19. A viagem

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– Eu não acredito que você não aceitou ir com a Jisoo. – Falei.

– E eu não acredito que você deixou para fazer a mala no último dia. – Rosé retrucou rabugenta.

Meu voo sairia em algumas horas e Rosé estava me ajudando a arrumar as coisas. É claro que eu não deveria ter deixado tudo para última hora, mas estive tão envolvida em me despedir de todos que nem passou pela minha cabeça que eu precisaria fazer malas.

Rosé era uma amiga incrível, ela estava com o coração partido e ainda assim me ajudava. Eu podia ver que já não dormia direito já tinha uns dias – pelo menos uns três, que foi quando Jisoo viajou.

Jisoo tinha decidido começar seu ano sabático pela Europa, passar um tempo em Paris, partir para Londres... E Rosé ficou aqui, se recusou a sair para ficar dando voltas, ela sempre dizia "Jisoo já nasceu rica, assim como Jennie, enquanto nós precisamos pensar no que fazer para sobreviver."

Não era mentira. Rosé sempre foi bastante pé no chão, então preferiu ficar. Mesmo que doesse.

– Obrigada por estar aqui. Pelo menos alguém está comigo. – Falei um tanto rancorosa.

Jennie teve que ficar na casa dela para receber seu irmão, Min-ho. Ela não só não estava ali, como provavelmente não iria se despedir de mim no aeroporto.

– Seis meses longe e não vou receber nem mesmo um beijinho.

– Ela tem um bom motivo, sabe que se ela pudesse estaria aqui. – Rosé respondeu se sentando na mala para que eu conseguisse fechar. – Pelo menos ela te ama.

– Jisoo te ama. Você que não quis se arriscar por ela.

No aeroporto foi um festival de choros, até meu pai estava com lágrimas nos olhos. Eu mesma parecia uma torneira. Era tão difícil me despedir de casa, principalmente para ir a um lugar que eu não conhecia nada.

Nos últimos meses tudo tinha virado de cabeça para baixo, minhas crenças, minhas amizades, minhas experiências e por fim até a minha casa.

Pouco antes de passar pelo portão de embarque recebi uma mensagem de Jennie. Uma mensagem. Era só o que eu teria.

"Boa viagem! Amo você! Já estou com saudade."

Não respondi.

O voo foi tranquilo, ou o mais tranquilo que ficar cinco horas sentada numa cadeira poderia ser. Era tempo demais sozinha pensando em todos e no quanto eu estava com saudade da Jennie. Das suas mechas rosas, do seu cheiro de morango. Dos seus olhos de gatinho, do seu sorrisão quando ela via fotos de animais.

Quando finalmente aterrissamos, minhas pernas já estavam dormentes e minha cabeça doía de tanto chorar. Já estava de noite.

Hyunjin me buscou no aeroporto, me encontrando com mais um de seus abraços de me tirar do chão. Ele fez questão de me ajudar com a mala e me deixar na porta do meu prédio. Combinamos de tomar café da manhã no dia seguinte.

Liguei para minha mãe para avisar que estava em casa e que estava tudo bem.

– Sim, mamãe, o voo foi tranquilo, já estou no apartamento. É bem pertinho da faculdade. – Ela estava preocupada com o fato de eu estar sozinha numa cidade desconhecida. – Pode deixar, qualquer coisa chamo o Jinne. Eu também te amo. Pode deixar que te aviso tudo.

Andei pelo apartamento por um momento. Era maior do que eu imaginava. Quando cheguei no quarto e me joguei na cama, eu estava tão cansada que sentia cheiro de morango no travesseiro.

Ouvi baterem na porta e preguiçosamente me levantei. Fiquei me perguntando quem poderia ser quando abri a porta e a vi.

Jennie.

Jennie de verdade bem na minha frente.

– Surpresa! – Ela disse.

Eu me belisquei para acordar da soneca, mas não acordei. Era verdade.

– Jennie? – Falei, mas não me mexi. – Ai meu Deus!

– É como me chamam. Ruby Jane também serve. – Ela brincou.

– O que você...? Ai meu Deus. – Saí do meu estado de torpor e a abracei pela cintura, girando Jennie. – Eu amo tanto você! Você sabia?

– Eu sei! – Ela segurou meu rosto quando eu a coloquei no chão. – Eu também te amo! Achou mesmo que eu ia te deixar sozinha no meio desse mar de vadias?

– Você vai ficar? – Perguntei e a peguei no colo. Jennie estava sorrindo tanto quanto eu. – Quando você chegou?

– Hoje de manhã, passei a tarde toda no quarto esperando você, mas saí para fazer surpresa.

Eu sabia que tinha sentido o cheiro de seus cabelos no travesseiro. Pelo menos eu não estava louca.

Ainda.

Levei Jennie no colo até nossa cama e me deitei ao lado dela. Beijei todo o seu rosto enquanto apertava sua cintura contra mim. Jennie ria enquanto passava a mão pela minha nuca.

– Espera! – Eu disse. – E a faculdade?

– Eu não menti totalmente, eu estava com Min-ho. Ele conhece alguém que conhece o reitor de uma faculdade daqui. Fomos para uma conversa e... Eu posso começar esse semestre!

– Obrigada, Min-ho!

Beijei Jennie, dessa vez com bastante suavidade e carinho. Minha mão passeava pela lateral de seu corpo. Saber que ela estava ali e não iria embora era mais do que eu poderia desejar para uma estrela cadente.

Tudo que eu tinha passado com ela era a realização de um sonho.

Todas as vezes que brigamos, que voltamos, que transamos. Eu não mudaria nada. Porque tudo que fizemos nos fez chegar até aqui, esse momento. Saber que vou acordar ao lado dela todos os dias me fazia feliz.

– Jennie, eu te amo. – Sussurrei em seus lábios, interrompendo o beijo. – Para sempre.

– Eu te amo para sempre, Lalisa.

The heaven between us | JENLISAOnde histórias criam vida. Descubra agora