Capítulo 15: Deixa pra lá

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“Se eu fingir que eu não te quero talvez um dia isso vire sincero” - Diego Martins

Mais um sábado que tinha virado, como diziam na Espanha, uma terça feira 13.
As lágrimas ainda rolavam no rosto de Kelvin quando ele chegou em seu prédio, agradeceu o motorista e subiu rapidamente até seu apartamento.

Mais uma vez o caos estava instaurado, sua casa era um desastre e de sua vida não era necessário nem falar.

Kelvin sabía que não devia ter se envolvido tanto, tinha sido tão idiota de sua parte depositar tanta confiança em alguém que apenas conhecia.

Ramiro estava apenas usando-o esse tempo todo, estava claro para Kelvin, ele só não tinha querido perceber antes.

Mas o que ele esperava? Que o homem fosse mudar tudo o que era simplesmente por ele?
Covarde! Pensou, querendo socar sua cama.
Ramiro era covarde e ele imbecil por não querer aceitar.

O preto nunca poderia ser a calmaria que Kelvin queria, porque eles eram errados demais pra isso. Ramiro era o rasgado do seu descosturado, duas pessoas pela metade querendo se completar no outro, isso nunca daria certo e só um tolo pensaria que poderia dar.
E Kelvin podia ser o que fosse, mas não era tolo.

O loiro trocou de roupa como pôde e se enterrou em sua cama, que apesar de ser pequena parecia enorme para apenas seu corpo.

Chorou até sentir que não tinha mais lágrimas, até que sua alma tinha secado, até não ter mais vontade, até não ter mais forças, até adormecer.

Ramiro não entendeu o que tinha acontecido, mas pensou nas palavras de Kelvin com dor, cada uma delas o atingia como uma faca, profunda, afiada, destruidora.

Ele tinha mentido para Antônio, e na sua cabeça isso era óbvio. Se bem Kelvin estava ansioso com o desenrolar de toda a situação com Ademir, era Ramiro quem tinha sua carreira em jogo e mesmo assim, o preto pensou mais em Kelvin no que nele mesmo ao contar aquela mentira.

E em resposta Kelvin o tinha acusado de muitas coisas.
Ele sabia que algumas delas eram baseadas em atitudes que tinha tido no passado, mas estava se esforçando, estava indo fundo em si mesmo, estava mudando.

Fazia tempo demais ele queria melhorar, e tinha começado esse processo antes que o loiro chegasse, mas a força que Kelvin passava, a certeza que o loiro tinha, foram um catalisador para sua vontade.
E agora, Kelvin tinha usado toda essa certeza, toda essa força para machucá-lo.

O loiro sequer tinha gastado meio minuto em ouvi-lo. Justamente Kelvin, o senhor “tem que perguntar as coisas quando não entende” e “não pode fugir eternamente dos problemas” tinha simplesmente entendido errado e fugido.

Hipócrita! Pensou Ramiro enquanto dirigia de volta pra casa, sentindo lágrimas se formar ao ver a mochila do loiro no banco de trás. Kelvin era hipócrita e Ramiro era idiota por estar perdidamente apaixonado por ele.

Ele sabia que era por isso que você não pode depositar toda sua fé em uma pessoa, porque quando ela vai embora, você fica sem nada.

— — —

Tinham se passado apenas doze horas da briga, mas um Ramiro bêbado ouvia Maria Bethânia e pensava em como já sentia falta de Kelvin.

Do cheiro do rapaz, do corpo pequeno colado ao seu, do som da sua risada, do brilho dos olhos que o encaravam, das pequenas manchinhas café esparramadas pela sua pele, dos reflexos vermelhos que seu cabelo tinha na luz do pôr do sol.

Ele teria dado o mundo inteiro nas mãos dele, ele daria sua casa, seu emprego, sua vida, tudo o que Kelvin quisesse. Porque antes de Kelvin as risadas não eram tão barulhentas, as noites não eram tão tranquilas e a vida não era tão feliz. 

Duas vidas, dois mundosOnde histórias criam vida. Descubra agora