Capítulo 9

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Amar apenas um

Megumi

O dia amanheceu com um gosto amargo de culpa em minha boca. Devo estar no estado em que me coloco como alvo de todos os xingamentos e saboto minha própria imagem sem ajuda de ninguém.

Piso no chão sentindo o tamanho da inferioridade de meu ser. Vejo o relógio na parede, sinalizando que são 11 horas. Meus cães parecem preocupados comigo, o que apenas me deixa ainda mais infeliz por eles.

— Sinto muito, meninos. Não vamos passear hoje — digo, acariciando suas cabeças. A palavra "passear" parece deixá-los com ânimo, mas quando percebem que não peguei as guias nem calcei os tênis, compreendem que não vão sair.

Eles me acompanham até a cozinha, claramente estão com fome. Pego dois copos de ração e preencho suas tigelas até o topo, reparando por fim na caixa de cocô cheia, cujo odor ruim já se espalhava pelo apartamento.

Yuji faz realmente muita falta. Penso, suspirando.

Em que momento eu comecei a me apoiar totalmente nele para cumprir as tarefas de Nescau e Cereal?

Yuji trabalha por oito a dez horas todos os dias na academia Power & Muscle, muito requisitada em Shinjuku. Por ter clientes vips, serve como instrutor pessoal nos finais de semana, cobrando valores que possam manter esse apartamento e as contas em dia. Ele cuida da casa, passeia com meus cães e ainda cozinha. E eu...

Minha memória parece me sabotar ainda mais. O que eu faço?

As longas horas de estudo na mesa da cozinha me deixam um pouco perplexo. Sei que dou meu máximo para manter as notas altas, fazendo projetos que possam impressionar meus professores que planejo escolher para a banca. Mas o que eu faço para ajudar o Yuji agora?

O peso da responsabilidade saiu de minhas costas há muito tempo, percebo. Yuji se dedica a mim em tempo integral, sem nunca reclamar. Enquanto eu estudo, ele sempre faz silêncio, permitindo que minha mente vá o mais longe possível nos cálculos. Quando me estresso com algum projeto, ele me oferece castanhas. E quando me sinto um inútil, ele me conforta.

Que falta Yuji faz.

A saudade aumenta a cada minuto que encaro o relógio e a preocupação me invade.

Envio novamente mensagem para Yuta, pedindo que me informe se ver o Yuji. No entanto, noto pela resposta vazia que ele encontrou o Yuji e, como grandes amigos, optou por manter em silêncio sua localização. Disse-me apenas que estava tudo bem e que ele iria voltar para casa em breve.

Até mesmo Inumaki, que não sabia de nada, mudou o rumo da conversa quando perguntei se Yuji estava na academia.

Nessas horas me arrependo de não ser tão sociável quanto meu namorado é.

Se eu fosse um pouco mais legal, como o Yuji, as pessoas abririam seus corações pra mim e eu saberia onde ele está.

Provavelmente, se eu fosse até a academia, Yuta e Inumaki dariam um jeito de me barrar para que Yuji pudesse ficar em paz. E isso, definitivamente, não era um constrangimento que eu gostaria de passar.

O dia rolou da mesma maneira que o interior. Precisei comer alguma coisa, senão ia cair duro na sala e meus cães iriam despertar o prédio inteiro com uivos de lamento.

Foi por volta das 15h que escutei passos no nosso andar e me atirei à porta, abrindo-a sem pensar duas vezes.

— Yuji! — digo esperançoso, por fim percebendo que não é ele. É Gojo.

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