Vermelho Vibrante (horror)

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Will estava coberto de sangue, parecia mais escuro durante a noite. Suas roupas caras tinham rasgos e suas mãos inúmeros arranhões. Não lembrava quando havia acabado em tal situação, porém recordava brevemente do que poderia ter desencadeado todo o cenário.

Se viam em um salão cheio de pessoas e todos pareciam ter rostos borrados para si, exceto ela, a mulher de cabelos ruivos e vestimentas vermelhas. Ela olhou para si com desgosto quase palpável, comentários ácidos sobre suas cicatrizes faciais saíram de sua boca de encontro aos ouvidos alheios, tão rude ao ponto de se quer se preocupar se o mencionado escutava ou não. Lembrava de ter olhado Hannibal nos olhos, sabia que ele também havia escutado. Ele murmurrou algo que já não recordava para si antes da mulher se aproximar deles, fazendo questão de beijar as bochechas do doutor e pegar em sua mão brevemente como cumprimento. Puxava algum assunto com ele, mas não consigo, sua presença ali sendo um incômodo para que ela conseguisse dar o bote.

Memórias eram desbloqueadas. Ela o lembrava de Freddie Lounds, quem, mesmo sendo tão rude quanto, nunca havia o deixado tão perto de perder a cabeça como aquela mulher. Obviamente, Lounds tinha grande interesse em ambos os maridos assassinos, enquanto esta parecia ter gosto por alguém menos marcado, menos monstruoso.

Observou ela tocar em um dos braços de Lecter antes de partir a encontro do grupo de madames que tinha intimidade com. Ela mexia em um celular caro com badulaques bregas de cor vermelha e com detalhes dourados e ela parecia digitar algo sobre como ela estava interessada em um homem elegante de cabelos platinados, alto e mais velho que havia acabado de conhecer. Notou que estava perto demais. Sentiu os fios de cabelo sedosos sobre a sua mão, ela o olhava confusa, como se não entendesse porque a mão de um estranho estava tão fortemente em seu ombro. A pediu licença e indiscretamente saiu do salão.

Hannibal tinha motivos para estar naquele lugar, mas como era um mero acompanhante, decidiu vagar sozinho em frente ao local. Observou todos os carros, ao lado do seu próprio estava um carro antigo, porém muito luxuoso de cor vermelha, sabia imediatamente de quem era. Imaginou que o evento duraria bastante e que o psiquiatra ficaria o máximo que pudesse, porém pode vê-lo acompanhando a moça até si. Ela sorria e apertava seu braço, uma predatora rodeando sua presa. Will olhou para os olhos do platinado novamente, os dois parando em frente ao carro em que, também se encontrava.

- Este é meu marido, Thomas.

Nomes falsos, os odiava. Odiava aqueles eventos, aquelas pessoas, aquelas profissões, aquelas mentiras.

Ela parou de sorrir para ele, olhou para si e fez a mesma expressão de desprezo de antes, tão indiscretamente quanto, parecia decepcionada.

- Scarlett.

Ela parecia perceber o quão desconfortável ela estava tornando aquela situação, pegando em sua mão com a mesma pressa que fez da última vez apenas para poder dizer que havia o cumprimentado.

- Convenientemente vermelho.

Olhou para os olhos dela, pareciam ter algum vislumbre vermelho dentro deles, também. Ela pareceu intimidada.

- Bom, eu já estou de saída.

- Tenha uma boa noite.

Depois disso lembrava de entrar no carro junto a Lecter, lembrava de receber um sorriso de si, porém não lembrava de sorrir de volta. Tudo que sabia desde então era que tudo em seu redor era convenientemente vermelho. Os lábios da mulher estavam tingidos por um batom vermelho surpreendentemente duradouro, tão fraco em comparação ao sangue que saía dos mesmos. Seu pescoço tinha tons vermelhos distintos, lembrava de ter sufocado-a brevemente para que parasse de lutar. Seu vestido elegante estava tão rasgado quanto sua pele, um desperdício infeliz de dinheiro. Suas unhas naturais pintadas de vermelho carmim estavam quebradas e imundas, alguns dos seus cachos se encontravam ali junto com resquícios de sua pele, deveria ser cuidadoso. A terra em baixo de seu corpo absorvia todo aquele vermelho vivo, se sentia tonto com o cheiro ferroso de sangue misturado com a colônia da jovem, não sabia onde estava ou como haviam chegado ali, não sabia se haviam sido vistos ou se Hannibal sabia onde se encontrava.

Mas era óbvio que ele sabia.

O seu cheiro era apenas seu, Graham o havia guardado no lugar mais seguro em sua mente, jamais o confundiria. Sentia-o tomar conta de sua mente confusa, nada ali era uma alucinação e ele sabia disso. O psiquiatra olhou em seus olhos nublados, tamanha era sua admiração por aquela obra sangrenta em que havia, no fundo da mente doente do criador, também feito parte.

- Se a deixássemos aqui, assim, blogs, manchetes e jornais provavelmente a chamariam de Madame Vermelho. Curiosos sobre investigação criminal teriam este caso como um de seus favoritos.

- Poderia se tornar um ícone.

Sorriu atordoado.

Tropeçou em sua direção.

Seus olhos mal se mantinham abertos, mas não estava fraco ou doente, aquela era a sua reação ao cheiro podre daquela mulher imunda. Seus braços e pernas tremiam com adrenalina, estava confuso, porém agora sabia que sua irá havia causado tudo aquilo, como nas outras vezes. Suas pernas enfraqueceram, então tudo que pôde ver era vermelho em Hannibal.

Era nostálgico. A mão firme em seu rosto, tocando seus cabelos molhados, o forçando a olhar em seus olhos, desta vez, cheios de ternura. Olhou para cima, havia começado a chover. Só então, ao olhar para baixo, notou que a faca que havia usado ainda estava em sua mão. Feria o psiquiatra superficialmente, seu sangue sendo estancado pelo próprio objeto que o perfurava, enquanto todo o sangue em suas mãos que não pertencia a ele era levemente lavado pela chuva.

Nostálgico.

- Hannibal, você me ama?

Olhou em seus olhos novamente; em seus rostos nenhuma expressão se fazia presente.

- Quer que eu diga por casualidade, ou está confuso?

- Você me ama, Hannibal???

A faca, em um impulso, indo mais fundo em seu abdômen. Nenhuma reação negativa era feita, seus olhos ainda faziam contato e sua mão ainda estava em seu rosto, agora fazendo um carinho leve em sua bochecha. O rosto sereno se aproximou do seu, tomando seus lábios em um beijo, por hora, calmo.

Até que sentiu seu ar indo embora, não sabia se por conta do beijo violento em que haviam transitado ou pela mão em seu pescoço. Ele o apertava fortemente, seu corpo ficando fraco e sua mão soltando a faca involuntariamente como reação. Seus lábios finalmente se separando, os dele descendo para o pescoço que ainda apertava, sugando a pele molhada e suja de sua clavícula.

Eram imundos e imorais, seus atos sujos um contra o outro definia o quanto se mereciam.

- Sabe que jamais irei lhe deixar ir, Will, isto é a prova do meu amor. Tudo que lhe compõem é meu, cada cicatriz e detalhe do seu corpo é meu. - O aperto em seu pescoço tão forte que precisou segurar sua mão para que o outro soubesse dos seus limites. Não temeria, ele não estava desestabilizado, nunca estaria, estava apenas entrando no jogo de dominância. - Só estará vivo e eu só irei viver enquanto estiver em minha companhia. Isto - Retirou a faca que se encontrava em seu abdômen, jogando-a ao pés do corpo da madame. - é a prova que somos um do outro.




O vermelho significava que o amava.




One's HannigramOnde histórias criam vida. Descubra agora