16. A carta

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Depois que nos tornamos namoradas, as coisas entre Jennie e eu se acalmaram bastante. Hyunjin precisou voltar para o colégio dele, mas não sem antes dar um jeito de fazer Rosé e Jisoo saírem para um date. Parece que sua visita foi só para ser cupido.

Alguns dias depois, mesmo entre beijos e sexo, Jennie e eu conseguimos entregar o trabalho – e tiramos nota máxima! -, então nossa justificativa para andarmos juntas o tempo todo acabou. Combinamos de manter em segredo o máximo possível, a cidade era pequena e a fofoca se espalharia rápido demais.

Alguns dias eram mais difíceis que outros. Durante a semana o dia mais difícil era o de treino das líderes de torcida. Jennie ficava absurda com aquele uniforme, e eu precisava de foco total para não dar um tapa em sua bunda toda vez que ela passava. Já no final de semana, os domingos eram impossíveis, na igreja ela era solicitada o tempo todo e por ser "o dia da família", ela não podia sair. Por isso, quando chegava segunda e ela ia me buscar, a gente sempre transava no carro antes da aula. Eu tenho certeza de que a agonia de domingo à noite era abstinência.

Jisoo dizia que sexo pela manhã fazia bem para saúde e deixava o corpo melhor. Provavelmente ela estava certa, nunca me senti tão bem.

Depois de muito insistir, Jisoo conseguiu convencer Rosé de que não havia mais ninguém além dela, e agora elas eram um casal – apesar da Rosé continuar dizendo ser heterossexual. A gente deixava ela acreditar nessa.

Quando a formatura chegou, Jennie estava absurdamente bonita, era uma modelo digna de uma passarela quando foi buscar o diploma. Aquele dia foi uma tormenta para mim, nos contentamos com um abraço e uma foto.

– Você está ainda mais gostosa, Manoban. – Jennie sussurrou em meu ouvido na hora do abraço. – Se essa gente toda não estivesse olhando, eu já teria te comido tanto que você não conseguiria mexer a perna.

– J-Jennie... – Gaguejei e ela soltou o abraço.

– Parabéns pela jornada! – Ela falou alto para os outros ouvirem. – Foto?

Eu amava a versão dissimulada dela.

Nos encontrávamos bastante na casa da Jisoo. Seus pais estavam sempre viajando e por isso a casa ficava sempre vazia. Era quando eu podia matar toda a saudade de Jennie.

A vida estava indo bem até que uma manhã vi na soleira da porta a carta da faculdade de música.

Dentro daquele envelope estava o destino da minha vida, o que era coisa demais para um simples envelope conter.

Como a boa covarde que sempre fui, não consegui abrir sozinha. E por esse motivo eu estava na casa de Rosé com o envelope em mãos para que ela fizesse isso por mim.

– Lisa, você precisa se acalmar, se continuar andando de um lado para o outro vai abrir um buraco no meu quarto. – Rosé estava sentada na poltrona, apoiando a lateral da cabeça em sua mão. Ela me via andando de um lado para o outro havia cinco minutos.

– Rosie, você entende que é o meu destino aí dentro? – Falei com a voz fina de desespero. – Mais do que isso, meu e da Jennie.

– Eu sei, eu sei. Mas se você tiver um treco agora não vai adiantar de nada essa carta. – Parei de andar e respirei fundo. – Posso abrir?

Assenti com a cabeça. Fechei os olhos, não queria ver a reação da Rosé. Mas abri de novo, pois não conseguia ficar sem saber. Meu Deus, aquele momento não acabava nunca.

Então fechei os olhos novamente quando Rosé começou a ler em voz alta.

– Prezada senhorita Manoban, temos a satisfação de comunicar que... – Rosé parou um momento. – Lisa, você entrou. Parabéns!

Ela se levantou da poltrona e pulou para me dar um abraço. Eu estava chocada demais para falar ou me mexer. Eu tinha entrado na melhor faculdade de música do país. Eu iria para Nova Iorque. Eu...

Eu iria me despedir da Jennie.

Se tudo desse certo e ela conseguisse a transferência, seriam somente seis meses. Isso é muita coisa. E se tudo desse errado...

Fora Rosé, que esteve comigo durante mais da metade da minha vida. E meus pais...

Eu estava tão feliz, mas me sentia tão culpada por estar tão feliz.

– Eu vou visitar você sempre, ok? – Rosé falava animada. – Nova Iorque é literalmente onde se passa Gossip Girl! Você vai estudar no Upper East Side!

– Eu acho que o Central Park fica no meio. – Falei ainda confusa.

– Não importa. – Ela revirou os olhos. – Eu nasci para ser Serena van der Woodsen. E quando você ficar famosa eu estarei em todos os seus shows.

– Seria um recital, talvez um concerto.

– Lisa, você está sendo insuportável! – Rosé colocou as mãos na cintura. – Pode, por favor, curtir o momento?

Eu não conseguia curtir o momento, minha cabeça estava um turbilhão de pensamentos e meu coração um turbilhão de sentimentos.

– Eu entrei? Você leu certo? – Peguei a carta da mão dela. Conferi se era meu nome mesmo, reli umas três vezes para ter certeza.

Eu ia mesmo para Nova Iorque. Será que eu ia colocar um piercing na boca? Ou fazer tatuagens? Será que Jennie gostaria de uma skin rockstar? Skin rockstar no piano... Era só um devaneio mesmo.

Jennie...

– Acho que devemos comemorar. – Rosé falou me dando mais um abraço.

Meu coração doía. Rosé sabia que ficaríamos bastante tempo sem nos vermos, isso também doía nela, mas ainda assim ela estava tão feliz pela minha conquista que nem deixava transparecer sua dor.

– Eu preciso conversar com a Jennie antes. – Falei ainda em seu abraço.

– Ok! E depois comemoração!

– Claro. – Não consegui conter as lágrimas. – Obrigada, Rosé! Por tudo, desde sempre.

– Não precisa agradecer. A ideia é ser sua amiga antes do sucesso para depois surfar na sua onda. – Ela brincou, enxugando as lágrimas teimosas em meu rosto.

Fui de bicicleta até a casa de Jennie e bati na porta. Quando ela me atendeu, viu a carta na minha mão e meu sorriso culpado, ela entendeu tudo. Eu me senti vivendo um déjà-vu, mas dessa vez era eu indo embora.

The heaven between us | JENLISAOnde histórias criam vida. Descubra agora