Capítulo 18 pt 3

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A Técnica do Desastre (parte 3, fim)

Nobara

Quando os adultos dizem que numa amizade você não deve temer seu melhor amigo, na maioria das vezes esse conselho está certo. Mas no meu caso, eu sei que, quando eu sinto medo da Maki, é porque eu estou errada nessa história. Minha situação não é diferente da de uma criança que é flagrada pela mãe pintando a parede de casa com um batom caro que ela passou meses folheando uma revista para tê-lo. E, logo, minha reação não poderia ser outra, senão vergonha e perplexidade.

Maki não foi embora. Ela me esperou. E pior, ela viu tudo que aconteceu.

Engulo em seco, afastando os arrepios que sinto fluir pelo corpo.

— Maki, você ainda está por aqui! — digo em um tom amigável, na tentativa de disfarçar, mas meu pânico se revela na voz trêmula. — Pensei que já tinha ido para casa, amiga.

— Eu nunca vou pra casa primeiro. Você sabe disso. Me pediu pra te acompanhar desde o ano passado, lembra? — Ela ressalta nosso acordo, que me desmoraliza completamente. — Pelo visto esqueceu de que eu estava te esperando, né.

— Não, eu... ah, me desculpe! — Me dou por vencida, os ombros curvados para baixo e as mãos unidas, implorando misericórdia.

Maki suspira.

— Entendo... Eu também ficaria assim se tivesse a boca do Megumi no meio das pernas.

Arregalo os olhos.

Ela viu até isso?!

— V-você viu? — pergunto, sentindo o chão faltar abaixo dos meus pés.

Minha amiga estala a língua, sustentando um olhar extremamente decepcionado.

— Achei estranho que você demorou, então pensei que estivesse chorando mais do que deveria e fui ao seu encontro. Mas, nossa, você nem precisava de mim, afinal. Deu um jeito de se confortar sozinha. Até porque ter um homem comprometido é ótimo para afogar as mágoas, não é?

Meu estômago embrulha e começo a suar gelado.

Ela descobriu tudo.

Minha paixão por Megumi nunca foi algo que deixei as escuras. Na verdade, Maki foi a primeira pessoa a desconfiar dos meus sentimentos por ele, além de ser a responsável por me colocar na linha todo esse tempo, sempre me incentivando a me declarar pelos meios certos.

Entretanto, quando Megumi começou a namorar Yuji, Maki me recomendou a superar esse sentimento. Eu, claramente, fiz o contrário.

Maki é prima de Megumi, um dos principais motivos de eu ter me aproximado dela quando a conheci no ensino médio — apesar de descobrir logo em seguida que Maki foi criada muito distante da família Fushiguro, por pais muito complicados que estavam em processo de divórcio. Maki não sabia nada sobre Megumi ou sobre sua família, mas nos tornamos amigas mesmo assim. Eu conhecia o temperamento forte e impiedoso de Maki. Sobretudo, eu conhecia o quão doloroso foi para ela o divórcio de seus pais.

E seus pais se divorciaram por causa de traição dentro do casamento.

Eu sou, definitivamente, a última pessoa que ela gostaria de ver traindo alguém. Ou, neste caso, fazendo Megumi trair Yuji.

— Maki, você não entende! — falo de antemão, sem saber ao certo por onde começar.

— O que não entendo? Me fala, Nobara, o que não entendo? Não entendo sua insegurança nesse curso, se matando em meio às cobras para seguir numa carreira que só te faz mal, ou sobre o ensaio fotográfico que você escondeu de mim?

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