Capítulo 23

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O Segredo de Megumi

Nobara

A missão que me foi dada foi bem simples: ir até a casa de Megumi e descobrir tudo que for preciso sobre seu pai. Além disso, eu não devia arriscar. Devo fingir que sou apenas uma colega de sala idiota que está passando por ali e nada mais.

Gojo fez seu papel. Na semana seguinte, depois da aula de matemática, ele passou uma tarefa tão difícil que fez a turma inteira chorar. Megumi parecia tranquilo. Afinal, ele brincava com números e encontrava as soluções como um verdadeiro gênio.

No mais, eu me agarrei a ele no final da aula e implorei por ajuda.

Megumi conhecia minha vida como um livro e não cogitou a opção de estudarmos na minha casa. Como uma boa atriz, neguei todos os lugares possíveis, como cafés, parques e bibliotecas, usando como desculpa minha falta de atenção em lugares com mais pessoas — o que não é totalmente mentira; com um mínimo de distração eu começaria a desenhar roupas em vez de focar nos números.

Finalmente, depois de muita insistência, Megumi cedeu, levando-me até sua casa.

A princípio, imaginei que a situação dele fosse semelhante à minha. Pensei que ele morasse num barraco, tivesse um pai alcoólatra e que o gato da vizinha sempre fizesse suas necessidades ao lado da janela de seu quarto. No entanto, me deparei com algo completamente diferente. Megumi vivia em uma mansão de estilo japonês, idêntica às que eu via nos filmes de yakuza que assistia à meia-noite. Ele não tinha servos, mas a casa era extraordinariamente bonita, com um jardim impecável e paredes finas.

— Pode entrar.

Ele retirou os sapatos na entrada e abriu caminho.

— Desculpe a intromissão — falei, impressionada com tudo ao meu redor.

Seguimos descalços pelo corredor de madeira magnificamente ilustrado.

Na casa de Megumi não havia qualquer retrato nas paredes, nenhum sinal de um lar amoroso. Parecia apenas uma casa de estilo minimalista. Era fácil imaginar um corretor de imóveis vendendo-a rapidamente, com os novos proprietários chegando com toda a mobília necessária.

Passamos por várias portas e, por fim, nos instalamos na sala principal, com vista para o jardim dos fundos, regado por um pequeno córrego que sumia por trás do muro. A brisa fresca balançava suavemente um enfeite suspenso na lateral do teto: uma bola de vidro cercada por flores de glicínias, segurando em seu centro um pequeno cristal brilhante unido a um fio vermelho.

Era um detalhe um tanto feminino demais para uma casa onde não vivia nenhuma mulher.

A sala era silenciosa, contendo apenas uma mesa e almofadas quadradas. Havia um único retrato na parede, pintado de forma que nunca entendi. Parecia que alguém tinha vomitado nele e, de algum modo, vendido para alguém rico e idiota – no caso, o pai de Megumi.

Sério, de tantas opções, ele escolheu logo essa bosta para enfeitar a sala?

— Vou preparar um chá pra gente. Me espere aqui, por favor — disse Megumi, sumindo por trás da porta.

Esperei até que ele estivesse longe o suficiente para começar a explorar a casa.

Eu ansiava em encontrar algum papel com informações sigilosas, um cofre secreto por trás do retrato, quem sabe uma passagem secreta no chão... mas não havia nada disso.

A vida não é como os filmes e isso me entristece.

Quando Megumi retorna cinco minutos depois com um conjunto de chá numa bandeja, disfarço minhas intenções me jogando no chão e fingindo estar com calor.

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