1. Dupla inesperada

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Eu morava numa cidadezinha do interior desde os 9 anos de idade - metade da minha vida. Todos ali conheciam todo mundo. Havia uma espécie de submundo adolescente com festas que os pais sempre achavam ser grupos de estudos - ou sabiam a verdade, mas fingiam não saber para manter as aparências.

Manter as aparências era essencial ali.

O líder da cidade, Seo-jun Kim, era o pastor, e ouso dizer que todos sem exceção iam aos cultos todo domingo. A igreja era uma das maiores construções da cidade.

De qualquer modo eu não fazia parte desse submundo festeiro e animado.

Assim que cheguei na cidade foi bem estranho me adaptar, eu reclamava todo domingo. Mas então entrei para o coral e as coisas mudaram. Bem, na verdade eu era da parte instrumental, eu tocava piano para o coral cantar. E eu amava tocar piano. E assim se passaram 9 anos. Sem nada de diferente. As mesmas pessoas no coral, as mesmas pessoas nos mesmos estabelecimentos. De vez em quando uma família se mudava, mas o clima pacato não agradava e eles iam embora.

O maior escândalo da cidade foi quando Jennie – Ruby Jane Kim, filha do pastor - pintou seu cabelo com mechas rosas dois meses atrás. Foi uma falação absurda. Como se seus lindos fios angelicais não pudessem tocar algo tão mundano quanto uma tinta de cabelo.

Jennie cantava no coral, mas não era puro nepotismo. Sua voz era de outro mundo. Muitas vezes ficávamos até um pouco depois do culto praticando as canções. Ela sempre foi muito gentil.

Na escola, assim como na cidade, Jennie era o centro das atenções. Ela era capitã das líderes de torcida, sentava sempre na frente durante as aulas, e até que ia bem nas notas. Eu sentava mais no fundo, sempre ao lado de Rosé Park, minha companheira desde o primeiro dia de aula.

Aos domingos tudo se misturava. Os atletas boca suja, as líderes de torcida com suas mini-saias e as isoladas estavam todos arrumados com suas roupas sociais para o culto.

Mas no colégio não. No colégio todo grupo era bem definido. Todos tinham suas panelinhas, apesar de todos saberem os nomes dos outros. O grupinho de Jennie eram as celebridades, estavam sempre bonitos e sorrindo, era como se no universo deles não existisse problema, espinha, dor de barriga, cólica. E Jennie era o sol. Mesmo nos dias de chuva, ela brilhava o suficiente para aquecer uma multidão.

Eu particularmente gostei do rosa em seu cabelo escuro. Ela parecia uma rockstar.

- E para o trabalho final, vocês vão apresentar um trabalho sobre como alguns clássicos da literatura clássica têm mais de um autor e qual diferença principal entre cada uma delas. - Dizia a professora Lee, minha professora favorita. Tenho a impressão de que ela dá aula de literatura desde que a escola foi fundada. Ela sabe tanto... - Vou ser boazinha. Trabalho em dupla!

Rosé e eu nos entreolhamos. Fácil demais.

- Só que as duplas serão escolhidas por mim. - Senti meu mundo caindo quando a professora disse isso. Pior do que ficar sem a Rosé era a possibilidade de fazer dupla com um bocó.

Enquanto a professora sorteava as duplas eu ia ficando feliz e triste. Feliz sempre que os mais babacas iam para outra dupla. Triste sempre que os mais inteligentes também não ficavam comigo.

Rosé foi sorteada com Felix Lee.

- Pelo menos ele é gostoso. - Rosé sussurrou. Desde o início do ensino médio, que foi quando ela beijou pela primeira vez, ela nunca mais conseguiu parar. Era uma loucura.

- Lalisa Manoban e Ruby Jane Kim.

Olhei para Rosé, mas ela já estava em outro universo trocando sussurros com Felix. Então olhei para Jennie, ela acenou de maneira simpática para mim. Devolvi o aceno.

Podia ser pior.

The heaven between us | JENLISAOnde histórias criam vida. Descubra agora