Capítulo 07 - Uma lambida na testa...

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Agradecendo mentalmente por ainda se lembrar do caminho para o beco, ela seguiu para lá, mas quatro rapazes que estavam na rua a viram correr e decidiram cercá-la.

- Por que está correndo, jovenzinha? - Perguntou o mais alto deles, parecendo familiar.

- É, por que está com tanta pressa já que hoje mais cedo você estava conversando com o motorista tão alegremente, exibindo sua moeda de prata encantada? - Perguntou um segundo rapaz. - Por que não deixa a gente ver também?

"O Carlos estava certo, não devia ter mostrado a minha moeda", pensou a menina.

- Ei, esses são os gatos da Sra. Cadme. - Interrompeu o mais musculoso entre eles.

- Vamos pegá-la. - Anunciou um de cabeça raspada.

Nenhum deles se importou com a rapieira nas mãos dela, os quatro estavam prestes a agarrá-la quando os gatos agiram. Cada felino livre pulou em cima de um rapaz, Dália aproveitou para acertar um golpe no que sobrou. Aproveitando que seu oponente se afastou com dor, a menina colocou a gaiola no chão e tirou o diadema de sua mochila. Colocando o diadema, ela pensou em explodir o chão aos pés dos rapazes.

- Explodir! - Exclamou.

Como se um raio de pura combustão tivesse saído da jóia e atingido o chão, uma explosão mediana foi feita jogando os quatro rapazes no chão. Dália voltou a pegar a gaiola e saiu correndo, mas um dos delinquentes lhe perseguiu. Ao chegar no beco, a garota reparou que Gia não estava ali, antes que pudesse pensar mais sobre o sumiço da fada, o cara que lhe perseguia finalmente a alcançou.

- Ah, aí está você!

- Vai mesmo me encarar? Ou quer que eu use essa coisinha de novo? - Usou a mão com a rapieira para indicar o diadema.

- Vamos ver se você vai ter coragem ou se essa coisa vai funcionar de novo!

Dália ainda manteve o sorriso convencido, pensava que ele ainda poderia desistir, mas se não funcionasse ela teria que gritar e usar os curtos segundos de preocupação dele para fugir.

- Você não devia ficar tão confiante. - Ela desafiou.

- Ah, é? Vamos ver!

Antes que ela pudesse fingir usar a joia, um brilho verde-claro surgiu atrás dela fazendo o cara se assustar, mas ele não recuou.

- Finalmente você voltou! - Exclamou Gia.

- Não é uma boa hora. - Respondeu sem olhar para ela.

- Só vou te ajudar porque não deveríamos vir pra cá.

Dito isso, Gia concentrou seu poder e vários riscos de luz parecidos com agulhas verdes surgiram ao redor dela, Dália sentiu a temperatura aumentar como se cada agulha fosse tão quente quanto um forno. Esticando uma das mãos, Gia fez uma das agulhas acertar de raspão o cabelo do rapaz, que pegou fogo.

- Ah! Ah! - Gritou tentando apagar o fogo de sua cabeça, com isso ele saiu correndo dali.

- Prontinho. - Declarou e os pontos luminescentes ao seu redor desapareceram. - Agora, o que deu na sua cabeça?! Eu disse para ficar aqui!

- Eu sei, mas olha. - Esticou a gaiola na direção da outra. - Salvei ele.

Gia arregalou os olhos, mas antes que ela dissesse algo, Dália sentiu um dos gatos roçar sua perna e quando olhou para baixo viu o gato branco de rabo cinza.

- Você de novo. - Sorriu.

Antes de ter outra reação, uma luz dourada irradiou do corpo do gato branco, a sonolência tomou conta da garota, mas a sensação de flutuar não veio. Desta vez, sentiu como se tivesse dormido em pé, ela acordou piscando freneticamente e olhando para os lados. Ela não estava em seu mundo, mas sim numa sala grande ornamentada no estilo egípcio da época onde os faraós ainda eram soberanos.

Sua boca se abriu em espanto, ela ainda não tinha conseguido articular palavras quando o som de passos preencheu o local. Girando o corpo, ela viu uma gata humanóide bem alta surgir de um corredor com tochas, a mulher-gato vestia roupas de linho e usava peças de ouro por todo o corpo, era uma verdadeira visão dos deuses.

- Seja bem-vinda. - Anunciou com uma voz poderosa. - Fico feliz que tenha cumprido sua missão. - Esticou as mãos peludas para pegar a gaiola.

Dália teria recuado se não ouvisse todos os gatos ronronarem em satisfação, deixando que a estranha pegasse a gaiola, a jovem viu ela libertar o gato e curá-lo.

- Pobrezinho, usado como refém. - Disse para o gato em seus braços, depois o acariciou e dirigiu seu olhar à humana. - Obrigada por isso.

- Hã, ah, não foi, não foi nada. - Gaguejou. - Mas quem, quem é você?

- Eu sou Bastet, a deusa gato. É um prazer conhecê-la.

- Prazer, sou Dália.

- E olá, fada. - Dirigiu um olhar à Gia.

- Olá. - Fez um pequeno cumprimento.

- Vamos, fale. Sei que têm perguntas. - Voltou sua atenção para Dália.

- Já que me permite. - Sua surpresa deu lugar aos seus questionamentos. - Se você é uma deusa, por que não foi atrás dos gatos sozinha?

- Não sou cultuada lá, não teria poderes o suficiente naquele mundo. Seria muito mais problemático se eu fosse.

- Entendi, mas por que eu?

- Porque você é aprendiz de Gia e Gia conhece a mulher que fez isso com os meus gatos.

- Você conhece Liz Cadme?! - Olhou surpresa para a fada.

- Eu conheço um monte de gente. - Deu de ombros tentando não parecer incomodada com esse fato vindo à tona.

- E eu achando que você não podia me arranjar mais problemas. - Balançou a cabeça. - Aliás, esses gatos todos são seus?

- Todos os gatos são meus.

- Mesmo se existir alguma outra divindade de gatos?

- Acho que você acabou ficando com uma espertinha, Gia. - Comentou com um sorrisinho no rosto.

- Nem me fale!

- Ei! - Reclamou olhando para a fada.

- Que?

Bastet deu uma risadinha ao ver aquela interação, então colocou o gato em seus braços no chão e deixou que ele, junto dos outros, agradecessem Dália, cada um se esfregando na perna dela e ronronando.

- Não foi nada, gatinhos.

- Agora, é a minha vez. - Se aproximou e lambeu a testa da mais nova.

Dália fez uma pequena careta, era estranho ser lambida na testa principalmente se fosse por um ser gato humanóide. Quando Bastet se afastou, a menina notou que um brilho dourado surgiu em sua testa e desceu pelo corpo todo.

- Pronto, agora você tem a bênção de Bastet.

- E o que isso significa?

- Você vai descobrir. Mais alguma coisa antes de partir?

- Duas, na verdade. Ele é o gato da teoria da conspiração, né? - Apontou para o gato branco de rabo cinza.

- Sim. - Sorriu divertida.

- Por último, pode dar isso ao Carlos? Ele é o motorista que me ajudou. - Pegou a moeda de prata e esticou na direção da deusa.

- Não se preocupe, darei a ele. - Pegou a moeda. - Carlos Cadme sempre foi um bom menino.

- Ele era filho dela?! - As surpresas não paravam.

- Sim, mas ele é diferente dela. Vou entregar a moeda, ele ficará feliz. Agora, você precisa voltar.

O gato branco volta a se esfregar na perna de Dália.

- Obrigado. - Ele agradeceu numa voz doce.

- Você fala. - Disse numa voz sonolenta.

- Ah, eu não acredito! Mal apareci nessa história! - Foi a última coisa que ouviu de Gia antes de cair no sono.

Ao acordar, a menina reparou que voltou para o seu mundo, ela ainda estava no ônibus, mas o gato em seu colo desapareceu. Sorrindo satisfeita com sua aventura, Dália levantou a cabeça e percebeu que tinha perdido o seu ponto.

As Aventuras de DáliaOnde histórias criam vida. Descubra agora