Capítulo 16 - Amanda

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Até que essa brincadeira não está tão ruim.

Eu aceitei receosa, mas confesso que estou me divertindo. A sensação é familiar, me lembra das coisas que eu fazia na internet quando eu era mais nova e sinceramente, às vezes me pego pensando que não sou tão ruim quanto essa piranha da minha prima.

Quero dizer, eu entendo o seu lado e tudo mais, mas ainda assim, se vingar assim? Hm... melhor não entrar no assunto, acho que tendo em vista o meu gênio, faria igual ou pior dependendo da merda que ele me fizesse.

Hoje ele está tentando me convencer a ir à sua casa e bom, estou jogando o jogo e dando esperança de que irei. Algo deve ter acontecido, julgo baseado no fato de que ele decidiu mudar sua abordagem atual e sugerir fazermos alguma outra coisa que não fosse ir na sua casa hoje.

Em paralelo a essa conversa com ele, converso com Vicky a deixando informada do que estamos por fazer – se é que vamos – e ela ri.

Vicky: agora deixa ele de molho

Respondo que tudo certo e voltamos a brincar do que ele pretende fazer, normalmente funciona por ser previsível. Quer dizer, não que normalmente ler um homem seja tão fácil, mas o seu modo de agir para com qualquer mulher que ele está interessado é igual para todas – eu e Vicky.

O sábado estava um saco aqui em casa, os meus pais estavam se preparando para ir em algo da igreja que eles congregam e eu definitivamente não queria ir – sabe como é, manter minha pose de filha desviada deles. – Então mesmo que eu não vá à casa do Felipe para ser a comida, ainda pretendo sair e como manda o script de Vicky, depois que eu confirmar para ele que vou sair com ele, iremos sair.

Ela diz que devo respondê-lo agora e eu faço.

Vicky: "que fofo ele gente

vai pagar o uber p você

acredita priminha?

um anjo, né?"

Eu não tenho muito o que achar, na verdade. Para mim, ele parece empenhado porque não lhe dei o que ele queria e é o que acontece quando você fica provocando sem a intenção de ir até o fim. No entanto, se fosse o caso de eu estar ficando com ele mesmo, pagar o meu Uber era o mínimo e não preciso explicar o óbvio.

Respondo-o logo em seguida que assim que eu terminar de fazer o que estou fazendo aqui, o mando mensagem e ele pede o meu Uber.

Pergunto se Vicky está feliz e ela diz que sim.

Vicky: o que quer fazer?

Respondo o óbvio que é que eu quero sair e ela me responde da maneira mais grossa possível.

Vicky: "avisa ai a tia que vamos tomar um açaí

e ir no cinema

não quero os seus pais reclamando que estou te levando pro mal caminho

como se você precisasse de mim p isso"

Apareço no quarto dos meus pais e aviso minha mãe que vou sair com Vicky de novo para que ela se lembre disso e depois não me venha reclamar que eu saio sem avisar com a desmiolada e só apareço depois que ninguém mais quer.

— Eu vou sair com a Vicky, mãe — aviso, de novo. — A senhora se lembra, né?

— Lembro — ela responde. — Vocês vão onde? Com quem? Voltam que horas?

— Vamos tomar um açaí no shopping e vamos só nós duas — respondo, evitando entrar em detalhes. — Eu acho que antes de 00h eu tô em casa-

— 00h? — ela retruca, quase gritando. — E isso é hora de se chegar em casa?

É, uai — respondo.

— Menina malcriada — ela diz, quase gritando. — Não foi essa a educação que eu te dei.

— Sim, mãe — digo, em tom mais calmo. — Eu sei, mas eu tô dizendo que vou sair com minha prima e vamos no shopping tomar um açaí. Quem sabe vamos no cinema também, eu não sei, por isso que estou dizendo que eu acho que 00h eu chego em casa.

Ela resmunga algo e meu pai não diz uma palavra, os dois ainda detestam Vicky por conta do flagrante que estava comigo que ela assumiu, mas não me impediam de andar com ela porque tinham a esperança de que eu a levasse para o bom caminho.


O açaí está ótimo.

Vicky pede uma garrafinha de água e volta para o seu também.

A noite está confortavelmente atraente, o sábado cheira a malícia e estamos por aqui, pois em tese, tudo pode acontecer.

— Mas e como anda o coraçãozinho dessa safada de pequeno porte? — Vicky pergunta, com calma. — Ainda tá dentro do meu joguinho?

— Ele tá bombeando sangue, agora se você perguntar...

Eita!

Cai na risada e respondi a bendita pergunta.

Eu não estava tão interessada em alguém, tinha deixado alguns contatos de lado para evitar estragar a diversão. Contudo, aquele amigo do Felipe até que era bonitinho – acho que é Henrique o nome dele – o problema era que eles eram amigos.

— Ah para — ela riu. — Você ficou de olho no amigo dele?

— Sim, por aí — digo.

— Melhor ainda.

— Oi?

— Por que depois que saturar de brincar com ele, não investe no seu amigo?

— Às vezes, eu não sei se te amo ou se te odeio — digo, séria. — Filha da putisse tem limite, Vicky.

— Ah, para — ele repete. — Até parece que você se importa com isso. Não se faça de sonsa, querida. Eu te conheço não é de hoje, agora que você decidiu que é decente?

— Eu sempre fui-

Ela ergueu a sobrancelha, indignada e eu mantive o olhar séria nela.

— Quando você fez o inferno na vida do... como era o nome dele mesmo? — e estalou o dedo. — Era Cael, né? Ele e o irmão dele, o Caio.

Arregalei os olhos, ela realmente estava desenterrando esses nomes justamente agora? Para quê? O passado nunca era passado com essa peste! Que inferno.

— Não se faça de esquecida, Mandinha — e a praga ainda ri. — Eu lembro da situação, você brincou e no fim, depois que eles começaram a se odiar, você saiu da situação como a vítima da história. Poupe-me do drama, eu só estou te sugerindo algo. Se você não quiser fazer, tudo bem, é só não fazer e pronto.

— Tá, tá, tá, eu entendi — respondo, acabando o assunto.

Sinceramente, tem coisas das quais eu já fiz que eu não me orgulho de ter feito e ela relembrar assim me deixa desconfortável, mas que ótimo que ela disse que não preciso fazer isso com eles. Não gosto muito da ideia de ser o motivo do fim de uma amizade, nem que seja em tom de sugestão, quando fiz aquilo com eles, eu estava em um momento muito caótico da minha vida e queria validação a todo custo.

— O que vamos fazer agora? — Vicky pergunta.

— Não sei.

— Ficou triste com o que falei?

— Não.

— Hm... sei — ela diz, fazendo careta e eu não digo muita coisa. — Vamos ao cinema. Ainda deve dar para a gente assistir algo, eu pago.

— Ok.

E fomos.

— Feliz agora? — ela pergunta, enquanto nos ajeitamos nas poltronas para ver X-Men: Fênix Negra.

— Sim!!! Muito — respondo, enérgica. — Obrigada por me trazer para assistir.

— Sim, certo. Agora cale a boca e assista — ela solta, de graça e eu rio, me calando.

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