Sonambulismo (romântica)

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Sentiu mãos frias em seu rosto, sua cabeça em algum travesseiro fofo e seu corpo coberto por um cobertor grosso em baixo de um edredom liso que era provavelmente apenas decorativo, dos tipos que não tinha em casa. Apesar de estar em um lugar extremamente confortável seu corpo inteiro tremia e seus pés doíam como nunca. Abriu seus olhos lentamente, se acostumando com a luz forte do ambiente, com seus sentidos voltando antes dos seus olhos se abrirem por completo sentiu o cheiro do perfume nos pulsos de quem o tocava e não poderia estar menos surpreso. O doutor sorriu gentilmente, como costumava fazer em todas as vezes em que ele aparecia por motivos não profissionais em sua casa; não que também não sorrisse quando se encontravam por motivos de sessões de terapia ou trabalho, mas a diferença era simplesmente óbvia.

Se sentia frágil, atordoado demais para lembrar o que havia acontecido ou para notar o que estava acontecendo. Hannibal parecia o examinar discretamente, suas mãos um pouco mais quentes, mas ainda geladas contra a sua pele. Talvez fosse conveniente dizer que estava desconfortável com toda a situação, mas estaria mentindo.

Olhar para ele era intimidador, ao mesmo tempo que um pouco viciante demais para não fazer, queria continuar o observando, porém sentiu algo molhado e quente tocar em sua mão e foi inevitável olhar para o lado. Winston estava sentado ao lado da cama, o olhava como se perguntasse se estava tudo bem, gostaria de poder responde-lo de modo que entendesse, mas apenas o acariciou e sorriu. Pareceu ser suficiente, já que o cachorro voltou a se deitar em uma manta no chão, o psiquiatra parecia não poupar os bons cuidados com nenhuma de suas visitas.

- Ele te seguiu até aqui, garantiu que chegaria inteiro e que eu soubesse que está aqui. É um bom garoto, deveria o agradecer, quem sabe o treinar. - Voltou a olhar para si, não sabendo o que responder, mas ele não parecia ter terminado de falar. - Admito que acho surpreendente que tenha chegado até minha casa com só aquilo de roupas e sem nada nos pés, poderia ter uma hipotermia.

Só então percebeu que vestia um pijama um pouco maior que seu corpo e meias até suas canelas, seus pés ardiam tanto que não sabia dizer se as meias eram confortáveis ou não, tendo em mente que pertenciam ao médico, provavelmente eram.

- Você me deu banho?

- Não achei que seria bom que continuasse tão despido e cheio de neve, então sim. Dorme só com aquilo até mesmo em noites frias?

- São os pesadelos, me fazem suar. - Desviou seu olhar, parecia patético falar de mais problemas, quando havia acabado de causar um.

Não havia notado antes, mas ao lado da cama havia uma tábua com uma caneca e alguns tijelas, provavelmente mais um dos exageros de Lecter. Notando que Will já havia visto e que agora ele já deveria estar em condições melhores, colocou-a em sua frente.

- Coma.

O doutor era sempre muito gentil, mas podia notar que ele o conhecia tão bem que ao invés de insistir para que ele fizesse algo, apenas o mandava de forma com qual ele entendesse que não aceitaria uma negação. Se via sem saída, então apenas obedeceu. Dois sanduíches generosos que provavelmente não conseguiria comer, algumas uvas e uma caneca de chocolate quente, se sentia como uma criança rica doente sem apetite que se sente obrigada a comer por ter alguém lhe vigiando pronto para o dar um sermão caso não termine a refeição, o que, bem...era quase o que estava acontecendo.

- Este é o seu quarto?

- O banheiro e o quarto são maiores, foi mais fácil de lhe tratar aqui.

- Não achei que seria o tipo de pessoa que permite animais em seu quarto.

- Ele insistiu em o acompanhar. Não vi problema, ele apenas o esperou pacientemente e dormiu quando viu que você estava bem. Pensei em o dar alguma coisa para comer, mas ele não pareceu se preocupar.

- Obrigado.

Olhou em seus olhos enquanto abocanhava um dos sanduíches, poderia ser a forma perfeita de não denunciar o quão envergonhado estava com tudo que havia acontecido e que agora continuava acontecendo. - Não é sua culpa. - O que acabou não funcionando. - Seus pés, como estão?

- Latejando.

- Sente-se.

- Não preci-

Hannibal tinha aquela habilidade de o convencer sem precisar de palavras, não sabia se pendia mais para o lado de o intimidar ou de de fato o convencer, sabia que funcionava. Apenas o obedeceu, continuando a comer enquanto o psiquiatra colocava seus pés em água quente, massageando-os levemente.

Depois que comeu o que conseguia se permitiu se perder em sua cabeça, seus pés não doíam tanto e o médico parecia sereno, tudo que fazia por si parecia ser sempre com incrível bom-humor. Não notou quando, porém seus pés agora estavam com meias novamente, não estavam molhados, mas pela sensação, provavelmente alguma pomada havia sido colocada. Sentou-se encostado sobre a cabeceira, seu quadril e coluna doendo, não conseguia imaginar como diabos havia ido tão longe em uma noite de neve enquanto dormia.

Pode ver o doutor voltando do banheiro, ainda secando as suas mãos, ele olhou para si. - Perdão. Por sempre aparecer sem avisos e acabar te fazendo perder tempo com problemas meus.

Largou a toalha, se aproximando da cama e tapando as pernas de Graham.

- É bem-vindo, passar meu tempo com você nunca é uma perda, Will.

Acabou que, da mesma forma que havia feito com Alana, simplesmente não pensou. Puxou-o pela gola de seu suéter e selou seus lábios ao dele rapidamente. Ao perceber o que fez, teria tentado se afastar se Hannibal não o tivesse o deitado sobre a cama, ficando sob si apenas para segurar o seu queixo e o beijar, desta vez, de fato. Sentia-se um pouco desacreditado, sua temperatura agora sendo o oposto de como estava antes de chegar a sua casa, os cobertores parecendo quentes demais para continuarem em seu caminho. As mãos grandes e agora queimando tocaram em sua cintura por de baixo do pijama emprestado, suas próprias mãos indo de encontro aos cabelos cinzentos, fazendo um carinho no local. Gostaria que tivesse durado mais, porém precisavam respirar e Winston parecia tão desacreditado quanto Will. Riu ao olhar para ele, fazendo com o médico o olhasse e fizesse o mesmo, o cachorro parecia ter um pouco mais de expressões do que o normal com aquele rosto surpreso.

- Podemos ficar?

- Por quanto tempo quiser.




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