Capítulo 6 - Emily/Lucy

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— Ele é bem... rústico — digo, procurando palavras. — Eu diria.

— Pessoalmente ele é mais bonito, vai por mim.

Claro, eu acredito em você.

Sarah me olha desconfiada, dou de ombros e faço uma careta. O que ela pode esperar de mim depois de me apresentar o seu novo alguma coisa? Com todos os seus defeitos, Noah era bem-afeiçoado e até nas fotos era visível, enquanto Marcos é uma figura relativamente rústica e de feições brutas que nas fotos não me ajuda a ter uma visão melhor de si.

Tento mudar de assunto, pergunto o que ela vai querer comer e ela mantém o olhar sério.

Não vou te perguntar de novo — repito. — O que você vai querer comer de sobremesa?

— Ok — ela diz, desistindo. — Mousse de ninho com maracujá.

Separo os ingredientes, enquanto pergunto mais sobre Marcos a fim de saber mais sobre ele e como as coisas entre os dois estão fluindo. Eu quero ter uma noção melhor dele para entendê-lo – e cri ticá-lo – e as respostas que tenho são dúbias.

Começo a preparar o mousse e ela conta como o conheceu em uma boate quando saiu com Morgana. Respiro fundo, Morgana sempre se fazendo presente em momentos de caos, e continuo. Depois de colocar tudo na travessa, levo o doce até a geladeira e sento para ouvir o restante da história.

— Então vocês têm ficado desde esse dia da boate? — pergunto, ouvindo um sim.

— Ele é um fofo, bastante esforçado e parece não ter um passado conturbado — ela diz, mas no seu tom paira uma ironia. Contenho a risada, é bom saber que ele não tem um passado problemático para nós não termos que passar de novo pelo episódio do Noah com outro cara. — E ele fala de relacionamento.

Fala?

— Fala.

— Bancando a advogada do diabo agora — digo, desconfiada. — Você tem certeza de que ele é uma opção válida? Quer dizer, você e o Noah meio que acabaram à pouco tempo e você já me aparece com esse que mal chegou e já fala de namoro.

E isso é ruim?

— Sim?

— Por que?

— Olha o lugar que você o conheceu — retruco. E que fique claro que: não tenho problema nenhum com conhecer alguém em uma noitada, mas acho que um "amor de fim de noite" muito raramente se torna um amor para além disso. — E você ainda não se recuperou 100%, ou se recuperou?

— Não quero responder.

É sobre isso que estou falando — reitero. Eu não julgo o seu desejo, julgo aonde ela está indo atrás de saciá-lo, pois onde ela conheceu Marcos? Para começo de conversa, foi em uma noitada com a Morgana e só por isso já consigo dizer que o dito-cujo não é alguém que eu olharia com bons olhos. E a desnaturada já se perdeu na personagem, embora vez ou outra ela fale umas coisas lúcidas. — Eu amo a Morgana, mas às vezes ela parece viver outra realidade e faz coisas que beiram a loucura. E o problema sequer é esse, eu diria que o problema é o fato de que ela nos joga em situações insalubres sem o menor consentimento tornando tudo um jogo.

Ah, para — Sarah diz. — Não é assim também.

— Ah, mas é sim. Acho que só você não quer ver — retruco.

Nós nos dirigimos para o seu quarto, ela me manda deitar e pega a sua pinça para tirar o excesso das minhas sobrancelhas. É rápido, não tem muitos pelos e o breve momento de silêncio serve para refletirmos sobre o que acabamos de conversar a pouco.

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