Pertencer (erótica)

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— Qualquer um estúpido o suficiente para se enganar pelo seu exterior não é digno de sua presença. Todo o tempo que passou sozinho foi como deveria ser, no fim. Não houve tempo para que te modificassem. Eu tive o prazer de presenciar você, em seu estado puro, intocado. Enxerguei além do que você demonstrava e só eu pude fazê-lo, e então vê-lo externalizar o seu interior. Você pode acreditar que há uma linha de fatores que me tornam o melhor e o pior que já lhe aconteceu, mas eu não mudei quem você é, eu fui o único que nem sequer tentou. Todo esse tempo, Will, você tentou me odiar, mas você só estava odiando a si mesmo. Não mais, meu amor, não mais.

A face angelical do mais jovem era tomada por lágrimas de um ódio inocente que queimava por onde escorria. Seu corpo dolorido tremia entre espasmos, suas mãos e pés vermelhos por atrito.

O toque de Hannibal era doce e gentil, tão suave que era como se quase não estivesse o tocando. Como se estivesse o compensando por toda a dor que sentia.

— Você é a criatura mais perfeita que qualquer um pode ter visto. E você pode odiar que eu sou o único que vê isso, mas não há ninguém capaz de te amar um percentual se quer a mais que eu. Ninguém enxergou você como eu, ninguém admirou você como eu, ninguém tocou você como eu. E se alguém tentar, terá seus olhos e mãos em uma refeição acompanhada de um bom vinho. Posso tentar, mas não consigo esquecer, você tentou fugir, poderia até tentar de novo, mas alguém foi tão fundo quanto eu? Suas cicatrizes ainda são minhas. Tudo onde eu meramente toquei ainda é meu, não?

Os esforços adoráveis de enganar o doutor com sua imagem delicada e fragilizada, como se já não pudesse mais responde-lo verbalmente, deixavam-o orgulhoso em se recordar das tamanhas mudanças em seus hábitos. Alguém que se quer conseguia olhar nos olhos de outro, agora mirava profundamente em um olhar obsceno e possessivo como o de quem lhe admirava naquele exato momento.

— Eu gostaria que pudesse se ver, Will. Ver a forma em como me olha. Você jamais questionaria as minhas ações. É a única coisa capaz de tirar o meu controle. Quero que se veja como eu te vejo, só então estarei satisfeito. Até lá, você pode tentar fazer o que quiser. Não que vá conseguir.

Seus olhos se encontraram com um espelho novo colocado estrategicamente na frente de sua cama, só então pode ver o que realmente havia acontecido com seu corpo. Seu rosto vermelho, seu pescoço com marcas de dedo quase roxas, peitoral e ombros com mordidas que quase sangravam, abdômen avermelhado, virilha e coxas marcadas, joelhos roxos que doíam em contato com o colchão naquela posição, pulsos e pés ainda presos com machucados ocasionados de seus próprios movimentos. Hannibal atrás de si, segurando seus cabelos desgrenhados enquanto em seu corpo só uma marca era visível, uma mordida sangrenta que ainda pulsava.

Seu impulso era virar o rosto, fechar os olhos, mas se tentasse, seus cabelos seriam puxados com força o suficiente para arranca-los e seu rosto puxado até que voltasse a abri-los.

Não podia evitar amar as lágrimas que voltaram a cair do rosto furioso do anjo, Hannibal fez com que nunca mais chorasse novamente, mas aproveitava momentos como aquele para permitir.

— Chore, meu amor. É o único momento em que terá motivos para isso.

Um sorriso cínico no meio de todas aquelas lágrimas naquele rosto esculpido para enganar os supérfluos era o suficiente para faze-lo adorar aquela imagem ainda mais.

— Faça logo. Estou com fome.

Soltou tudo que envolvia Will naquela posição dolorosa e finalmente deixou seu corpo relaxar sobre o lençol de sua cama, subindo em cima de si com o cuidado que antes não tivera. Beijou cada machucado, acariciou as curvas de seu corpo como uma leve massagem a qual, mesmo que com todo carinho, ainda doía.

Observando a pressa em seus olhos, que brilhavam em lágrimas, puxou seus braços de encontro ao seu pescoço e por fim, invadiu-o. Seu corpo tremia abaixo de si e seu choro aumentava, mas os doces sons que fazia ecoavam em sua mente como se quisesse tirar o que restava de seu autocontrole.

Sua cintura fina parecia afundar com o toque mais singelo, sua pele arrepiava com o mais delicado beijo e seu corpo derretia com o mais fraco movimento. Era isso que Hannibal mais apreciava de sua relação, acabar com Will para depois juntar o que resta de si e minuciosamente pôr no lugar novamente. O controle que tinha sobre sua insanidade e sua tranquilidade, sobre seus machucados e seus curativos, isso dava alguma razão para a irracional obsessão que sente por ele.

E era após faze-lo chegar ao seu limite, vê-lo descansar em seus braços que achava sentido em toda aquela violência.

E ele sorria, sorria inocente e satisfeito. Soltava seu corpo após alguns minutos, mas sempre ficava ao seu lado. Assim como tudo se repetia, sentia os olhos de Will penetrando seu suposto espírito, como se estivesse lendo sua mente.

— O que está te incomodando?

Will sorri. Ele põem a mão em seu peito e descansa sua perna sobre as suas, o tocando gentilmente apenas para se distrair.

— Só estou acostumado com seus olhos em mim.

— Não é tão fácil pensar enquanto lhe observo.

— E no que pensa?

Sorri, rindo baixo, quase envergonhado.

— Em você.

— Bom, que coisa. Estou bem aqui.

— Você me ama, Will?

Ele o solta e senta sobre seus joelhos em frente a si, de modo que pudesse o olhar de cima.

— O que você quer ouvir?

— Que me ama tanto quanto o amo e que não vive sem mim, pois não existe a possibilidade de estar vivo longe da minha presença.

Hannibal senta em frente a Will, o olhando profundamente em seus olhos, esperando por sua reação e resposta.

— E o quanto você me ama?

Ele sempre contorna a situação, assim como contorna seu corpo, ficando atrás de si. Toca em seu peito, o seduzindo com seus movimentos.

— Não é perceptível?

Ele ri baixo ao lado de seu ouvido, descansando o rosto em seu ombro.

— Matar por mim? Você mata por qualquer motivo. Viver por mim? Você viveu e viveria por qualquer coisa que o deixasse entusiasmado o suficiente. Me admirar, me consumir...você faria isso se eu estivesse morto também. De verdade, o que você faria por mim que não faria por si mesmo?

— Morrer.

Hannibal senta agora na beira da cama. Will levanta e dá alguns passos pelo quarto, mas não vai muito longe de si.

— Alguém como você jamais pensou na sua própria morte. Tudo bem, isso pode me satisfazer o suficiente.

— Mas você já pensou.

— Sobre a sua morte? Mais vezes do que consigo me lembrar.

— Isso me satisfaz o suficiente.

— Afinal, o que te deixa tão excitado em saber que eu gostaria de te matar?

Ele para em sua frente.

— Porque é recíproco.

Sorri, sentando em seu colo. Com ambas as mãos em sua nuca, ele o puxa para um beijo repleto de luxúria. Hannibal aperta sua cintura com desejo, mas Will o repele com suas mãos, o derrubando no colchão.

Ele põem suas mãos no pescoço do doutor novamente, contornando todo o pescoço e apertando gradativamente, olhando no fundo dos seus olhos de forma provocativa. Ele sente o sexo pulsando abaixo de si e sorri, soltando seu pescoço. Hannibal levanta seu corpo e retribui, porém apertando mais forte do que antes era feito consigo.

— Não parece que iria aguentar continuar com tudo isso, meu amor. — Seu corpo treme e seus olhos quase fecham, mas é solto assim que parece enfraquecer. — Outro dia, quem sabe. — Observa ele recobrar sua força e sorri. — Eu amo você, Will. Viva e morra comigo.

— Com prazer.


One's HannigramOnde histórias criam vida. Descubra agora