“Usted y yo no vemos las cosas como son. Vemos las cosas como somos”
"Você e eu não vemos as coisas como são. Vemos as coisas como somos"
- Henry Ward BeecherRamiro pensou e repensou no que devia fazer, seu Kevin’ tinha lhe dito tantas coisas, “covarde”, “hipócrita” “sem atitude” “senhor perfeito”. As frases rondavam sua mente e apertavam seu coração de par em par.
Esse era o mesmo Kelvin que dizia que ele era um homem maravilhoso, honesto e trabalhador? Qual das versões de Kelvin estava certa?
O preto estava machucado, estava dolorido, mas não podia deixar de pensar que talvez essa última versão tivesse toda a razão.
E se na verdade Ramiro nunca pudesse mudar? Se seu destino estivesse fadado a dar errado? a levar culpas de outros? a nunca conseguir que alguém o achasse bom o suficiente para ficar ao seu lado?
Afinal, ele não era tão bom assim, nunca tinha sido, por que achava que podia ser?
E não é que ele não quisesse, talvez só não era para ele. Talvez amar e ser amado não era para ele.
Mas ele amava mesmo assim.
O nó em sua cabeça só não era tão grande quanto o da sua garganta, o aperto nos olhos, evitando suas lágrimas de cair, só era menor que o de seu coração.
Luana, Rodrigo e Caio tinham seus próprios problemas, Ramiro sabia, por isso não ligou para nenhum deles. Além do mais ele se conhecia, a única que o podia consolar era sua velha amiga, a bebida.
E ele bebeu, bebeu desde que o sol estava no meio do céu até ele se esconder, e depois, continuou.
Riu, chorou, ouviu música, ouviu o silêncio e as próprias batidas de seu coração. Essas batidas pareciam incompletas, quase quebradas, quase vazias.
Seu coração batia pelo de alguém que talvez o queria, mas não o suficiente para ouvi-lo.
Só que era diferente para ele, ele o amava.
Kelvin se considerava dono e detentor de toda intensidade, de toda instabilidade, mas enquanto dormia, quase tranquilo, Ramiro misturava a própria intensidade numa bebida barata, numa escrita básica, num choro contido, num canto desafinado e apenas por uma vez, numa ligação não atendida.
O preto acabou dormindo em seu sofá, como a primeira vez que Kelvin esteve ali, abraçado numa almofada com o cheiro do loiro, coberto por uma manta da cor dos olhos dele, embalado numa luz matinal que começava a invadir, mas não a iluminar como ele fazia.
No dia seguinte acordou mais cansado do que considerava possível, a ressaca não era a mesma de sendo um 30+, mas aparentemente a dor de um coração quebrado sim.
As palavras do loiro continuaram rondando sua cabeça e umedecendo seus olhos por algumas horas, mas o que Kelvin tinha acordado em Ramiro não era passageiro.
Sim, se sentiu culpado pela briga, porque entendia que tinha tido atitudes que respaldavam a de Kelvin, mas tinha certeza que não merecia tudo o de negativo que lhe tinha sido dito. Também tinha certeza que não fugiria e não ficaria simplesmente remoendo seus próprios pensamentos e tristezas.
Resolveu fazer alguma coisa para se sentir útil, sua mãe sempre achava engraçado como ele amava alguns processos que a maioria das pessoas detesta, como se sentir útil o fazia se sentir… bom, vivo.
Quando o pequeno Ramiro se sentia mal, amava limpar a casa, esfregar cada canto como se sua vida dependesse disso, mexer móveis de lugar, reorganizar estantes inteiras, lavar paredes, tetos e qualquer superfície que achasse que não era suficientemente branca, polida ou brilhante.
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Duas vidas, dois mundos
FanfictionOnde Kelvin precisa começar de novo, mais uma vez, agora do outro lado do oceano. Mas a vida vai lhe fazer entender que não importa o recomeçar, o que te faz ser quem você é, não pode ser deixado para trás. Ou Onde Ramiro quer finalmente ir embora...