Choro (romântica)

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Will, apesar de sempre carregar milhares de emoções pesadas em suas costas, raramente chorava. Por algum motivo, ele chorava como um bebê naquela noite.

Hannibal escutou-o gritar seu nome e, quando abriu a porta, foi possível notar que ele não respirava bem. Os sons do pulmão sobrecarregado o preocuparam de imediato. Pensou que fosse por algum motivo médico, até ligar a luz e ver as lágrimas acumuladas em todo o seu rosto, seus olhos vermelhos encharcados faziam com que mal conseguisse enxergar apropriadamente, mas ele se quer parecia querer manter-los abertos.

Era incomum que não soubesse o que fazer. Mas o quão comum era aquela situação?

Entrou, deixando a porta à suas costas bater. O abraçou fortemente com ambos os braços envoltos em si e segurou sua nuca, acariciando ali suavemente.

— Preciso que se acalme, Will. Creio que esteja tendo uma crise de ansiedade, e caso ela não passe, temo que não irá conseguir controlar sua respiração apropriadamente. Olhe para mim, está tudo bem agora.

Era estúpido tentar acalma-lo com palavras, mas o que poderia fazer? Ver o rosto fragilizado do homem que conhecia com a palma de sua mão o fazia questionar o que era capaz de deixa-lo daquela forma. Frágil e solitário como uma criança, nunca deixava exposto o quão machucado estava, até mesmo aquilo que não conseguia esconder, ele tentava. Se questionava se ele simplesmente havia se cansado, ou se havia chegado à um nível de confiança em que, vê-lo em seu estado mais frágil, não era mais um problema.

Apesar de sua crise estar longe de passar, sua respiração parecia mais calma ao passar do tempo. Pela primeira vez, Will procurava pelo contato prolongado entre seus corpos sem temer. Ele estava sentado em seu colo como uma criança e segurava seu suéter com uma de suas mãos, sua cabeça em seu ombro. A aproximação parecia o fazer chorar ainda mais e, o psiquiatra só sabia segurar suas pernas e afagar seus cabelos como quem, também, conforta uma criança.

Não queria deixa-lo por um segundo se quer,  e com dificuldade, se afastou do professor e foi a procura de algum calmante e água, não demorando a voltar e, de forma igualmente difícil, fazer com que ele bebesse. Tentou o incentivar para que deitasse na cama, mas ele só o fez quando decidiu se deitar junto a ele. Ao seu lado, observou suas expressões angustiantes se tornarem lentamente pacíficas, cobrindo seus corpos com o edredom e se aproximando levemente. Secou suas lágrimas restantes, chamando sua atenção e fazendo com que ele finalmente conseguisse abrir seus olhos apropriadamente.

— Pesadelos?

— Abigail.

Ele não era um homem de arrependimentos, talvez aquele tenha sido o seu maior. Olhando para a expressão frágil de Will, se sentiu igualmente frágil. Seus olhos marejados como os dele, não sentia ter o direito de chorar.

— Eu sinto muito, sabe que sinto.

— Se eu tivesse feito tudo diferente, ela estaria viva?

— Eu não pude me controlar a respeito de quem eu me apaixono, e meus sentimentos foram egoístas; incovenientes, machucaram você. Bedelia estava certa, eu estava obsessivamente intrigado. Entramos em um ciclo em que machucamos um ao outro, ambos fizemos coisas estúpidas esperando que conseguíssemos nos separar. Quando eu digo que a culpa não é sua, acredite em mim. Mas me lamentar sobre aquilo que aconteceu no passado não soa correto, é o motivo pelo qual estamos aqui hoje, e eu gosto de estar com aqui, com você.

Will não se sentiria melhor com suas palavras, mas jurou ver um sorriso em seus lábios.

— Você tinha um vocabulário mais bonito antigamente.

— Você acha? — Sorriu assim que viu o sorriso dele a cerca do próprio comentário. Não pôde evitar pôr a mão em seu rosto, acariciar ali e olhar em seus olhos, queria demonstrar seu amor de todas as formas possíveis, incluindo em seu olhar. Qualquer um poderia ver o amor e admiração em seus olhos, mas o principal, era transmitir isso para aquele que amava. — Tudo ficará bem, eu sempre estarei aqui, Will, meu Will.

— Para onde mais você iria?

Ele segurou seu pulso, acariciando a área da mesma forma que sentia o carinho em seu rosto.

— Eu tenho milhares de lugares para ir, o que prova que eu amo você, é que eu te levaria comigo para todos eles, meilė.

Novamente, sorriu ao ver seu sorriso. E é óbvio que n.ão pôde controlar a vontade de beija-lo.



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