Sempre parava para pensar sobre o quão estranho era aquilo tudo. Viver com Lecter como se sua vida sempre tivesse sido assim, pacífica.
Era surreal, sendo honesto, era lindo. A cabana era quente e confortável, totalmente diferente do lado de fora por ser um dia de neve. Graças ao doutor, essencialmente, já que apesar de terem mudado para uma vida mais simples ele havia investido bastante para que a casa fosse no mínimo de excelente qualidade. Seus caprichos eram visíveis em todos os cantos, tudo ali sendo parte da indentidade visual dele, não via problema, estava satisfeito e o senso de conforto e aparência do mais velho era completamente superior, de qualquer forma. Na pequena cozinha à sua frente, Hannibal preparava o jantar e alguma sobremesa com frutas para os dois ao mesmo tempo, não resistindo em jogar algumas para os dois cães pidões ao seu redor. Também achava surpreendente que ele houvesse se conectado com os cachorros, talvez não tanto quanto Will, porém já era de grande significado que não os tivesse por perto apenas por tolerância, mas por algum nível de apreço. Os chamou com assobios para que deixassem o cozinheiro se concentrar, sorrindo quando eles obedientemente pararam à frente da poltrona em que sentava, curiosos. Apesar de gostar de vê-lo cozinhando, virou a poltrona de frente para a lareira e acariciou os cachorros, até um dos mesmos subir em seu colo.
Olhando para as chamas em um estado tão sereno, era difícil não se deixar levar por pensamentos. Lembrava da queda, de como achou que tudo iria acabar por lá, até acordar em um lugar desconhecido ao lado de Lecter, a ajuda de Chiyo foi praticamente o que os manteve vivos, tendo em mente que o psiquiatra só teve forças para os tirar da água. Não sabia o que iria acontecer pela frente, quando estavam capazes de tomar alguma decisão se mudaram para qualquer lugar que fosse distante e novo, investiram na cabana e tudo foi meio confuso no início. Os nomes novos, profissões novas e a maneira com qual se sentiam um sobre o outro, foi tudo difícil de digerir no começo. Nunca haviam conversado de fato sobre o que sentiam e o que queriam depois que tudo aconteceu, porém finalmente entendeu Hannibal, ou algo do tipo, de qualquer forma, o aceitou por completo.
Depois que você dança com o demônio, não há volta. Havia escutado essa frase em incontáveis músicas, parecia estupidamente verídico. Havia tido algumas danças, de fato, com Hannibal, o dito demônio. Não era grande apreciador de música, muito menos de dança, porém havia se tornado um tipo de ritual entre eles. À noite, os cachorros descansando ou pulando na direção dos dois como se quisessem participar, eles dançavam no meio da modesta sala, era ridiculamente surreal, talvez de fato levemente ridículo. Não tinha muito o que oferecer quando se tratava de dança, e apesar do platinado parecer ser bom em tudo que faz, não podia dizer que dançava qualquer coisa que não fosse valsa incrívelmente bem. Haviam dançado valsa algumas vezes, aliás. Pisou em seu sapato algumas vezes e quase tropeçou aqui e ali, mas ele era ótimo em o guiar para que não cometesse os mesmos erros novamente.
- Está pensando muito, Will.
Ele pegou em sua mão, despertando-o de seus pensamentos gentilmente. Sorriu, era sempre assim.
- Estou recordando, Hannibal. Não acha estranho?
- Dentre tantas opções, sobre o que se refere?
- O recente, o atual. - Se levantou. - Dança comigo?
- O jantar vai esfriar. - O lituano disse, sorrindo de forma meio embaraçosa, talvez porque sua iniciativa fosse estranha.
- Não estou com fome, você está?
Deitou sua cabeça no ombro de Hannibal, uma de suas mãos em seu peito, sentindo os batimentos de seu coração, a outra em suas costas. Fechou seus olhos e não demorou para sentir o seu abraço quente, sabia que ele não poderia o recusar.
Com tamanha lentidão, se balançavam para um lado e para o outro. Seus corpos cada vez mais quentes, seus olhos fechados e tudo que conseguiam escutar eram suas respirações e o som da música. Se quer poderiam chamar aquilo de dança, mas não importava, era suficiente.
Os cachorros pareciam entender que, por hoje, era um momento um pouco mais privado de ambos. Eles dormiam serenamente perto da lareira, se quer se importavam com quaisquer coisa que estivesse acontecendo.
Se sentiu tonto ao parar, separando-se dele, mas ainda seguravam as mãos um do outro.
- Presumo que tenha exagerado um pouco no vinho, novamente, Will.
Ele sorriu sem mostrar os dentes, entrelaçando os dedos de suas mãos para que ficassem ainda mais grudadas.
- De que isso importa?
Olhando em seus olhos, sorriu também. Então aproximou seu rosto, fechou seus olhos lentamente ao beija-lo, lento e terno. Soltaram suas mãos por iniciativa sua, as suas imediatamente indo de encontro a nuca e a cintura do mais velho, puxando-o como se precisasse que estivessem com os corpos colados, quase consumindo um ao outro. Sentiu as dele tocarem em seu quadril levemente, apenas para ter a sensação de estar o segurando. Enquanto em seu caso, arranhava sua pele e puxava os cabelos mais ralos, se divertindo com a atitude surpresa do outro. Notando o quanto Hannibal lutava para seguir o seu ritmo, acabou sorrindo entre o beijo e decidiu finalmente interromper, mordendo o lábio alheio e o dando mais um selinho.
- Will, eu...
- Eu sei, eu também. Agora vamos comer!
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One's Hannigram
FanficTodas as minhas one's de Hannigram, posteriormente publicadas no Spirit, reunidas por ordem de publicação; de 2019 até os dias atuais.