dizia era verdadeiro, mas certamente não gostaria de descobrir naquele momento. Esperando por quase dez minutos, o bondinho finalmente apareceu, Dália esperou que todos subissem para que ela pudesse entrar.

- São três dalcs. - Disse o motorista.

Naquele momento, notou que precisaria pagar e que não tinha o dinheiro desse mundo, bem, não desse mundo, mas talvez o dinheiro de outro pudesse ajudar. Pegando as quatro moedas de bronze que conseguiu na Vila dos Esquecidos, Dália esticou a mão com elas para o motorista.

- Isso não é o suficiente.

- É sério? - Fez uma expressão exasperada.

- Sim. Qualquer um sabe que bronze e cobre são muito comuns, essas suas moedas não são suficientes.

- Então que tal. - Começou enquanto procurava a moeda de prata. - Isso aqui!

O motorista arregalou os olhos e parecendo um pouco desesperado disse:

- Menina, guarde isso! Não se pode sair por aí mostrando algo tão valioso assim em qualquer lugar!

- Ah, desculpe. - Guardou a moeda. - Mas é suficiente, não é?

- É mais do que suficiente, eu não teria troco para você nem que te desse o bondinho inteiro.

- Então o que eu faço? Eu preciso pegar o bondinho.

O homem suspirou, passou a mão pelo seu rosto cheio de escamas e finalmente disse:

- Tudo bem, entre logo. Não precisa pagar.

Dália abriu um grande sorriso, antes de se afastar dele, viu o motorista pegar três moedas do próprio bolso, a garota decidiu que ele parecia um bom homem. Dentro do bondinho, ela reparou nos olhares de alguns passageiros, alguns eram de curiosidade e outros de inveja, definitivamente alguns passageiros notaram sua moeda de prata, então ela os encarou com um olhar sério e destemido.

A viagem foi tranquila, ninguém veio incomodá-la, seja por causa do motorista ou pela quantidade de testemunhas. Ao descer no ponto indicado, ela caminhou pela favela notando as casas mal feitas e com estrutura precária, o chão não era pavimentado e as pessoas ali usavam roupas menos luxuosas. Enquanto andava, viu alguns garotos entre seis e oito anos brincando de pião, resolveu tentar conversar com eles.

- Oi, crianças.

- O que você quer? - Perguntou o mais velho deles de maneira ríspida.

- Não se preocupe, só quero fazer algumas perguntas. Por acaso viram esse gato?

As crianças olharam o cartaz e lançaram olhares de desconfiança para Dália.

- O que você quer com ele? - Questionou o mesmo garoto de antes.

- Só quero encontrá-lo.

- É melhor deixar ele em paz! E a gente também! - Fez um sinal e todas as crianças juntaram suas coisas para ir embora.

Dália achava que eles sabiam de algo e não queriam contar, decidiu seguir aquele que falou com ela. Se esgueirando pelos cantos, viu o menino entrar numa lanchonete, assim que entrou no lugar ouviu um homem corpulento perguntar ao garoto:

- Seu intervalo ainda não acabou, por que voltou tão cedo?

- Tinha alguém nos atrapalhando.

- Certo, bem, já que é assim, tem louça para você lavar.

- Tudo bem, estou indo. - O menino desapareceu para dentro da cozinha.

Dália se aproximou do cara corpulento, pensava que ele poderia ajudar.

- Com licença.

- Oh, pois não, senhorita? Deseja algo para comer ou beber?

- Na verdade, quero falar do seu funcionário.

- Meu funcionário?

- Sim. Eu gostaria de perguntar a ele sobre um gato desaparecido.

- O gato da Sra. Cadme? - Estreitou os olhos.

- Sim.

- Acho melhor você ir embora. - Disse numa voz fria.

- O que? Por que? Você sabe onde ele está?

- Eu não sei de nada e é melhor você sair daqui.

- Não vou sair! O que aconteceu com ele? Ele desapareceu ou foi levado?

Ao ouvirem sua última pergunta, as garçonetes que tinham se aproximado lançaram olhares preocupados uma para a outra, o homem percebeu aquilo e trincou o maxilar.

- Ele está com alguém, não está? Quem está com ele?

- Olha criança, você deve sair daqui imediatamente! - Ele falou apontando para a porta.

- Eu não estou aqui para prejudicar o gato, minha missão é ajudá-lo! Não me importa ter que ir de casa em casa para conseguir alguma informação!

- Como se alguém fosse contar alguma informação sobre o chefe. - Falou a garçonete ruiva. Percebendo o seu erro tampou a boca e saiu correndo em direção a um corredor.

- O chefe de vocês? Um chefe da máfia?

O olhar do homem ficou sombrio, ele deu alguns passos na direção de Dália, fazendo-a recuar um pouco, e disse numa voz firme e inflexível:

- Saia.

Sabendo que não conseguiria nada ali, Dália foi embora frustrada, finalmente tinha conseguido alguma coisa e agora estava sem nada, o que faria? Ela não sabia mais para onde ir, mas então o gato branco apareceu, a garota o observou por alguns instantes antes de tentar ir até ele, mas o felino não deixou que ela se aproximasse e saiu correndo, fazendo com que ela o seguisse.

As Aventuras de DáliaOnde histórias criam vida. Descubra agora