A mordida (lírica)

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O amor nem sempre é belo e pacífico. As vezes é possessivo e sujo. Imundo; vigoroso, quase violento. Nem sempre é suposto a ser terno, idílico. Will havia se desprendido da tamanha fantasia do amor harmonioso há muito tempo. Antes de Hannibal e depois de Hannibal. Seus conceitos já não eram mais os mesmos.

O amor deles nunca seria clemente.

As vezes o amor apenas parecia com a mordida. Truculento, atroz;

Prazeroso.

Afinal, a mordida não é um tipo de contato? O contato não é, também, uma forma de amor?

Antes e depois dele. Se amavam ou apenas dependiam um do outro? Ambos. Se consumiam ao ponto de se tornarem um só, afinal, não eram eles, o mesmo? Entendiam o estado mental um do outro, o que os dava a capacidade de enganar um ao outro, eram similares. Viam o potencial um do outro. Ao ver potencial em quem ama, seu potencial se tornava real. Se não eram o mesmo, eram complementares.

A mordida se tornou comum, o sangue, tanto quanto. Conseguiriam viver sem ela? Estavam conjuntos, já não era mais uma questão, não sobreviveriam a separação.

Dependiam da mordida.

O beijo necessitado e o aperto, o sexo. Não dependiam deles, mas como poderiam resistir a luxúria e a brutalidade? Quanto tempo conseguiriam passar sem se consumir, sexualmente e, propriamente, com a mordida? Amavam com unhas e dentes e o sangue é apenas prova disso. É simplesmente selvagem.

Os arranhões e puxões, mãos passeando por todas as curvas do corpo um do outro. Conseguiam se quer respirar sem o contato? Conseguiam respirar sem, propriamente, apertar o pescoço um do outro? Will se questionava se, algum dia, Hannibal deixaria de o sufocar, se conseguiria deixar de o sufocar.

Seu amor não era clemente, era sufocante. Estavam acostumados com a falta de ar, conformados. Possuiam um ao outro inteiramente, precisavam de mais algo?

Poderiam sentir falta de quando não se conheciam? Não mais. Quando tinham um ao outro inteiramente, a mordida era suficiente.





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