09 - Outrora era assim - Parte IV

3 0 0
                                    

— Natureza e mal são forças distintas. Meu pai, meu avô e nossos ancestrais existiam antes que o homem respirasse o ar puro. Não havia guerra, desgraça ou medo, apenas paz. Estávamos conectados com a Vileza, e assim, minha raça prosperou. É verdade que alguns irmãos pereceram, mas eles vivem em nossas memórias e permanecerão até o Aurëlin, o Fim do Mundo dos Elfos — Theoron continuou. — Quando o inimigo se levantou contra nós aqui no Sul, fomos emboscados, feitos prisioneiros e usados como experimentos de uma causa perdida. Earfin queria poder. Mas os elfos detinham o conhecimento, e por décadas, mantivemos a sabedoria contra a sombra usurpadora que ameaçava nos devorar. Então, meu pai, o rei Cirlard, conta que os magos elfos se prostraram diante de Yanna por sete noites, cantaram e dançaram para a Lua, e no oitavo dia, Yanna desceu em fúria contra Earfin, lançando-o no abismo. Ele permaneceu no limbo da escuridão por um milênio, até renovar suas forças e nos atacar de todos os lados. Então, vocês, homens do Oeste, vieram em seus navios grandiosos, brandindo lâminas que perfuravam carne com facilidade, ajudando-nos a lançar Earfin de volta ao abismo. Por sete longos milênios, sobrevivemos em uma paz onde a balança estava equilibrada. Por todos esses anos, me perguntei qual era o propósito de nosso inimigo. Com que arma bestial ele nos atacaria quando recuperasse seu poder? Meu avô, Garyon, me contou sobre O Corvo Branco, uma arma forjada na Pira de Yanna para derrubar o deus escuro. Eu sonhei com lindos cabelos negros e olhos azuis como os céus do Norte, mas nunca me aprofundei na profecia. Sempre fui cético. Mas você o encontrou facilmente, instruiu-o, forçou-o a vir até Azaban, a joia do Sul, e o manteve acorrentado. Lançou-o aos monstros que o devoraram, sem conhecer o poder daquele rapaz. Eu sei... sei como perdeu a magia profunda... ah, Grande Rei... eu sei... você tocou na barriga da mãe dele... uma simples faísca que causou o caos. Nunca soube até aquela noite em que decidiu enviar seu irmão para morrer no frio de Iléria. Sonhou com dragões incendiando o reino, sangue e fuligem de uma guerra inevitável, e prendeu o Corvo por ele refutar uma indagação. Seus filhos, os príncipes e herdeiros desta fortaleza. Então O Corvo bateu asas e alçou voo, mas me pergunto, para onde? Como os ventos do Sul sem direção, o Keervale se foi. Meu pai ficará decepcionado ao saber disso, afinal, ele mesmo o coroou Grande Rei dos Homens, acendeu a chama da longevidade dos mortais e agraciou seu povo com beleza e sabedoria. Agora os olhos da Torre de Irfail observam seus passos. Sinais de terror aumentam no Extremo-Sul... posso sentir o cheiro de morte no ar... cheiro de desespero, o ar podre de uma guerra sem fim. Homens, fadas, centauros, feras, Ashers, elfos, gnomos, duendes, Craskos... todos procuram pelo arauto do Corvo. Caminhos se cruzam e descruzam com intensidade, e a balança do equilíbrio pende para um único lado. Os reinos não estão unidos sob um mesmo estandarte, o inimigo lançou as peças sobre o tabuleiro, mas ainda não sentou para jogar, deixando para que os homens façam suas escolhas.

Rowan ajustou a capa dourada sobre os ombros, os olhos fixos no horizonte escuro. Inspirou profundamente, tentando afastar o peso das palavras de Theoron. Virou-se para o príncipe dos elfos, a expressão marcada por determinação.

— Theoron, as histórias que você conta são de um passado distante, mas o mal que enfrentamos agora é presente e palpável. Eolon retornou, mais forte e astuto. Nossas alianças estão fragmentadas, nossos corações divididos. Precisamos de mais do que memórias e lendas para vencer essa guerra. Precisamos de uma nova força, uma nova união. — A voz de Rowan era firme, mas carregava um tom de urgência.

Theoron assentiu lentamente, os olhos azuis brilhando com uma sabedoria. Mas ele era inteligente, conseguia captar o mal à distância.

— Eu sei, Rowan. Por isso, estou aqui. Os elfos sempre foram guardiões do equilíbrio, e não abandonaremos nossos aliados agora. Mas devemos lembrar que o poder do passado ainda pode ser nossa maior arma. Eslandrill nos deu a força para derrotar Eolon uma vez, e podemos invocar esse poder novamente.

Ladar - Sangue & Sacrifício - CONCLUÍDOOnde histórias criam vida. Descubra agora