Moiras

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Moiras: Na mitologia grega são as três filhas de Nix, deusa da noite e são conhecidas como as senhoras que tecem o destino. As Moiras, ou destino para os íntimos, pairam como lei para os humanos e para os deuses. Elas representam a harmonia cósmica e para entender a dimensão de seu poder, nem Zeus, deus dos deuses, podia transgredí-las.

O destino nem sempre é gentil, as vezes questionamos os acontecimentos da nossa vida sem saber que tudo está sendo tecido para nos levar ao momento certo. Entendemos, em algum momento, que até os desencontros são fundamentais para que em um belo dia de primavera ocorram reencontros.

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Camila.

Atlanta, dezembro de 2018.

Era muito difícil o sentimento dúbio que havia se formado em mim naqueles dias. De frente para o espelho, eu fazia o que muitas grávidas adoravam fazer. Vestida com uma lingerie branca e confortável, media meu corpo de maneira lateral para ver o tamanho da minha barriga.

Eu estava com vinte e quatro semanas de gestação. Minha pequena garotinha, como a médica havia confirmado na última ultrassonografia, estava se mexendo e me arrancando um leve sorriso por me envolver com o encanto que era sentir seu crescimento dentro de mim.

hola, mi amor. — Sempre cumprimentava ela com o idioma que eu queria que ela tivesse contato desde a infância como eu.

Acariciei o ponto da minha pele na qual eu sentia seus movimentos e sorri um pouco mais, deslizando os dedos pelo lugar que se mexia e me recriminando um pouco por aquele sorriso fraco ser um dos meus melhores resultados dentro de meses no quesito sorrir.

— Estamos bem, pequenina. — Tentei soar confiante, porque de fato, fisicamente estávamos muito bem. — Mamá está tentando ser o melhor que consegue para que você venha com muita saúde.

Respirei fundo, observando o quarto vazio ao fundo e a porta fechada que me dava completa privacidade. Voltei a focar na minha imagem no espelho e eu estava mesmo fazendo conforme eu falava para minha menina que ainda não tinha nome. Meu humor poderia estar horrível, meu mundo virado de cabeça para baixo, minhas perspectivas todas jogadas fora irremediavelmente como se eu as tivesse atirado de um penhasco, mas ao menos do meu corpo eu cuidava para que minha bebê viesse ao mundo com saúde.

A culpa ainda me corroía todos os dias e eu acreditava que talvez ela pudesse diminuir com o passar do tempo, com as escolhas que eu estava fazendo de me dedicar a um pequenino ser que viria indefeso e totalmente dependente de mim, ao invés de alguém que, claramente, estava melhor sem mim.

Engano meu, a culpa não passaria durante longos anos.

E novamente lá estava eu no looping mental que jamais me deixava em paz. Tudo que acontecia de bom ou de ruim me levava a Lauren Reeves. Fazia cinco meses desde a última vez que a vi, e eu continuava revivendo os poucos momentos que eu me lembrava antes de tudo virar uma grande névoa branca.

Emoções normalmente ficam mais intensificadas no período gestacional, eram hormônios demais para lidar. Eu acordava pela manhã mal humorada, tinha picos de alegria ao conversar com minha bebê e senti-la como eu estava fazendo agora e depois de caía novamente na melancolia de tudo que deveria ter graça, mas não tinha.

Nem mesmo cozinhar estava me animando. Minha médica dizia que era normal na gestação que a quantidade de progesterona e estrogênio que meu corpo produzia pudesse estar ligado a esses meus picos de tristeza repentina.

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